Osvaldo Bertolino
Nota do PCdoB sobre o assassinato covarde de Carlos Marighella
“Vítima de torpe cilada, vilmente fuzilado em plena rua pela polícia, morreu Carlos Marighella. O
assassinato deste conhecido revolucionário é mais uma ação vergonhosa e
covarde que se acrescenta à onda de inomináveis violências que a
ditadura militar vem cometendo. A história do Brasil registra poucos
crimes políticos tão infames, tão friamente planejados como o perpetrado
na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Dezenas de beleguins,
poderosamente armados, à traição, levaram a cabo um homicídio puro e
simples. Esse monstruoso crime da ditadura é parte de todo um plano
visando amedrontar, através do terror e do banditismo, os democratas e
patriotas. Desesperados, inteiramente repudiados pelas massas, cada vez
mais isolados, os generais que assaltaram o poder intensificam a
repressão em todo o país, realizam toda sorte de arbitrariedades e
praticam crimes os mais selvagens (…).”
A nota acima é do jornal A Classe Operária — à época dirigido e editado
por Carlos Nicalou Danielli, que também seria cruelmente assassinado
pela repressão —, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
A fuzilaria ocorreu no dia 4 de novembro de 1969, enquanto jogavam Santos e Corinthians no estádio do Pacaembu pelo torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão.
A fuzilaria ocorreu no dia 4 de novembro de 1969, enquanto jogavam Santos e Corinthians no estádio do Pacaembu pelo torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão.
Não distante dali, em frente ao número 806 da Alameda Casa Branca, Marighella caia na arapuca armada pelo bando chefiado pelo delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), Sérgio Paranhos Fleury.
O facínora montou uma equipe que se disfarçou de trabalhadores — o local era uma área de edifícios em construção —, namorados e passantes para fuzilar Marighella dentro de um Fusca, sem nenhuma chance de defesa. Líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), o revolucionário foi atraído para a arapuca por meio de padres dominicanos com quem mantinha contato, submetidos ao terror do bando de Fleury.
A fuzilaria atingiu, além do alvo, uma policial que se passava por namorada do chefe do Dops; um protético que teve a infelicidade de passar pelo local na hora do crime (ambos morreram); e um delegado, que nunca mais se recuperaria dos ferimentos na coxa direita. O bando deixou o corpo de Mariguella dentro do Fusca até às 23h15, quando foi recolhido pelo Instituto Médico Legal (IML).
Coincidentemente, dois dias antes o dirigente máximo do PCdoB, João Amazonas — antigo companheiro de Marighella na militância comunista — estivera próximo ao local, em um encontro com sua mulher, Edíria.
Os dirigentes do PCdoB que estavam em São Paulo passaram o dia reunidos e à noite souberam, pela televisão, do ocorrido na Alameda Casa Branca.
Carlos Marighella nasceu em Salvador, em dezembro de 1911.
Ainda adolescente despertou para as lutas sociais, tornando-se militante do Partido Comunista do Brasil aos 18 anos e dedicando sua vida à causa dos trabalhadores, da independência nacional e do socialismo.
Foi preso pela primeira vez em 1932, após escrever um poema contendo críticas ao interventor do governo federal na Bahia Juracy Magalhães.
Em maio de 1936 Marighella foi novamente preso e torturado, durante 23 dias.
Marighella passou a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários comunistas e o combate ao terror imposto pela ditadura do Estado Novo.
Anistiado em abril de 1945, participou do processo de redemocratização do país e da reorganização do Partido Comunista do Brasil na legalidade.
Eleito deputado para a Assembléia Nacional Constituinte de 1946 pelo Estado da Bahia, mas teve seu mandato cassado.
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