A juventude passou. Sinceramente: foi incrível.
Nunca imaginaria que, nascido no Tirol, atrás da Iracema Três (uma fábrica de castanha), teria a oportunidade de fazer o que conseguiu a minha geração de líderes juvenis. Nós enfrentamos o neoliberalismo e o avanço da direita, sem nos atemorizar a queda do Leste, e derrubamos o presidente da República nas maiores mobilizações juvenis da História.
Nasci sob o signo da redemocratização, e de certa forma sou expressão das oportunidades e dilemas vividos pelos brasileiros no período, marcado pela crise do sentimento brasileiro, crise do projeto nacional brasileiro.
Nós enfrentamos a vitória eleitoral, política, simbólica, geopolítica e militar do neoliberalismo. E apesar disso, escrevemos um caminho para o centro do governo da República, mudamos o mapa político do país. Nós elegemos Lula, Dilma, e os defendemos quando foi preciso, e foi.
Nós lutamos em defesa da escola pública, e agora estamos construindo as bases para uma revolução educacional sem precedentes. A bandeira dos 10% do PIB com os recursos que virão do Pré-Sal se fará realidade dando um golpe na desigualdade social do Brasil. Dilma nos prometeu - as organizações da Jornada de Lutas da Juventude - que construirá milhares de creches e que os filhos dos pobres terão essa mesma oportunidade que tem as classes médias: universalizar o direito à creche.
Ganharão as mulheres, será um alívio na tripla jornada de que padecem, uma força para, por exemplo, estudar. Mas sobretudo para as crianças que não ficarão mais trancadas em favelas de todo o país,sem a chance de avançar, sem a nutrição, sem os estímulos e a segurança ao seu pleno desenvolvimento. A desigualdade vem de berço, literalmente.
Dilma nos falou da valorização dos professores, de uma mudança profunda no ensino médio, inclusive com a expansão da formação profissional. Falou de uma mudança significativa na estruturas das escolas. São muitas as possibilidades de tais políticas púbicas terem grande impacto na fisionomia do país, que tem perspectivas muito animadoras de desenvolvimento no próximo período.
O Estatuto da Juventude e a derrota da MP 2208 de FHC, com o direito à meia entrada são também resultado de uma luta que superou uma década, e aonde estive desde o começo.
E nessas batalhas foram tantos os Estados que conheci, tantos amigos e amigas que fiz.De mochila às costas, fui recebido com um carinho único em cada lugar em que vivi ou em que lutei lado a lado com jovens líderes de todas as forças políticas. Mas em especial, vivi a UJS.
E entre essa militância juvenil, fui sempre amparado por um vínculo muito peculiar, uma mescla de amigo com família e companheiro(a) de lutas: camarada.
E é preciso ser justo, atrás de nós, sempre a guiar-nos estavam duas gerações de lutadores e lutadoras. Primeiro, a turma dos Anos Rebeldes, muitos deles da AP. E depois a galera dos 70 para os 80, em especial o pessoal da Viração. Então, sempre tivemos pastorando nosso desenvolvimento político e ideológico os toques dessa galera, seus ensinamentos.
Ao contrário de uma disputa geracional despolitizada, tive a oportunidade ímpar de conviver com gente da melhor qualidade, gente que jamais envelhecerá, que tem vívidas as convicções da juventude em cicatrizes e talentos, gente que tem compromisso com a juventude.Uma galera do barulho, boa de conviver, gente muito legal, divertida, otimista, lutadora.
Por essa razão é que nosso trabalho de juventude tem essa solidez e importância para o Brasil e o mundo. Nós fizemos o Fora Bush. Lembro-me, a caminho de Ho Chi Minh, Vietnã, no aeroporto em Hong Kong o cartaz da UJS na CNN. Nós elegemos governos de esquerda em toda a região e mudamos o mapa do continente. Amamos Cuba e Fidel. Sentimos com grande dor a inexplicada partida prematura do Comandante Chávéz, mas guardamos dele sua alegria, amor ao povo e a certeza que é possível desafiar o império com o poder popular.E temos sim, grande dentro de nós a aspiração por chegar ao socialismo.
Aliás, não e essa nossa tarefa, da minha geração, finda a juventude, diante do tanto que avançamos no mundo e no Brasil?
Disse João Amazonas, que o século XXI seria de trevas e de luzes. Primeiro um cenário desolador, trevoso, depois, ponto a ponto, haveria cada vez mais luz. Pois apesar do perigos, é isso que percebemos, que há imensas possibilidades para a humanidade se chegarmos ao socialismo.Mais que uma aspiração, o socialismo é uma necessidade objetiva.
O desenvolvimento da vida vai apontando, em todos os campos, a interdependência entre os seres humanos e o seu ecossistema, a Terra. E essa consciência é crescente, mas inversamente proporcional à vida capitalista neoliberal. Viver sob um espírito capitalista implica diversos problemas, cada vez mais insustentáveis enquanto forma de viver em sociedade. Há uma crise moral do mercado, mas sobretudo uma crise quanto à primazia do mercado na definição das regras da sociabilidade humana.
Uma das razões é que o capitalismo não satisfaz, cria necessidades, e infinitas. Ora, a mim me parece que as necessidades insaciavelmente crescentes estão ligados tantos males que se pode perceber o adoecimento e a proliferação de compulsões e adicções em todas as sociedades. Vejam a violência com que o capitalismo se desenvolve, criando um modo de vida que separa os seres humanos, só permitindo o relacionamento entre eles pelos laços do vil metal e do interesse egoístico. A solidão é imensa, e um generalizado mal estar nos tornou muito suscetíveis à busca, nas religiões, de princípios, bases morais que nos salvaguardem psíquica e espiritualmente dessa realidade obsedante.E isso muitas vezes tem materialização plena em política apenas no partido Comunista. Viva o Brasil. Nem o materialismo dialético saiu ileso à sincretização que brota nessas terras abaixo do Equador. Aqui, o Partido Comunista do Brasil foi o autor da proposição da liberdade religiosa. A fidelidade ao princípio e o respeito à liberdade individual aqui são de tal modo articulados que há absoluto convívio entre todos. Viva o Brasil. Os europeus resolveram seus problemas de um modo, podemos resolver de outro. E muitas são as peculiaridades brasileiras que marcarão a fisionomia de nosso socialismo.
O desafio é superar o capitalismo e o mercado enquanto líder da estrutura básica das relações humanas. Não é aceitável um ser humano chegar à morte por fome por mal funcionamento ou insensibilidade das leis de mercado. Ademais, a sociedade precisa se defender do caráter bélico que essa formação econômica desenvolveu. O capitalismo põe em risco permanentemente a espécie humana.
Infelicidade, injustiça, desigualdade brutal, desperdício, adoecimento físico e psíquico, desequilíbrio ecológico. São terríveis os sinais que apontam cada vez mais atual a consigna de Rosa Luxemburgo: Socialismo ou Barbárie. A barbárie é o hoje. A humanidade pode muito mais do que o capitalismo tem a dar.
Lamentavelmente, no entanto, persiste a crise de paradigmas. Abrimos caminho, é certo, mas não há ainda uma mudança de paradigma. Evidenciaram-se muitos limites no modelo soviético e a exclusividade do Estado se mostrou um grave erro. Hoje em dia, o socialismo existe sobretudo sob a forma de Capitalismo de Estado, teoria da transição econômica em sociedades atrasadas economicamente e sob hostilidade. Na Rússia, Lênin propôs essa radical alteração em face da situação de ruína e das perspectivas nada animadoras da economia soviética depois de grandes tragédias. Guerra da Criméia, I Guerra e Guerra Civil em pouco mais de dez anos.
O país sobreviveu em um regime denominado Comunismo de Guerra. O mercado foi praticamente extinto, vigiam as requisições forçadas de gêneros indispensáveis à defesa do país, a pátria socialista atacada pelos quatro pontos cardeais, pela coalizão de 14 exércitos que apoiaram os generais tzaristas. A tensão e as dificuldades econômicas, percebeu o líder russo, ameaçavam a aliança operário-camponesa. E ademais, apontou uma deformação burocrática. Dado o grande atraso e as consequências do período descrito, Lênin apontou para um regime de Capitalismo de Estado, ou seja, a permanência de mecanismos de mercado com regulamentação de um Estado forte que atua como dinamizador do desenvolvimento acelerado, sob o poder socialista. O resultado é a modernização econômica e a melhora dos indicadores, em meio as turbulências decorrentes das políticas de desenvolvimento econômico acelerado.
Os êxitos dessas políticas ficaram demonstrados pelos anos seguintes. Mas a II Guerra se impôs no horizonte, pondo fim ao experimento e obrigando às difíceis escolhas, como a coletivização da agricultura. Ainda assim, ficaram mais que evidentes a necessidade de reconhecer os inacreditáveis avanços que representaram para a humanidade, como a derrota do nazi-fascismo.
Deng Xiao Ping retoma essa perspectiva como o caminho mais seguro de lograr as Quatro Modernizações propostas por Chou En Lai (Zhou En Lai). Nasce o Socialismo de Mercado, ou socialismo conforme as peculiaridades chinesas. Na China se luta uma batalha monumental: é a maior ascensão social, o maior enriquecimento para uma população daquela magnitude em apenas uma geração.
Todavia, são situações de resistência, registre-se. Evidenciou-se a mudança na correlação de forças num mundo cada vez mais perigoso. Houve, de fato, recuos. Desse modo, nossa geração viu os resultados isso, e estará em seu auge produtivo pelo menos por mais 25 a 35 anos. Precisamos salvar o Brasil dos riscos que se antevêem da cobiça ianque sobre nosso país.
Portanto, para nós, em democracia, está colocada a questão de fazer a passagem ao novo paradigma, o desenvolvimento do país e o socialismo no Século XXI. O socialismo no Brasil, com nossa própria maneira de ser. Eis uma causa que pode ser aliada à luta pela nossa vida. Somos desafiados a isso. Não apenas lutar pelo socialismo, mas ter sucesso em nossas vidas pessoais como um todo numa época de legalidade, para influenciar de modo mais profundo a sociedade brasileira. Ser parte do projeto nacional de desenvolvimento no Brasil dando a nossa contribuição na luta e no trabalho.
As muitas oportunidades profissionais do período colocam para nós todos o imperativo de não ficar para trás, de responsabilizarmos crescentemente pela nossa trajetória de vida. E o ambiente de nossa luta permite essa orientação básica, esse cuidado com a saúde da convivência, da disciplina em adequar vida e militância, para que a aproximação de nossas organizações signifique um apoio para a melhora da vida das pessoas, que aqui se formam politicamente e podem ser também pessoas vitoriosas na vida, e com o compromisso ético das pessoas de bem, solidárias, socialistas. Para isso é preciso autonomia, e essa relação coma vida tem nome: trabalho. O que você vai ser, quando você crescer?
Fechando a reflexão, acho que é hora de viver, e que o socialismo está aí, novamente, como um espectro a assombrar a ordem burguesa cada vez mais caótica. Acho que ainda dá pra fazer muita coisa. Apenas começamos.
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