Qualifiquei ontem o meu Projeto de Pesquisa - e só pude fazê-lo ontem. Tem sido um período muito mais que conturbado na minha vida. No semestre dos Congressos Estaduais e Nacional da CTB, em que tive de cumprir grandes tarefas e com viagens a tantos estados. Particularmente durante o último ano, quando parei para ver, estava com 10 tarefas simultaneamente, o que bem explica a queda da minha qualidade de vida, o nível de stress, o cansaço. Para completar, a vida pessoal cobra seu preço, e no meu caso, confesso que não faltou quem tentasse me atrapalhar, prejudicar. Não foi um nem duas vezes em que vendo o túnel bem longo e escuro, duvidei muito da minha possibilidade de chegar ao final. Não fossem os exemplos familiares de superação de dificuldades e o apoio de minha mãe, não teria aguentado.
Fundamental tem sido a orientação da professora Flávia Lessa de Barros, na medida em que, imersa num vendaval de responsabilidades, foi muito parceira, teve grande paciência, senti-me orientado e apoiado até o final. A profª Maria Pinheiro Coelho e os profº Jacques Ibañes Novion e Rafael Seabra foram instigantes ao apontar falhas e limites à pesquisa que desenvolvo sobre a Venezuela. Indicações de autores, crítica a a aspectos falhos, tensionamento das perspectivas que norteiam o trabalho, tudo de grande valia. E ainda tinha uns amigos lá, como Robson Camara Hans, um compa do MST e uma estudante do CEPPAC cujos nomes me fogem, Roberto da Silva e a indefectível Dona Lourdes, que sempre fez questão - e fazia-o Seu Louro, quando vivia - de acompanhar seus filhos nas defesas de suas monografias, na qualificação e defesa do Betinho, e agora na minha dissertação. Meu pai tinha quatro anos de escolaridade, minha mãe fez até o normal com grande dificuldade. Para além do caráter, sempre fizeram tudo para que estudássemos, e temos tentado corresponder àquele desejo. Sua presença no dia-a-dia e nas bancas é mais que bem vinda.
Assim, foi um parto, e foi só o começo. As indicações me fazem retomar para o reexame e o desafio de um tema macro e um objeto das dimensões macro que escolhi, a Venezuela, contraditória, polêmica e com uma bibliografia monumental. Muita luta.
Mas espero que a ajuda da banca e o giro que tenho feito para redefinir minhas responsabilidades me permitam levar adiante essa batalha em muito melhores condições que as que tenho tido. Como o Titanic, não é possível fazer desvios bruscos, é preciso de precaução para mudar a rota, mesmo com o mesmo objetivo, e é o que fiz ao longo do fim do ano passado e deste. Mais foco, mais estabilidade, menos viagens, mais tempo para refletir e produzir, menos tarefas, e com o desafio do distanciamento para a análise de um tema que me é caro.
No entanto, muito mais cara que a apologética do processo venezuelano é a necessidade de o entender devidamente. Nesse sentido, a vida mais estável contribuirá muito para a reflexão e o necessário senso auto-crítico do pesquisador e crítico do processo, sem resvalar para qualquer tipo de pretensão imparcial.
Hoje cumpro minha última missão para a Juventude da CTB como parte de uma delegação de 12 sindicalistas que representarão a Federação Sindical Mundial em viagem para a China. Ter vindo do Congresso em São Paulo numa semana, defendido a minha qualificação nessa, e em seguida a viagem para a China bem ilustram a correria que tem sido esse período. Mas além de ser interessantíssimo, de contribuir para minha visão sobre os processos de transição e sobre o socialismo, é também o final de um ciclo. Vamos tocando, sem receios, o barco, superando as dificuldades como a quilha corta as ondas, como diria Maiakovski.
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