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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A natureza não tem nada a ver com o colapso do abastecimento da água em SP - Diário do Centro do Mundo


cantareira9
Publicado no site Cosmopista. O autor é Gabriel Kogan, mestre em “Urban Water Studies” pela TU Delft, da Holanda.

Enquanto nos aproximamos do colapso total no abastecimento em São Paulo, políticos tentam desesperadamente culpar a natureza: “é por causa da falta de chuva”. Nada disso. O problema é político mesmo.
Secas são periódicas e perfeitamente previsíveis a partir de estatísticas das bases de dados históricas. Um sistema robusto (e decente) de abastecimento deve ser concebido para aguentar anos seguidos de chuvas abaixo da média. Pesquisadores sobre clima como o professor Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp, apresentam dados convincentes da sazonalidade de secas como essa a cada 35 a 50 anos – e isso não tem nada a ver com aquecimento global. Planejar sistemas para eventos que aconteçam nesses intervalos é mais do que plausível, é obrigatório em uma metrópole como a nossa.
A Sabesp foi parcialmente privatizada nas últimas décadas. Hoje, mais de 49% do capital está nas mãos de poucos, inclusive na Bolsa de Nova York. O governo do Estado tem feito políticas que atendem aos interesses desses acionistas e não da população. Assim, os lucros sugaram a capacidade de novos investimentos. Só em 2013 foram R$ 1,6 bilhão que saíram dos consumidores para remunerar os donos da água da cidade.
Mesmo nos países mais capitalistas do mundo, como a Holanda, as empresas de abastecimento são públicas. Por quê? A água é estratégica demais para ser objeto de especulação financeira. A incompetência e ganância na gestão hídrica nos últimos 20 anos no Estado de São Paulo tem agora dramáticas consequências para a economia da metrópole. Sem água, a economia capenga.
São Paulo negligencia sistematicamente o gerenciamento hídrico. Já estava instalada, muito antes e sem alardes, por exemplo, a crise do saneamento. Os rios são poluídos por uma razão simples: o esgoto não é recolhido e tratado, como inclusive exigiria a legislação. O Estado ignorou a lei e não classificou o rio Tietê. Supérfluo ou caro demais?
Lugares como Singapura fecharam o sistema de esgoto e abastecimento. Assim, toda a água consumida é recolhida pela rede pública, tratada com alta tecnologia e devolvida para a torneira. Saneamento e abastecimento são, portanto, dois lados da mesma moeda.
Já o governo federal fingiu que o colapso da maior cidade do país não era um problema relevante. A ANA (Agência Nacional de Águas), fazendo vistas grossas, se uniu à incompetência e descaso do governador. Nada foi feito, nem mesmo mudanças institucionais para pressionar outras instâncias.
Há exatamente um ano, eu publicava na seção Tendências e Debates, da Folha, um texto chamando a atenção para a seriedade da crise. Um ano! Eu fico imaginando quanto tempo o governador e os diretores da Sabesp tiveram para saber da possibilidade concreta do desastre. Muito mais do que eu, com certeza.
Em um ano, seriam possíveis investimentos que, se não revertessem, amenizassem muito o desabastecimento: cavar poços públicos e até construir (em regime de urgência) estações de tratamento para usar a água dos braços poluídos das represas. Em um ano, as gigantescas perdas do sistema podiam ter sido reduzidas com investimentos massivos.
Nada foi feito. As eleições estavam aí. O mais conveniente era não chamar a atenção para o problema. A mídia colaborou, se calando convenientemente até o dia seguinte do primeiro turno. Todos foram reeleitos; isso que importava.
O impacto econômico da crise hídrica para a cidade provavelmente superará o capital que teria sido necessário para fazer sistemas de abastecimento e saneamento de alta tecnologia e robustos, para despoluir e reurbanizar todos os rios, para devolver às águas à cidade – não mais como problemas urbanos, mas como virtudes, organizando lugares de encontros, espaços públicos.
Agora, as convulsões sociais, talvez tardias, são inevitáveis. E nelas não faltarão policiais armados, balas de borracha, spray de pimenta e, certamente, os novíssimos canhões d”água para combater esses “vândalos” – desta vez, também sedentos. Afinal, a ordem precisa imperar frente ao caos, não é mesmo?
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