Victor que cantava à alma e à consciência com uma doçura e verdade que impactavam profundamente. Nesse concerto gravado para uma televisão Peruana, podemos vê-lo e ouvi-lo, ver o sorriso, ouvir o violão, a prosa e as palavras que Victor tão doce e real pronuncia.
Victor que foi perseguido pelo que compunha e cantava e tocava. Victor que foi preso no Estádio Nacional com milhares de outras pessoas que apoiavam o governo de Allende, deposto pelo General Pinochet à custa de guerra econômica, conspiração e até bombardeio do Palácio de la Moneda, e a morte de Allende, tudo a mando dos EUA. Muitos milhares de mortos e torturados.
Mas antes do bombardeio aéreo ao palácio de la Moneda, outro o precedeu, o bombardeio midiático, a campanha incessante de desestabilização que o povo resistia com as canções de Victor que, de tão bonitas, atraíram o ódio criminoso e cruel da ditadura.
Pinochet e a direita não perdoaram jamais as verdades que Victos dizia cantando, com toda aquela doçura, com aquela luz que descortina ante nosso olhar a dura realidade de vida, e o herói e a heroína
cotidiano, o trabalhador, a trabalhadora. Eles transparecem em sua beleza e sofrimento, ouvindo-o
é possível sentir a identidade desse artista com a gente mais simples e seus padeceres e a contribuição
gigantesca que dão, pois são os trabalhadores e as trabalhadoras que fazem a roda da vida girar, porque produzem tudo o que existe ao nosso redor. É a classe trabalhadora a classe produtiva. E esse olhar próximo do artista e de seu povo, dá a voz a páginas incríveis do cancioneiro popular e da
canção latinoamericana.
Victor era "apenas" uma pessoa, mas não estava sozinho, e essa é uma razão fundamental de sua grandeza artística. Seu canto e músicas tinham a a humanidade como alicerce, a justiça, a beleza e o olhar com os olhos do povo, de seu interesse, de sua verdade, de seu projeto. E isso, essas multidões que tinha atrás de si amedrontavam, porque diferente da bala, o canto de Victor não tinha fim, reproduzia-se como chama no mato seco, abrindo até hoje os olhos das pessoas. Victor cantava a vida, a luta, os padeceres e a beleza da classe trabalhadora.
O camponês, o operário, a luta, o acidente de trabalho, a dureza do trabalho, o amor. Sobretudo o amor, como ele mesmo declara durante o concerto, o amor de um homem por uma mulher, de um homem por um homem, do amor à humanidade. Assim ele explica como fez Te recuerdo Amanda. Trata do amor entre dois operários, Manuel e Amanda, dois simples trabalhadores, que ele retrata nos cinco minutos em que eles se encontravam, quando ele ia receber a marmita, apenas em cinco minutos vemos o carinho e a ternura do amor entre esses dois personagens que simbolizam todas as pessoas que lutam a vida dura e que amam.
Por isso o prenderam, torturaram e mataram com 33 tiros, tamanho era o ódio que o regime de Pinochet teve contra Victor e a Unidade Popular. Ouçamo-lo, aproveitemos a oportunidade da beleza e da verdade dessas canções da luta do povo. Por mais de uma hora estejamos com ele, para entender seu enorme talento, e para perceber o papel transcendente que tem a consciência para tocar o coração e a mente das pessoas, unindo-as num poder transformador irrefreável, o poder do povo unido, invencível. Por isso, longe de tristeza, lembremo-nos de que o povo unido jamais será vencido!
Nesses minutos do programa na Panamericana Televisión de Lima, Perú, el 17 de julio de 1973, Victor e sua arte mostram-nos porque ele segue tão vivo no coração das pessoas. Victor vive.
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