A República de Cuba, no início dos anos 90, sofre uma série de atentados terroristas perpetrados por organizações criminosas dirigidas por anticastristas – cubanos contrários ao governo de Fidel Castro que se exilaram na cidade norte-americana de Miami, na Flórida.
Por Eduardo Navarro*
Essa escalada de violência se dá em um momento de grandes dificuldades econômicas para a pequena ilha caribenha, que além de enfrentar as agruras do criminoso bloqueio econômico dos Estados Unidos, vê somar-se o fim da parceria com os países do leste europeu, devido à desintegração da União Soviética. A solução encontrada para manter-se de pé foi investir no desenvolvimento da indústria turística e atrair reservas cambiais daqueles que desejavam conhecer as maravilhas da ilha.
Organizações como “Hermanos Al Rescate”, “Alpha 66”, “Movimento Democracia”, dentre outros – todos regiamente financiados pelos dólares do governo norteamericano e dos milionários exilados – urdiram os ataques terroristas contra alvos turísticos visando estrangular financeiramente o governo cubano, desestabilizar o sistema socialista e reimplantar o capitalismo na ilha.
Esse é o cenário em que se desenrola o mais novo livro de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, lançado no final de 2011, pela Companhia Das Letras, que narra o drama dos cinco heróis cubanos: Gerardo Hernández, Ramon Labañino, Fernando González, René González e Tony Guerrero. O livro, apesar de utilizar o formato de romance, é em essência um verdadeiro trabalho jornalístico de fôlego, fartamente documentando, que nos permite acompanhar toda a trama das provocações sem nos esquecer da dura realidade vivida por aqueles que queriam preservar sua nação e proteger seus compatriotas.
Esse, aliás, foi o sentimento dos órgãos de inteligência cubana ao desenvolverem a Operação Vespa: infiltrar agentes secretamente nas organizações radicais de Miami para, a par dos detalhes dos atentados, evitar danos a inocentes.
A partir daí acompanhamos, in-loco, o planejamento das ações como o sobrevoo sobre Havana para jogar panfletos provocativos ou espalhar pragas nas lavouras; colocar aviões comerciais em perigo ao atrapalhar transmissões da torre de controle; disparar rajadas de metralhadoras contra turistas ou explodir bombas em hotéis.
As coisas se inverteriam para os agentes cubanos em setembro de 1998, quando a Rede Vespa é destroçada pelo FBI, seguindo-se a prisão de todos os envolvidos em celas solitárias. O processo 98CR721/Lenard enquadrou-os como espiões promotores de atentados contra instalações militares, conspiração para assassinato, coleta e informações de defesa, falsificação e uso de documentos de identidade e uso indevido de vistos e permissões de entrada nos Estados Unidos.
De heróis do povo cubano, eles se viram acusados de terrorismo.
O julgamento foi montado para condená-los e agradar à poderosa organização dos exilados. No final de 2001, eles foram declarados culpados com penas que vão de 15 anos para René, 19 anos para Fernando, perpétua para Tony, perpétua mais 18 anos para Ramón e duas perpétuas mais 15 anos para Gerardo.
A farsa do julgamento e as pesadíssimas penas têm mobilizado opiniões nos Estados Unidos e em todas as partes do globo – e levado artistas, personalidades e entidades como a CTB e o Encontro Sindical Nossa América a se somarem ao movimento pela liberdade para os cinco patriotas, que se tornaram, em pleno século 21, os últimos soldados da guerra fria.
*Eduardo Navarro é secretário de Comunicação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.
Fonte: Revista Visão Classista
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