"A essa hora exatamente há uma criança na rua.
Uma criança na rua!
A honra do adulto é proteger o que cresce
Cuidar que não haja infância dispersas pelas ruas
Evitar que naufrague seu coração de barco
Sua incrível aventura de pão e chocolate.
Por uma estrela no lugar da fome.
De outro modo é inútil, de outro modo é absurdo
Ensaiar na terra a alegria e o canto,
Porque de nada vale si há uma criança na rua."
Hay un niño en la calle - Armando Tejada Gómez
PAULO VINÍCIUS S. SILVA
São cerca de 51 milhões de jovens - considerados até os 29 anos. Jamais haverá tantos outra vez no Brasil. Doravante a idade aumentará numa população de menor crescimento vegetativo. Essa juventude nasceu em meio à crise do desenvolvimento brasileiro, em meio o monopólio midiático, após a queda do socialismo europeu, em meio à perda de direitos dos anos neoliberais. Mas, com a sua luta, ela também pôde iniciar a mudança que, limitada e combatida, ainda engatinha, Que lugar terá essa geração no futuro do Brasil? O que o país lhe dá, que pode dela esperar?
Que esperar, quando endurecemos o coração e desviamos o olhar da multidão de miseráveis, muitos crianças, a pedir, a cheirar cola, a se prostituir, a viver, dormir, fazer necessidades básicas, nas ruas? Crianças usando crack, vivendo mal, e expostas aos valores de consumo da sociedade capitalista que lhes grita incessantemente na cara que não são humanos, que não merecem viver, e que a vida, a felicidade é o consumo.
Que esperar com o sangue a escorrer e a apologia da violência a ensurdecer e doutrinar por toda a comunicação social? Que esperar se importa apenas o dinheiro, e nada mais? Que esperar se a tortura e o desaparecimento não punidos no passado se perpetuam nas favelas e delegacias, ainda hoje? Que esperar, quando parte de todos os que somos responsáveis por elas, conformamo-nos porque nos cremos partícipes dessa ordem de consumo e “vida boa” , um pessoal que “só quer ser feliz”, resumindo a felicidade ao seu entorno familiar mais estreito?
Que esperar com o sangue a escorrer e a apologia da violência a ensurdecer e doutrinar por toda a comunicação social? Que esperar se importa apenas o dinheiro, e nada mais? Que esperar se a tortura e o desaparecimento não punidos no passado se perpetuam nas favelas e delegacias, ainda hoje? Que esperar, quando parte de todos os que somos responsáveis por elas, conformamo-nos porque nos cremos partícipes dessa ordem de consumo e “vida boa” , um pessoal que “só quer ser feliz”, resumindo a felicidade ao seu entorno familiar mais estreito?
Não me estranha que muitos se sintam tão agredidos, ao perceberem o insustentável dessa ordem, que já é violentíssima, mas que a todo custo visa a preservá-los da violência que reserva para os mais pobres. É esse sentimento que clamem pelo Estado/força e violência organizada, a eliminar quem consideram ameaça ao seu mundinho de classe média. Apostaram suas vidas em saídas individuais, ratinhos no labirinto ou na esteira. Creem-se capazes de sair incólumes à violência que, no entanto, está sempre ao lado, contra os mais pobres e historicamente excluídos.
Qual é a surpresa defenderem a pena de morte, a redução da maioridade penal para 16, ou 15, ou 14, ou 10 anos? Qual é a surpresa a imprensa da Ditadura, do consumismo doente, do Big Brother, do golpismo, da auto-censura, do monopólio, do patrão e da casa grande ser a favor disso? Imprensa aliada ao câncer se lhes render dividendos políticos, a lamentar o emprego em alta e os direitos das domésticas, reclamam dos pobres e negros e índios nas escolas e universidades outrora suas.... Imprensa que não pode ver abertos os porões pútridos das torturas da Ditadura que embalou contra a Democracia...
Sabotam a economia, defendem o caos no sistema elétrico, associam-se ao crime organizado como suas fontes informativas mais críveis, distorcem, mentem, manipulam, editam. Querem a alta de juros para benefício de seus sócios rentistas, mesmo que diminua o emprego, estourem as dívidas do povo, impeçam os investimentos em... educação, saúde, luta contra a miséria extrema, trabalho decente, cultura para a juventude, dignidade para as periferias, a reforma agrária, ou seja: o verdadeiro combate à violência pelas suas causas, e não pelas suas consequências.
Então não me estranha que os defensores da desigualdade, das saídas individuais, os apologistas de seu lugar no labirinto do ratinho de laboratório, os fanáticos, os rancorosos, os infelizes de toda sorte se aliem. São os(as) que calam e se rejubilam diante do sistema prisional que estupra, que corrompe e enlouquece, que é sujo, fedido, monstruoso... Querem a prisão especial, e a dignidade para suas torpezas e crimes... Mas defendem até que a família do preso(a) passe fome. Opõem-se ao Brasil não admitir mais que famílias e suas crianças passem fome, São inimigos do Bolsa Família.
Enoja-me, é certo, mas não surpreende. Por isso é decisivo viver e lutar ao lado da justiça, pela democracia, por um futuro melhor para o Brasil. Por isso a luta pelos 10% do PIB, os 100% dos Royalties, os 50% do fundo social do Pré Sal para a Educação. Por isso lutamos contra qualquer discriminação, pelo Estatuto da Juventude, pela meia entrada, o meio passe, o passe livre estudantis que chamem os pobres pela cultura para dentro da sala de aula, para que os analfabetos saiam da cegueira e vejam a luz de ler tudo que os circunda e que não podem...
E quando volta ao debate a discussão da Redução da Maioridade Penal?! Ora, quando tudo isso pode ser conquistado e a Presidenta da República recebe as juventudes estudantis, trabalhadoras, negra, da diversidade sexual, da liberdade religiosa e do Estado Laico, da cultura, das periferias, do meio ambiente, dos sem terra e camponeses, das mulheres. E ouve dos jovens uma só voz, uma só bandeira: Presidenta, salvemos a juventude abandonada, assassinada, torturada, desempregada, explorada, sem escola, nas ruas! Presidenta, integremo-la ao Projeto de um grande, desenvolvido, justo país. Presidenta, são mais de 50 milhões os que tem os piores indicadores, apesar dos avanços do Brasil...
E ela nos olhou e disse: isso é extraordinário e inédito. Ajudem-me a aprovar os recursos para a educação que vão universalizar as creches para todas as crianças, a escola integral, a banda larga, as escolas técnicas em todos os níveis, as escolas também para as periferias e o campo e a educação integral. Ajudem-me a aprovar os recursos que permitirão o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Para que as escolas tenham laboratórios, escolas, cultura, como tem as escolas das elites, mas com uma educação mais humana. Superar as desigualdades e fazer avançar o Brasil!
É exatamente aí que a imprensa bandida mostra à classe média a dolorosa tragédia que aflige a juventude que mata, mata-se e morre. Onde está o pranto daquele porteiro, daquela desempregada, da dona de casa daqueles pais e mães, das avós humildes e doentes que viram seus filhos negros e pobres, gente de bem, trabalhadora, morrer na esquina da humildes casas ou barracos tão distante da Avenida Paulista? Ora, a ROTA será homenageada!!!! E também na denúncia da violência contra a juventude - 50 mil jovens mortos por ano - descobrimos que para o PIG, vale mais a vida de uns que de outros...
O que fazem os mais de 8 milhões de jovens que nem estudam e nem trabalham e onde está a indignação diante disso? 73% dos que morrem violentamente na juventude são negros e negras. Onde estão os culpados, onde está a revolta da imprensa bandida? Por que deve o ódio de classe, num país rico como o Brasil, criar uma clivagem criminosa como essa, em que se é levado a condoer-se mais com a morte de uns, ignorando outros? A dignidade humana é irrenunciável. Salvemos a todos e a todas. E é a hora.
Não me escandaliza ver os beneficiários do arbítrio e da violência as defenderem com tanto ardor e ódio. Escandaliza-me sim, a dor das famílias, todas, seu luto, sua indignação. Penso com muito medo na minha família também, na minha filha, tudo isso me é tremendamente próximo.
O que me escandaliza é ver pessoas que estão conosco, do nosso lado, que se acham parte do mesmo caminho da dignidade e da compaixão, da luta pela igualdade e pela justiça, e que deixam emergir de si uma trevosa voz que talvez até então, bem ocultassem. E surge, vigorosa e desavergonhada, a pedir sangue, no bloco dos opressores. Para eles e elas, o Brasil deve, como o mitológico Cronos, pai de Zeus, devorar seus próprios filhos, e não salvá-los, educá-los, investir neles.
O Brasil já devora seus filhos, basta ver o extermínio da juventude negra das periferias e os indicadores da juventude mais pobre desse país. Isso sim me escandaliza. Escandaliza-me também que, nesse momento, organizações que tem grandes responsabilidades para com o país possam permitir-se causar qualquer fissura nas fileiras do nosso povo, em especial na juventude, em vez de fortalecer suas mais históricas organizações.
Ora, existe sim um caminho para deter o doentio cordão da violência e do ódio contra a juventude. Devemos aprovar já o Estatuto da Juventude, resgatar o direito à meia entrada, ao meio-passe e passe livre estudantil. E fazer uma revolução na Educação Brasileira, com recursos, trabalho e causas: o desenvolvimento com preservação ambiental e soberania e a igualdade. Reduzir a maioridade penal, como bem disse meu saudoso amigo De Leon, é uma maldade do ponto de vista ético, uma inviabilidade financeira e politicamente uma catástrofe. É preciso lutar contra esse crime, e abrir caminhos para o florescimento da juventude e da Nação Brasileira.
Veja aqui o sentido da luta pela aprovação do Estatuto da Juventude pelas palavras do Alessandro de Leon, na audiência no Senado em dezembro de 2012
Veja aqui o sentido da luta pela aprovação do Estatuto da Juventude pelas palavras do Alessandro de Leon, na audiência no Senado em dezembro de 2012
Hay un niño en la calle- Mercedes Sosa y
Calle 13
Pivete - Chico Buarque
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