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Textos de Combate: Sem perder a ternura, jamais - Paulo Vinícius da Silva - à Venda

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Grabois :: 27 de janeiro de 1944: “Leningrado rompe o cerco nazista!”(Notícias)

Grabois :: 27 de janeiro de 1944: “Leningrado rompe o cerco nazista!”(Notícias)

Hitler tinha planos especiais para a cidade
que havia sido o berço da Revolução de Outubro. De início, estava
disposto simplesmente a ocupá-la. Mas a obstinada resistência oferecida
pelo Exército e pela Marinha em defesa da cidade o exasperaria a tal
ponto que ele ordenou que as eventuais ofertas de rendição das forças
que defendiam Leningrado fossem ignoradas. A cidade deveria ser
inteiramente destruída, com tudo o que representava e todos os seus
habitantes, civis e militares, exterminados sem contemplação.
Operação Barbarossa: assim foi denominada a primeira fase do ataque
alemão à União Soviética na Segunda Guerra, desencadeada em junho de
1941. E de início tudo correu de acordo com os planos dos líderes da
maior e mais perfeita máquina militar até então montada no mundo. A ação
das tropas nazistas foi arrasadora; a blitzkrieg funcionou
perfeitamente na Rússia. Precedidos por uma intensa barragem de
artilharia pesada e de um sistemático bombardeio aéreo de saturação que
pulverizaria fortificações, entroncamentos ferroviários, bases aéreas e
navais, centros de concentração de tropas, depósitos de material bélico e
combustível, três poderosos exércitos alemães, antecedidos por grandes
formações blindadas invadiam a União Soviética, com o apoio de forças
finlandesas, húngaras e romenas.

Privado de comando competente, comunicações rápidas e perdendo a
iniciativa da luta em todos os setores, o Exército Vermelho foi
facilmente dividido em grandes grupos pelas vanguardas blindadas alemãs,
que operavam como cunhas. Posteriormente, os grupos isolados eram
cercados e submetidos a bombardeios de saturação.

Para os soviéticos, a invasão foi uma dupla e dolorosa surpresa. A
primeira surpresa foi tática, pois os comandos soviéticos responsáveis
pela defesa das fronteiras ocidentais estavam com as mãos amarradas, em
vista das ordens expressas de Stalin de evitar qualquer medida que
pudesse ser interpretada como “provocação” aos alemães. Assim, a
despeito da surpresa, da desorganização inicial do Exército Vermelho, da
perda de importantes bases, centros de comunicações e indústrias
vitais, os russos revelavam-se dispostos a lutar, contrariando os
prognósticos dos alemães.

As ordens de Hitler eram que todos os judeus e militantes comunistas
que lhes caíssem nas mãos deveriam ser sumariamente liquidados, além de
considerar toda a população como refém para execução como represália a
qualquer ato de sabotagem ou guerrilha. Blumentritt, um dos generais
responsáveis, observaria: “A conduta dos russos, mesmo nos primeiros
choques, é completamente diferente dos poloneses e dos ocidentais quando
são batidos. Mesmo quando estão cercados, os russos resistem e lutam,
quase sempre até a morte…”

Os exércitos que invadiram o Norte da Rússia eram comandados por Van
Leeb e tinham Leningrado, cuja frota marítima dominava o Báltico, como
alvo principal. Foi o agrupamento armado, que mais blindados possuía e
que mais rapidamente avançou (realizou cerca de 300 km em quatro dias!).

No global a operação nazista no curto período de 90 dias ocupou uma
área em que vivia 40% da população soviética, de onde provinham 65% do
carvão, 60% do ferro, do aço e do alumínio, 40% dos cereais e 90% do
açúcar. Os agrupamentos nazistas da Frente Sul ameaçavam o Cáucaso, os
do Norte estavam a ponto de tomar Leningrado e os do Centro continuavam
rapidamente a caminhada na direção de Moscou. Enquanto isso, o número de
soviéticos aprisionados nas grandes batalhas de envolvimento chegava a
centenas de milhares, enquanto o de mortos — civis e militares —
ultrapassava em três meses o primeiro milhão.

Restava aos soviéticos apegarem-se desesperadamente nos trunfos que
lhes restavam: ao espírito da Revolução de 1917, ao sentimento patriota
do povo, e, também, aos tanques T-34, que se revelariam os mais
eficientes da Segunda Guerra Mundial. Possuíam ainda a unidade de
comando especial, a Stavka, que funcionando sob a orientação direta de
Stalin, desferia golpes certeiros e mortais no inimigo; unidades
guerrilheiras que, rapidamente formadas, destruíam linhas de comunicação
dos invasores. E, finalmente, um punhado de oficiais altamente
capacitados e que se encarregariam de transformar o Exército Vermelho,
que se retirava em todas as frentes, numa formidável máquina de guerra, à
altura da alemã. Entre esses oficiais sobre os quais recairia o peso da
missão de transformar a sucessão de derrotas na vitória final estava o
gênio de Jukov.

Ao Norte, estava Leningrado quase totalmente sitiada. Hitler tinha
planos especiais para a cidade que havia sido o berço da Revolução de
Outubro. De início, estava disposto simplesmente a ocupá-la. Mas a
obstinada resistência oferecida pelo Exército e pela Marinha em defesa
da cidade o exasperaria a tal ponto que ele ordenou que as eventuais
ofertas de rendição das forças que defendiam Leningrado fossem
ignoradas. A cidade deveria ser inteiramente destruída, com tudo o que
representava e todos os seus habitantes, civis e militares, exterminados
sem contemplação. Depois de concluída tal missão, as forças do general
Von Leeb deveriam convergir sobre Moscou, desfechando contra a capital
soviética um ataque coordenado com as forças do Grupo de Exércitos
Centro, comandados por Von Bock.

A queda de Leningrado era precisamente o que o comando soviético mais
temia. Além de constituir um importantíssimo centro industrial,
constituía um símbolo tão precioso para os soviéticos como Moscou, e sua
perda teria um efeito psicológico catastrófico. Além disso, a rápida
junção das forças de Von Leeb com as de Von Bock, antes que novas
reservas soviéticas pudessem ser mobilizadas, tornaria a ofensiva alemã
rumo a Moscou realmente irresistível.

O moral da população civil de Leningrado, onde Zhdanov atuava como
principal comissário era excelente. Entretanto, o mesmo não sucedia em
relação às forças de defesa. Eram frequentes os recuos, os abandonos não
autorizados de posições, as deserções. A disciplina deteriorava-se
rapidamente, ordens importantes deixavam de ser cumpridas e os alemães
estavam a ponto de completar seu cerco. Foi para garantir a defesa da
cidade ameaçada que Stalin chamou Jukov a Moscou, no dia 8 de setembro.
Vinte e quatro horas depois, investido de poderes quase absolutos, Jukov
voava para Leningrado. E no dia 9 de setembro, Jukov, com os oficiais
de seu estado-maior, que selecionara cuidadosamente, chegava a
Leningrado para defrontar-se com a mais difícil missão de sua carreira.

Dispensando protocolo e cerimonial de recepção, Jukov dirigiu-se
diretamente da pista do aeroporto de Leningrado para o Smolny, de onde
Lênin desfechara e comandara a Revolução de Outubro e que agora servia
de sede ao quartel-general de Leningrado. Já no dia 13, Jukov foi
informado pelo seu estado-maior de que os alemães se preparavam para
lançar um ataque frontal e final contra a cidade.

Analisando suas linhas de defesa, Jukov  tomou um primeiro susto. Foi
informado que os grupos de tanques encarregados da defesa de determinado
setor vital não existiam mais — tinham sido substituídos por simulacros
de madeira, construídos num teatro local. Era sobre esses falsos
tanques que a artilharia alemã concentrava seu fogo naquele momento. O
Marechal ordenou que providenciasse naquela mesma noite mais cem falsos
tanques, para dispô-los em outros dois setores ameaçados. Bychevsky, seu
assessor, respondeu que o teatro não tinha condições para produzi-los
naquela noite. “Como se chama seu comissário, camarada coronel?”
perguntou Jukov. “Coronel Mukha.”, respondeu-lhe. “Pois diga a esse
coronel Mukha que se até amanhã de manhã os tanques não estiverem nos
pontos que escolhi, vocês dois serão submetidos a um conselho de guerra.
Fui claro? Amanhã, eu mesmo farei a verificação”.

Os falsos tanques foram providenciados a tempo e a determinação
inabalável de Jukov logo se tornou conhecida de toda a guarnição. Quem
não cumpria as suas ordens era imediatamente punido. Para pôr fim à
indisciplina, Jukov mandou fuzilar sumariamente oficiais, comissários e
soldados que tinham abandonado sem ordens expressas suas posições.
Determinadas unidades em que se tinham registrado casos de
insubordinação — tanto do Exército como da Marinha — foram dissolvidas e
seus integrantes incorporados a outras. Em todos os níveis e todos os
setores, a ordem era sempre a mesma, fossem quais fossem as condições —
atacar, atacar, atacar!

Preparando-se para o pior, Jukov convocou Bychevsky e ordenou-lhe que
minasse sistematicamente todos os principais setores do centro de
Leningrado, a começar pelas pontes. Destacamentos especiais da polícia
secreta foram encarregados de organizar a defesa interna, mobilizando
não apenas prisioneiros políticos, mas a própria população civil de
Leningrado não empenhada nas indústrias e serviços vitais, mais de 100
mil pessoas, na construção de fortificações internas. Se os alemães
chegassem à cidade, teriam de lutar rua por rua e casa por casa para
ocupá-la. Até mesmo crianças e mulheres foram mobilizadas para a defesa.

Havia uma grande falta de armas para equipar os batalhões organizados
às pressas e Jukov ordenou que se recorresse às velhas armas dos museus
militares. Canhões antitanque foram montados em velhos bondes, caminhões
e ônibus; dezenas de milhares de coquetel Molotov e de granadas eram
diariamente fabricadas pelas indústrias civis convertidas em pequenas
oficinas improvisadas. Estacas com pontas de aço foram cravadas e ninhos
de metralhadoras montados em todos os espaços abertos da cidade e nos
seus arredores, para prevenir lançamentos de paraquedistas alemães.

Menos de uma semana após a chegada de Jukov, Leningrado havia perdido
seu aspecto normal — todas as ruas e avenidas da grande cidade estavam
bloqueadas por treliças de trilhos de aço, casamatas de concreto,
embasamentos de artilharia e ninhos de metralhadora. Nas praças e sobre
os edifícios mais altos estavam concentrados os canhões antitanque e
antiaéreos. Todos os navios da Marinha ancorados estavam empenhados no
bombardeio incessante das posições alemãs.

Nesse meio tempo, Jukov tudo inspecionava. Verificava pessoalmente o
cumprimento estrito do racionamento de gêneros alimentícios, o estado
das defesas internas, as posições avançadas do perímetro externo de
defesa. Ante a opção inexorável- obedecer sem vacilar ou ser fuzilado,
ninguém vacilava. E foi com esse espírito que se conteve os alemães nos
subúrbios de Leningrado!

A noite de 17 de setembro de 1941 foi crucial para a defesa da cidade.
As defesas externas, a despeito de todos os esforços, pareciam a ponto
de ruir ante as maciças investidas alemãs e Jukov ordenou que se
completassem os últimos preparativos para a destruição da cidade. O
porto, os navios fundeados, os grandes armazéns, os entroncamentos
ferroviários e todos os principais edifícios estavam minados e tudo
deveria voar pelos ares a uma palavra de Jukov, no preciso momento em
que os alemães penetrassem no perímetro interno de Leningrado!

Naquela mesma noite, lançando à luta todas as suas reservas, e entre
essas reservas havia batalhões de civis, adolescentes, trabalhadores que
tinham cumprido seu turno diário de doze horas nas fábricas, presos
políticos, milicianos, marinheiros, intendentes e almoxarifes,
escriturários e ferradores, Jukov e o heroísmo do povo soviético
conseguiram conter os alemães.

Todos os esforços desenvolvidos pelo nazista Von Leeb, com ajuda da
aviação, artilharia e infantaria motorizada para cortar a derradeira via
de suprimento que ainda ligava Leningrado ao resto da URSS, as linhas
estabelecidas através do lago Ladoga, falharam. Seus ataques encontravam
sempre a obstinada resistência dos contra-ataques de Jukov, apoiados
por uma arma até então desconhecida pelos alemães e que produzia
terríveis efeitos sobre seus blindados e infantaria motorizada: os
foguetes terra-terra do tipo Katyusha, lançados de baterias múltiplas
montadas sobre caminhões.

E foram a vontade de ferro de Jukov e do povo de Leningrado, o comando
dos comissários comunistas que acabaram prevalecendo sobre uma guarnição
desmoralizada e carente de recursos, sobre a população civil faminta e
privada de tudo, na cidade incessantemente submetida a duro bombardeio,
levando-a a resistir com as forças do desespero ao inimigo mais forte,
durante a noite crucial de 17 de setembro.

Na noite de 18, os ataques alemães começaram a perder o ímpeto e em
determinados setores dos subúrbios, apoiados por barragens dos navios de
guerra e concentrações de lançadores de foguetes, os defensores de
Leningrado conseguiram recuperar algumas das posições perdidas nos dias e
semanas anteriores.

Houve, entretanto, outro fator que foi decisivo para a sobrevivência de
Leningrado. O Grupo de Exércitos Centro, que reiniciara sua ofensiva em
direção a Moscou, começava a esbarrar em resistência cada vez mais
intensa. As chuvas de outono tinham começado e os veículos paravam, uma
vez que as estradas de terra do interior da URSS se tinham convertido em
atoleiros. Os grupos guerrilheiros, nessa situação nunca lhes davam
trégua. Ante tal emergência, o Estado-Maior alemão foi compelido a
recorrer às forças blindadas de Von Leeb. Von Leeb, que acreditava ter a
vitória à vista, foi compelido a acatar as ordens recebidas de Berlim,
deslocando o grosso de suas forças blindadas e infantaria motorizada, no
dia 18 de setembro para a frente central, rumo a Moscou.

Leningrado estava salva, embora seus defensores ainda não soubessem
disso. Sabiam apenas que a pressão constante exercida pelos alemães
começara a decrescer. Jukov, porém, acolhia com grande ceticismo essas
“impressões”. Não pretendia deixar-se surpreender. As ordens de fazer
voar a cidade, caso os alemães ultrapassassem o perímetro externo,
continuavam em vigor. Todas as notícias sobre a redução da pressão
inimiga eram cuidadosamente verificadas. A produção de armas e munições
era intensificada, enquanto o racionamento se tornava mais rigoroso.
Simultaneamente, novos contingentes de fuzileiros navais, de marinheiros
que faziam parte de serviços administrativos, de operários e de
adolescentes aceitos como voluntários — eram equipados e enviados aos
vários setores de defesa.

Com o correr do tempo, contudo, tornou-se público que a pressão alemã
tendia a perder sua intensidade. Prisioneiros alemães, capturados
durante contra-ataques, revelaram que as forças atacantes tinham sofrido
baixas pesadíssimas e, desistindo finalmente de tomar a cidade de
assalto, estavam construindo posições permanentes para sitiá-la. Somente
então, Jukov autorizou a desconexão dos cabos elétricos que ligavam
milhares de cargas de explosivos, espalhadas pelo centro da cidade, ao
seu QG.

Entretanto, os dias de sofrimento impostos a Leningrado ainda estavam
muito longe de seu fim. Não havia possibilidade de ampliar a brecha do
lago Ladoga no círculo de aço imposto pêlos alemães aos defensores.
Leningrado continuaria a ser submetida, durante quase três anos, a
ataques quase incessantes da aviação e da artilharia — e no terrível
inverno de 1941, a fome e o frio cobrariam da população um preço ainda
mais elevado do que as balas e granadas alemãs: milhares de pessoas
morreriam diariamente de fome e de frio, casos de canibalismo seriam
registrados; papel de parede, cascas de árvore e couro de velhos cintos e
sapatos seriam usados como alimento; faltaria água não contaminada até
mesmo para intervenções cirúrgicas de urgência!

Era, entretanto, de generais como Jukov que o comando soviético
precisava desesperadamente naquele momento no setor central, onde a
situação era mais que crítica. E foi a Jukov que Stalin apelou mais uma
vez. “Transfira o seu comando em Leningrado ao chefe do Estado-Maio” —
ordenou Stalin — “e venha imediatamente para Moscou.”

Leningrado deveria arcar com sacrifícios indizíveis até o dia 27 de
janeiro de 1944, quando o longo cerco alemão foi finalmente levantado.
Em circunstâncias dificílimas, o Povo Soviético, Zukov e o Partido
Comunista, contando com recursos precários, compelidos a improvisar,
premidos pelo tempo e enfrentando uma atmosfera de derrotismo e quase
pânico, lograram erguer o moral de Leningrado, impondo-lhe, a ferro e
fogo, o “esprit de corps” que prevaleceria até a vitória final.

Em 1945, Leningrado recebeu o título de cidade heróica, junto de
Stalingrado, Sebastopol e Odessa, pela resistência exemplar e tenacidade
demonstrada por seus cidadãos.

Publicado no espaço literário marcel proust (blog)











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