Militantes antifascistas gregos presos quando se manifestavam em Atenas contra as práticas do partido fascista Aurora Dourada foram torturados na Direcção Geral de Polícia, em Atenas, sofrendo sevícias como as que sofreram os detidos em Abu Ghraib, no Iraque. As denúncias foram feitas em Atenas pelos advogados e pelas próprias vítimas.
As vítimas exibiram as provas das violências sobre elas cometidas pelos agentes da Diretoria Geral de Polícia (GADA) em Ática, na capital grega. As sevícias incidiram sobre cerca de 40 pessoas, 15 presas inicialmente durante a manifestação contra o grupo nazi, que terminou em confrontos, e 25 que no dia seguinte se manifestavam contra a detenção dos companheiros.
Os detidos descreveram uma grande variedade de práticas violentas tanto físicas como psicológicas cometidas pelos agentes da polícia e denunciaram que algumas se inspiraram nas descrições do que soldados norte-americanos de ocupação fizeram contra resistentes iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Revelaram que foram esbofeteados e espancados por um agente enquanto outros olhavam, foram cuspidos e "usados como cinzeiros" porque "fediam" e obrigados a ficar acordados durante toda a noite com lâmpadas, tochas e lasers incidindo continuamente nos olhos.
Alguns acrescentaram que foram queimados nos braços com isqueiros e que agentes da polícia os gravaram em vídeo com os próprios celulares ameaçando divulgar as imagens na internet e entregá-las também ao Aurora Dourada.
O jornal britânico Guardian tem revelado casos em que a polícia aconselha pessoas a procurarem auxílio suplementar junto do Aurora Dourada, sobretudo quando se trata de "questões com imigrantes", em troca de contribuições para os neonazis.
Uma das mulheres detidas revelou que agentes a insultaram com termos sexuais explícitos de grande violência enquanto outros lhe puxaram a cabeça pelos cabelos para impedir que se recusasse a ser filmada durante os interrogatórios.
Um outro detido revelou que apesar de sofrer uma forte hemorragia devido a uma ferida na cabeça e de ter um braço partido continuou a ser espancado dentro das instalações policiais enquanto lhe foi recusada assistência médica até à manhã seguinte. Outro foi forçado a abrir as pernas para que outros agentes o agredissem nos testículos.
"Cuspiram-me e disseram que havíamos de morrer como os nossos pais na guerra civil", acrescentou o mesmo detido. Um outro revelou que foi atingido por um taser na espinha dorsal quando tentava fugir. A marca ainda é visível. "É como um choque elétrico", descreveu; "as minhas pernas ficaram paralisadas durante alguns minutos e caí. Depois, prosseguiu, "algemaram-me atrás das costas, começaram a pontapear-me nas costelas e na cabeça". O jovem descreveu ainda que foi obrigado a levantar-se puxando-o pela corrente das algemas e o seguraram pelo queixo enquanto vários agentes o esmurravam.
Membros do grupo de manifestantes detidos por se solidarizarem com os companheiros foram humilhados nas instalações policiais, despidos e obrigados a curvar-se em frente de todas as pessoas que estavam presentes. "Fizeram o que quiseram conosco", declarou um deles ao jornal britânico The Guardian.
"Esbofetearam-nos, bateram-nos, exigiram-nos que não os olhassemos, que não cruzassemos as pernas", disse. Na presença deles, o agente atendeu o celular e foi dizendo "estou trabalhando, surrando-os, surrando beem". No fim, quatro foram acusados de "resistência à detenção". "Foi um dia do passado, do tempo da Junta dos coronéis", comentou um deles.
Colocado perante os fatos pelo jornal britânico, o porta-voz da polícia grega, Christos Manouras, respondeu que "não houve uso da força por agentes da polícia contra ninguém nas instalações da GADA". Explicando que os responsáveis "averiguam e investigam em pormenor todos os relatos sobre uso de violência", o porta-voz rematou que "não existem dúvidas de que a polícia grega respeita sempre os direitos humanos e não recorre à violência".
Dimitris Katsaris, advogado de quatro dos detidos, afirmou que os seus clientes sofreram humilhações do "tipo de Abu Ghraib". Explicou que "isto não foi apenas um caso de brutalidade policial do gênero dos que temos ouvido falar em todos os países europeus, agora e sempre; isto está a acontecer diariamente; temos as fotografias, temos as provas do que acontece às pessoas presas por protestarem contra o aumento de influência do partido neonazi na Grécia. Isto", acrescentou, " é uma nova face da polícia, com a colaboração do sistema judicial".
Fonte: Diário Liberdade
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