Anarquismo
Diferente da concepção tradeunionista, que surge e ganha fôlego nos países mais
desenvolvidos, a corrente anarquista terá maior destaque nas nações em que o processo de industrialização foi mais lento. O atraso dessas economias dará impulso à concepção anarquista, que expressava a revolta dos antigos artesãos e oficiais. Estes, com o avanço da industrialização, foram despojados de seus instrumentos de trabalho e tiveram que ingressar no trabalho fabril, proletarizando-se.
Nos países mais atrasados, como a França, a Itália e a Espanha do final do século passado, as burguesias locais não possuíam capital acumulado o suficiente para uma rápida expansão. As indústrias eram frágeis, dispersas. Para acumular capital e impulsionar a
industrialização, a burguesia se utilizava de mecanismos mais bárbaros de exploração - que o
gerava, como consequência, violentas explosões de revoltas dos operários, que trabalhavam em fábricas dispersas e pequenas, sem qualquer concentração. Essas condições econômicas criam um terreno fértil para o crescimento da concepção anarquista.
A palavra anarquia tem sua origem do vocabulário grego - an significa negação, ausência, e
arquia, poder, governo. O anarquismo preconiza a abolição total do Estado, com o fim das leis, dos partidos, da religião etc. “O poder exerce, por sua própria natureza, uma influência perniciosa”, afirmou o inglês Willian Godwin (1756-1836), um dos primeiros formuladores dessa doutrina social.
Pierre Joseph Proudhon (1809-1865 foi o grande ideólogo e divulgador dessa doutrina). Em sua clássica definção do capitalismo, afirma que “ a propriedade é um roubo”. Defende uma nova sociedade, auto gestionária, formada por produtores livres da cidade e do campo. Estes se reuniriam em cooperativas e comunas e fariam a gestão da economia de forma autárquica.
Apesar da aparente radicalidade de sua proposta, Proudhon adotará uma estratégia reacionária para atingi-la. Diz que a sociedade autogestionária será alcançada através da ajuda da própria burguesia, que, via “bancos populares” e o crédito gratuito, financiaria as iniciativas dos trabalhadores com vistas a se tornarem produtos livres.
Proudhon será radicalmente contra as greves e fará críticas às jovens organizações
sindicais dos trabalhadores. Na sua obra mais conhecida, “filosofia da miséria”, será enfático: “a greve dos operários é ilegal, e não só o código penal que o diz: é o sistema econômico, é a
necessidade da ordem estabelecida...Que cada operário, individualmente, goze das livres
disposições das sua pessoa e dos seus braços, é a coisa que se pode tolerar. Mas que os
operários procurem, por meio de associações, violentar a liberdade e o direito dos patrões, é o que a sociedade não pode permitir. Aplicar a força contra os patrões, desorganizar as oficinas, paralisar o trabalho, pôr sob ameaça o capital, significa conspirar uma ruína geral. As autoridades quem mandaram assassinar os grevistas de River-de-Giex sentiram-se profundamente infelizes. Mas atuaram como o antigo Brutos, que se viu obrigado a escolher entre o amor ao pai e o dever ao cônsul. Impunha-se sacrificar os seus filhos, para salvar a república”.
Em outro texto da sua opinião sobre os sindicatos. “a lei que autoriza as associações é
fundamental antijurídica, antieconômica e contrária a todo o regime social e a toda
ordem...Repúdio, em especial, a nova lei, porque a associação, com o propósito de aumentar ou diminuir os salários, é absolutamente igual à associação com o propósito de aumentar ou diminuir os preços dos víveres e da mercadoria”, para se contrapor às idéias de Proudhon, que “seduziam e corrompiam a juventude dourada e depois os operários, principalmente de Paris”, Karl Marx, ideólogo do comunismo, escreverá o livro “Miséria da Filosofia”.O russo
Michael Bakunin (1814-1817), de origem aristocrática, é quem dará um novo
impulso ao anarquismo. Dizendo-se discípulo de Proudhon, negará a sua fórmula reacionária e utópica para atingir a sociedade autogestionária. Ele se dá conta das aberrações produzidas por seu mestre. “Proudhon, apesar de todos os esforços para se colocar no plano da realidade, continuou sendo idealista e metafísico”, raciocina. Afirmando total descrença diante da burguesia, defenderá uma postura de combate dos trabalhadores contra o capital. Essa concepção passa a ser conhecida como anarcosindicalista. Ela prega a intensificação da luta de classes contra o capital. Para Bakunin, “a greve é tudo” e os sindicatos “são os únicos instrumentos de guerra verdadeiramente eficazes”. Ele também prega o uso da sabotagem, do boicote e da ocupação das fábricas como formas de luta dos trabalhadores. O ponto alto desse combate global seria a greve geral, que inviabilizaria o sistema e possibilitaria o surgimento da sociedade ácrata. As entidades sindicais inclusive seriam os embriões da nova sociedade autogestionária.
Com as idéias de Bakunin, o anarquista ganha base no meio operário. Em países de
economia frágil, onde se opera a super-exploração da mão de obra, a sua proposta de
radicalização das lutas encontra ressonância. Para essa concepção, o importante é a chamada “ação direta” - o desenvolvimento ininterrupto dos confrontos de classe. Nesse processo, os anarquistas têm noção de que encontrarão barreiras diante do atraso da consciência operária e das dificuldades da correlação de forças. Procurando superá-las, eles defendem o papel da “minoria ativa", como foco de galvanizaria as atenções dos trabalhadores, atraindo-os para a luta.
Daí o anarquismo ser taxado de vanguardista, por se afastar do nível de organização dos
trabalhadores, pregando uma radicalização artificial da luta de classe. No mesmo sentido, rotula-se essa concepção de voluntarista, já que coloca a sua vontade subjetiva acima das condições concretas de lutas existentes, sem analisar a correlação de forças.
Outra característica fundamental da concepção anarquista será a negação de qualquer ação política por parte dos trabalhadores. Partindo da compreensão de que toda a superestrutura emana da infra-estrutura capitalista, os anarquistas condenam a participação dos operários nas eleições institucionais, são contrários a atividade parlamentar e menosprezam as leis. Pelo seu projeto da sociedade futura, essa concepção prega o fim do estado - com todas as instituições e regras, como as leis e a justiça. Exatamente por isso, os anarquistas - tendo a frente Proudhon e, posteriormente Bakunin - polemizarão com os marxistas - que defende a luta do proletariado pela conquista do poder, com a constituição da ditadura do proletariado como forma transitória para o fim do estado.
Para os anarquistas, não deve se colocar no caminho da “ação direta”, do confronto cotidiano.
Esse traço dará aos anarquistas um acerta marca economista.
Com o desenvolvimento do capitalismo, que leva a uma maior concentração de capital e da produção, a concepção anarquista vai perdendo terreno nos movimentos sociais. Além do aspecto econômico, da superação da fase artesanal e manufatureiras, há também o político. A complexidade da nova sociedade desarma os anarquistas. Algumas correntes chegam inclusive a defender o lumpen-proletariado (os mendigos e marginalizados) como a nova classe revolucionária, já que, segundo afirma, o proletariado industrial teria se tornado reacionário com os avanços da industrialização.
Ao negarem a luta política e a utilização de outras formas de luta pelos trabalhadores, os anarquistas caem no isolamento. Com a primeira revolução proletária, na Rússia de 17, onde se afirma a necessidade da luta política e da organização do partido revolucionário, o anarquismo declina no mundo. As inúmeras tendências anarquistas, desde do adeptos do terrorismo, até os defensores do pacifismo passando pelo chamado anarquismo espiritual de Spindel, entram em crise.
Leia também: o Tradeunismo
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