Harmonizar
lutas de ideias, de massa e eleitoral no PCdoB de hoje
Parte 2
Paulo
Vinícius Santos da Silva
Secretário Sindical do Distrito Federal e membro da Comissão
Sindical Nacional
Sempre há uma solução simples para um problema complexo.
Geralmente errada. (Anônimo)
Lutas de ideias, social e político institucional eleitoral a
serviço do Projeto Partidário
Ante um momento sem receitas, e ainda de defensiva estratégica, mas
com a luta pelo socialismo ressurgindo, o PCdoB articula três
frentes de acumulação de forças dessa época - luta de ideias, de
massas e eleitoral-institucional. E a Tese afirma um pilar
fundamental a perpassar toda a ação dos comunistas: o
fortalecimento do Partido.
As três frentes unidas ao signo do projeto estratégico – o
Partido - são achados da inteligência coletiva. A inédita duração
do atual período democrático, exige-nos conquistar um eleitorado
próprio, maior, o que depende de nossos laços com o povo. Existe
esse eleitorado? Há atalhos para nosso crescimento eleitoral? Como
disputar nossas ideias nas eleições? Há imensas dificuldades a
esse debate político na democracia com PIG, poder econômico e o
rentismo.
Daí porque não podemos resumir-nos a uma das frentes de acumulação,
ainda que seja decisiva a disputa de 2014. O crescimento do PC não
pode nem deve ser igual ao de um partido da ordem. O sistema político
atual possui limitações intencionais ao crescimento eleitoral
comunista. Como crescer, sem a luta de massas e de ideias influírem
sobre o sistema político? Serão recursos ou os aliados que nos
valerão? Há que contar com forças próprias, militantes e quadros,
para crescer.
Também entre nós se dá a batalha do sentido da política e da
militância. Parte dela depende de incorporar as novas filiações
numa organização única, comunista. Sem forte investimento na
formação, sem reconhecer os riscos, sem enfrentar a autonomização
de grupos de interesse - sobretudo na institucionalidade – abrimos
o flanco à pressão de aliados, do Estado, do sistema. Mas sem
aceitar os desafios atuais, de mar aberto, não cumpriremos nosso
papel histórico.
Por isso, Programa e Estatuto devem orientar a prática e ter
expressão própria também em votos. Seria grave erro a
exclusivização eleitoral sob um olhar pragmático. O desafio de
2014 é também disputar ideias, afirmar o Partido e candidatos(as),
inspirar o voto, mobilizar o povo, os aliados, o movimento social
essa batalha. Não venceremos com exércitos alheios, apenas com
variáveis que não dominamos: lei, recursos financeiros, tempo TV,
nem o judiciário.
O PCdoB diante do povo
A pergunta é: como o PCdoB se relaciona com o povo? O PC é o
partido do proletariado, da classe. Por isso, a CTB é um salto, fato
ainda não absorvido. Também somos vigorosa expressão juvenil em
nosso país, um partido de mulheres guerreiras e protagonistas. Como
mobilizar tal base social antes, para e depois das eleições?
Apesar de todo todo realismo, não percamos a perspectiva
socialista, o caráter militante, o lastro de classe e a unidade de
ação. 2014 se medirá na vitória de Dilma e no resultado geral da
esquerda. Para nós, até o voto, há um caminho a ser percorrido
pela militância. Mesmo a eleição é resultado de múltiplas
determinações, de que o pragmatismo não dá conta. A ação dos
quadros exige a noção de totalidade, o concreto como produto de
múltiplas determinações. A eleição termina, mas a luta continua,
com ou sem governo, deputado, ou senador.
O pensamento complexo das três dimensões da luta pela hegemonia,
ideias, mobilização social e a disputa
político-eleitoral-institucional ganha profundidade com o pilar de
estruturar o Partido. Por seu valor interpretativo, devemos manter
assim, sem exclusivizações, buscando a harmonia, deixando claras as
fronteiras do nosso compromisso com o Brasil e os Trabalhadores(as).
Parte da resposta de nossos laços com o povo passa por situar a
militância no curso da vida do país em meio aos desafios do
desenvolvimento. Urge acabar com o abismo entre nossa política de
juventude e a entrega dos jovens que formamos à sua classe, através
do trabalho. Asseguramos com a independência advinda do trabalho a
dignidade da nossa opção ideológica. Em pleno bônus demográfico,
nossa juventude precisa ser politizada e também referência no
estudo e no trabalho, e é uma missão dificílima. Ou serão todos
parlamentares, assessores, cargos de confiança? Para ter como
presente a luta pela hegemonia no movimento sindical precisamos
incorporar novas gerações que formamos, mas que na vida adulta
ficam expostas à cooptação e a falta de perspectivas
Exclusivizar uma maneira de acumular forças pode levar ao
pragmatismo, a secundarizar a disputa de ideias e a mobilização
organizada da sociedade na luta eleitoral. Pode redundar em desgaste
da imagem do Partido e em instabilidade na vida interna. O Partido
não pode exclusivizar a representação institucional como sua
expressão. A fusão entre Partido, Estado e Movimento Social se
mostrou daninha ao socialismo. Por que seria benéfica na nossa luta
pelo Socialismo?
Destaque-se que o sistema político padece de grande descrédito.
Vivemos uma democracia limitada, submetida ao poder econômico, com
maioria conservadora secular, sob o poder midiático, e a
judicialização da política. Não é à toa que as manifestações
mostraram fragilidades político-institucionais, mesmo de um governo
nosso. Vimos aí a interconexão das frentes, e a insuficiência do
sistema, a relevância dos movimentos para mediar e propor bandeiras
que se tornaram vitórias políticas.
O Presidente Renato Rabelo não é deputado, senador, prefeito. Mas
o carinho e o respeito da militância por sua direção e trabalho
incansável e abnegado fazem dele o nosso líder. Essas virtudes são
os principais requisitos, como fiador de nossa unidade e rumo. Nem
sempre o institucional será o certo, ou deve ter apoio do nosso
Partido, ou pode representá-lo. Uma de nossas funções é projetar
trabalhadores(as), jovens, mulheres e a intelectuais progressistas
eleitoralmente. Não podemos ser um partido em que só se elege quem
tem dinheiro. O PC é um lugar de empoderamento do povo.
A atual geração de parlamentares nacionais vem sobretudo dos anos
80 e 90, líderes estudantis, sindicais, camponeses, mulheres,
intelectuais e artistas, militantes políticos. Há desgaste natural
em mandatos ao longo do tempo, por exemplo, 20 anos. Se não evoluem
a patamar distinto, surge o problema do declínio eleitoral. Como
projetar lideranças e ampliar nossa representação? Nosso Partido
sabiamente fez a sua abertura estruturada pelo Novo Estatuto. Busca
lideranças do povo para parte dessa renovação. Devemos reforçar e
aprimorar o acompanhamento das novas filiações e a gestão de seu
potencial –para o bem e para o mal- para a imagem do Partido. E
devemos ser mais proativos no enfrentar as polêmicas do
desenvolvimento para vincar nossa marca.
A vitória não se resume ao voto, embora seja ele o signo do
resultado da disputa. Crescer exige dialogar com a parte da sociedade
que nos reconheça, afirmar uma identidade entre a esquerda, os
patriotas, democratas, quem defende a política para melhorar a vida
do povo, rejeitando-a como via de enriquecimento vil.
Defesa da unidade contra a autonomização de interesses estranhos
ao projeto do PCdoB
Por fim, são daninhos grupos de interesse, tendências ou facções
no Partido. Se isso vem de governos e mandatos, pior ainda. Com a
“centralidade do institucional”, a militância é alijada por um
poder efetivo, estatal, estranho ao PC, tornando-o vulnerável à
cooptação. Por tudo isso, proponho a revisão do item 118, com a
seguinte redação:
118
– As vicissitudes são de certo modo inevitáveis para a esquerda.
Hoje, atingem não apenas a frente institucional-eleitoral, mas se
manifestam também nos movimentos sociais e na luta de ideias. Somos
desafiados, compreendendo a prioridade das eleições de 2014 para o
Brasil e para o Partido, a saber sabiamente articular todas as nossas
forças na frente da luta de ideias, na luta de massas e na frente
político institucional. A militância é essencial para a mediação,
para o lançamento de lideranças com potencial eleitoral e
identidade partidária, para uma mobilização que signifique uma
vitória eleitoral, o êxito na comunicação dos comunistas com o
povo e um legado de ampliação da influência política e da
estruturação partidária.
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