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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Lúcia Poço, operária comunista: sua luta não foi em vão - Portal Vermelho

Lúcia Poço, operária comunista: sua luta não foi em vão - Portal Vermelho

Em 1982, trinta anos atrás, no mês de setembro, faleceu, com apenas 27 anos de idade, a combativa, lúcida, ousada e corajosa militante comunista da capital de São Paulo. Nascida de uma família operária em 18 de maio de 1955, Maria Lúcia Poço começou a trabalhar aos 12 de idade e aos 17 já militava no movimento operário.

Por Joel Batista*


Arquivo pessoal
Lúcia Poço Lúcia Poço, uma vida em defesa dos direitos dos trabalhadores.
Na época iniciou sua militância na Juventude Operária Católica (JOC), entre os anos 1972/75. Em 1975, aos 20 anos, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (naquele tempo, Lúcia morava na zona leste da capital, no bairro Burgo Paulista) e se incorporou ao PCdoB junto a mais outros tantos operários que adentraram nas fileiras comunistas.

Participou ativamente da luta pela queda do regime militar atuando nas mais diversas frentes. Lutou ao lado do movimento contra a carestia, da campanha pela anistia, do movimento de mulheres. Teve grande atuação classista por meio da oposição sindical da categoria metalúrgica de São Paulo. Foi uma das organizadoras do 1º Congresso da Mulher Metalúrgica, realizado de 31 de agosto a 2 de setembro de 1979, fato marcante na época, que contou com a presença na mesa da recém-anistiada política e ex-guerrilheira do Araguaia, Elza Monerat.

Lúcia foi uma das oradoras, em outubro deste mesmo ano, na assembléia que reuniu seis mil tabalhadores(as) na Rua do Carmo, quando foi deflagrado o início do movimento grevista que duraria onze dias. Era operária da Telefunken e fazia parte do comando de greve. Junto com seus companheiros, enfrentou uma intensa repressão policial, ocasião em que ela e centenas de grevistas foram presos nas portas de fábricas. Nesta batalha foi assassinado o operário Santo Dias da Silva, na porta da empresa Silvanya, zona sul da capital.

Amigos de Lúcia contam que um fato é inesquecível entre outros tantos: onze pessoas distribuíam panfleto de apoio ao movimento grevista na porta de determinada empresa quando o comando policial repressor e autoritário as abordou e queria levar duas pessoas para a delegacia: Lúcia e os companheiros tomaram, por solidariedade e união, a seguinte decisão: “já que é assim, vamos todos nós!”. O comandante policial não gostou mas pediu outra viatura e lá se foram para a delegacia...

Os anos 80

No biênio 1980/1981, Lúcia Poço foi presidente do Centro de Cultura Operária (CCO), entidade que funcionava no bairro Bela Vista e que era frequentada por operários, lideranças do movimento popular e intelectuais.

Na avaliação de dirigentes partidários da época, Lúcia era considerada a principal dirigente mulher e operária nesta fase, entre o final dos anos 70 e início dos anos 80. Fazia parte do secretariado do comitê municipal do PCdoB, ainda no período da ilegalidade, que só se tornaria legal a partir de 1985, quando foi derrotado o regime militar instaurado em 1964.

Conheci Lúcia Poço no início de 1981, quando as direções nacional, estadual e municipal do partido se empenhavam em fazer uma abordagem política concreta junto aos metalúrgicos da capital, em torno do documento “Por um Movimento Operário Combativo, Unido e Consciente”. Fruto deste debate viria a ser constituída a corrente sindical classista nos metalúrgicos denominada União Metalúrgica.

Lúcia teve um papel destacado na discussão com a militância em torno deste documento e do debate de idéias que o acompanhou, interna e externamente. Nas eleições para o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo em 1981, a União Metalúrgica constituiu e organizou a Chapa 3, tendo como candidato a presidente o então deputado federal Aurélio Peres, que era ferramenteiro da fábrica de bicicletas Calói, região de Santo Amaro. Também fiz parte desta chapa, que não foi vencedora, mas jogou grande papel no debate político e de idéias com a categoria, que ajudou o sindicato a avançar e melhorar a relação sindical com os metalúrgicos paulistanos.

Em 1982, infelizmente, Lúcia veio a falecer, muito jovem, de um câncer estomacal. Nesta fase difícil, apesar de ter passado por operação cirúrgica, mas por espírito aguerrido, participou de assembléia de campanha salarial do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, no cine Roxi, no Brás. Mesmo estando em dificuldades físicas, participava ao lado de sua classe. Vencida pelo câncer, a combativa militante faleceu em 18 de setembro de 1982.

Combatividade


Apesar de enfrentar as agruras da doença, Lúcia jamais deixou de cumprir suas tarefas no partido durante a enfermidade e enfrentou de forma digna sua doença até o final. Era comovente vê-la na Praça da Sé, em meados de 1982, em comícios de protestos contra o regime militar e anticapitalistas, usando lenço na cabeça, por causa da quimioterapia, mas sempre altiva e animada.

Seu corpo foi velado no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Na hora de seu sepultamento os presentes bradavam “companheira Lúcia você está presente !”. Para o cemitério afluíram seus muitos parentes, mas também uma grande quantidade de pessoas que a família de Lúcia não conhecia: eram sindicalistas, gente dos movimentos populares, líderes estudantis, religiosos, dirigentes partidários e parlamentares que, em sua grande maioria, eram militantes do PCdoB, partido que ainda não tinha atuação legalizada. Fizeram nesta homenagem derradeira muitos elogios, ressaltando a trajetória curta, porém de muita responsabilidade nas lutas que travou como militante e dirigente comunista em defesa dos ideais maiores da classe e do povo.

Foi neste momento especial, ímpar, de grande emoção e solidariedade que seu irmão Gregório Poço (que em 1997 se tornaria presidente do sindicato dos condutores de veículos de SP e hoje presidente do CMTC Clube) decidiu, junto com seu pai Roque Poço, a se filiar ao partido, convencidos que a partir daí carregariam a bandeira socialista e comunista de luta que a irmã e filha tinha carregado com muita honra.

Camaradas, amigos, democratas, intelectuais progressistas, trabalhadores em geral: precisamos resgatar nossos valorosos combatentes, como é o caso de Maria Lúcia Poço, como exemplo de espírito de luta, companheirismo, coragem e defesa das ideias avançadas. Para que no presente e também no futuro se conheça a trajetória da militante consciente que foi Lúcia Poço.

Maria Lúcia Poço: nossa homenagem, nossa saudade. Sua luta não foi em vão! Você está presente!

*Joel Batista é membro da Secretaria Sindical Nacional do PCdoB, é metalúrgico ferramenteiro, diretor executivo da Fitmetal – Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil.

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