Harmonizar
luta de ideias, de massa e eleitoral-institucional no PCdoB de hoje
Parte 1
Paulo
Vinícius Santos da Silva
Secretário
Sindical do Distrito Federal e membro da Comissão Sindical Nacional
O PCdoB
sobreviveu ao revisionismo e ao aniquilamento graças ao sacrifício
e ao tirocínio de destacados camaradas. Sob clandestinidade,
isolamento e extermínio, mantiveram viva a chama Comunista, que
sobreviveu para mudar o Brasil. De pequenino, o Partido foi
ampliando sua ação – por sagaz, habilidoso e combativo – e hoje
supera 300 mil filiados! Que vitória do povo!
Honramos
nossa história e responsabilidades com o Brasil. Em 1992, o PCdoB
não vacilou ante o tsunami
neoliberal. Repudiou a capitulação e disse: “O tempo não para, o
Socialismo Vive”. Sem ceder ao desencanto, apontou a resistência
que se fez alternativa ao governo do Brasil.
O novo ciclo político de vitórias surgido das lutas e movimentos
sociais, torna possível à América Latina outro lugar no mundo. No
entanto, nossos governos se equilibram entre as convicções de sua
direção, os processos nacionais, as dificuldades do
subdesenvolvimento e as pressões neoliberais.
A própria natureza do capitalismo mostra seu lado destrutivo e
irracional, abrindo caminhos à resistência e às conquistas, numa
situação bem diversa do auge neoliberal. Há uma crise econômica,
mas também no espírito do nosso tempo, na civilização, daí a
nova luta pelo socialismo.
Por isso, no último decênio o PCdoB elevou se protagonismo, aprovou
novos Estatuto, Política de Quadros e um Programa Socialista.
Reconciliamo-nos com nossa história, dando a cada uma das gerações
comunistas aquilo que lhes corresponde no seu mais importante legado:
o Partido. Artrojildo Pereira simboliza a primeira, Carlos Prestes, a
segunda. E a terceira, com João Amazonas, Pedro Pomar e Maurício
Grabois, é artífice da resistência militante, política,
ideológica que legou ao Brasil o seu Partido Comunista. E somos
dirigidos pela turma dos Anos Rebeldes, que enfrentou e venceu a
Ditadura. A Ação Popular rejuvenesceu e deu novo alento ao nosso
Partido.
Hoje, o
Partido está aberto ao povo, que ingressou já a escala de centenas
de milhares. Poder-se-ia esperar que fossem todos comunistas
formados? Não o creio.
Por isso
as bússolas para o nevoeiro da luta política no Brasil.
Definem-nos: Partido amplo, mas de
classe, e assentado em quadros e militantes; com liberdade de opinião
individual, mas sem frações; com centro único de direção e
unidade para lutar pelo Brasil, a democracia e o socialismo.
As mudanças no socialismo e o papel da formulação do PCdoB
Lutamos
num novo ciclo de conquistas por reformas estruturais, que nos
aproximem do Programa Socialista. Se ainda não superamos a defensiva
estratégica, mudanças apontam para uma
nova luta pelo socialismo.
Mas o que é o socialismo hoje?
Nos
países socialistas remanescentes, as fragilidades econômicas e o
cenário externo levaram a estratégias de
desenvolvimento. Nos
casos Chinês, Cubano, Vietnamita, Laosiano são economias mistas,
propriedade pública e privada sob poder socialista. Na Venezuela
predomina o capitalismo, mesmo com a luta da Revolução Bolivariana.
Tal cenário e a pressão do Estado e da mídia trazem confusão
ideológica. Há muita diversidade no conceber o socialismo. Entre
nós há idealização da estatização no século XX. Mas o
socialismo não é caracterizado apenas pelo Estado. Seu fim é
abolição do Estado e das classes. Seus desafios são a justiça, a
defesa da soberania, a democracia e o poder do povo e resistir. Mas,
sobretudo, o socialismo deve ser superior ao capitalismo, ou não
trará desenvolvimento, nem defenderá o progresso da Nação. O
socialismo dista muito do modelo soviético, europeu, apesar das suas
inegáveis contribuições, como o fim do colonialismo, mesmo a
democracia no capitalismo, os direitos dos trabalhadores(as) e a
derrota do nazifascismo sob a direção do camarada Stalin.
Sem ser tão brutalmente agredida, quiçá a URSS pudesse ter visto
vicejar a derradeira contribuição de Lênin, a Nova Política
Econômica, a pensar o socialismo como transição, com
propriedades públicas e privada, joint ventures, capital externo,
cooperativas, empresa privada, sob a economia socialista majoritária.
Foi Lênin o primeiro a propor o capitalismo de estado sob poder
soviético a substituir relações feudais, patriarcais, mercantis
atomizadas e o mercado ilegal.
Deng Xiao Ping, a partir da experiência chinesa propôs foco no
desenvolvimento, modernizar a agricultura, a defesa, a ciência e
tecnologia e a indústria, com formas mistas de propriedade para
emular a economia e ritmo acelerado de crescimento econômico. Para
os países em atraso econômico o desenvolvimento encontrou no poder
socialista seu guardião. A feição mais ou menos estatal, depende
de muitos fatores.
Se lá é complicado, aqui não é menos. Desenvolvimento não é
apenas horizonte desejável, é prenhe de tensões, conflitos a ser
mediados. Nem sempre o governo está certo, ou a comunidade ganha.
São temas complexos e interesses contraditórios.
Queremos
um
desenvolvimento com valorização do trabalho, sustentável,
integrado à América Latina, com o fim da pobreza extrema e mais
democracia. O país tem pressa, dado a situação internacional, a
crise e a ferocidade imperialista. Atrasa-nos o tripé macroeconômico
neoliberal. Contra ele, propõe-se uma
aliança de classes que isole o parasitismo rentista
e abra caminhos ao
crescimento a taxas robustas, ao avanço das tecnologias,
infraestrutura, indústria. No NPND, no capitalismo, qual o lugar do
investimento privado? No rentismo ou na produção? Nos serviços, na
compra de terras, na infraestrutura? É decisivo ampliar a taxa de
investimento, também a partir de concessões, em que se assegure o
ritmo, as necessidades do povo e o interesse nacional. Em cada caso,
há que dar combate público sobre nossas posições, motivações e
fronteiras.
E
as necessidades de desenvolvimento são ainda mais grave se pensarmos
a Defesa e nossas Forças Armadas. Não podemos sacrificar no altar
do rentismo o futuro e a segurança do Brasil.
A defesa do Partido em meio aos desafios atuais
Defender uma economia mista no socialismo e alianças não
justificam mudanças no caráter do Partido. Há renovação e
permanências. Há dúvidas sobre o sentido da militância. Na
esquerda há incerteza sobre o caminho. A dispersão de forças
aponta para maior papel do PCdoB na luta de ideias, contra o
desencanto ante partidos, sindicatos, a luta coletiva, organizada,
consciente, contra a descrença no Brasil. E lutar contra as pressões
na relação estado-mercado no neoliberalismo.
Nosso balanço autocrítico deve ter dilemas e limites de nossos
governos no relacionamento com nossas bases sociais. Temos ousado, é
certo, mas também enfrentado dificuldades em projetar nossa imagem e
percalços. A migração de bases eleitorais, a perda de apoio em
setores médios, o perfil das lideranças precisam ser melhor
tratados. Ações de governo nem sempre resultam em várias gestões
vitoriosas, como no caso positivo de Olinda. Há diferença nos
comunistas atuando na institucionalidade? Como prevenir-nos das
pressões lícitas e ilícitas? Quando devemos apoiar, e votar
contra? Quando romper? Uma imagem não se firma apenas dizendo sim.
Mas
e na luta social, o corporativismo, o sexismo, a absolutização de
um fator contra a visão emancipadora, as lutas setorizadas, não
expressam confusão, pragmatismo, instrumentalização do PCdoB? O
que une a luta de massas, de ideias e a luta institucional-eleitoral?
Deve unir-nos o projeto partidário, o Programa Socialista, o
Estatuto cumprido, a identidade do Partido Comunista.
O PCdoB é partido de uma militância especial
Somos desafiados a reencantar a militância, seu sentido abnegado.
Nossas ações se baseiam num ideal legado por heróis e mártires a
honrar. Cazuza disse: “Ideologia, eu quero uma pra viver”, frase
cada vez mais necessária. O PCdoB tem um grande patrimônio a zelar:
sua militância. Você, meu, minha camarada, e o mais honroso título:
militante Comunista, como disse João Amazonas.
Ser comunista é ideal de vida, ver o mundo a partir dos pobres e
oprimidos. É ter uma ética, valorizar o coletivo. É ser radical e
consequente. Não andamos a mudar de partido, temos certeza da
superioridade da ação coletiva e consciente, feita na teoria uma
arma para mudar a realidade. Um pensar próprio, eficaz, único a
desafiar realmente as classes dominantes. E a camaradagem entre nós
é reconhecermo-nos agindo segundo princípios e um programa. Por
isso, de ouvido, em qualquer luta, sabemos: está aí um(a) camarada.
Temos orgulho do PCdoB.
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