Porque no unirnos?
Y luchamos como hermanos
Por la patria que esta herida!
Nuestra patria la que amamos!
Alí Primera - Dispersos
Finda o ano de 2024, importante por nos abrir os olhos para a complexidade e a dureza da batalha pelo Brasil. A finitude de Lula se expôs aos olhos de todos, assim como a correlação de forças. Roberto Campos Neto, Arthur Lira e muitos mais, assumiram a ribalta para dizer não ao Povo Brasileiro. Lula pediu juros menores; e os juros subiram. Lula fez o emprego e a economia crescerem mais do que se esperava; e foi criticado por isso. Ele pediu que os ricos pagassem mais impostos; e eles disseram não. Só com Lula doente, o mercado celebrou, ficou na torcida contra sua saúde, mantendo a afiada faca no pescoço do governo. E exigiram no altar de Mamom o sacrifício dos mais pobres no Pacote, colocando o Arcabouço Fiscal como moldura a enquadrar a Frente Ampla.
Em economia, Bolsonaro fez o que quis, impunemente. Já o Presidente Lula é cercado, atacado, contido, sabotado. Presente de Natal é para bom menino, e ninguém é melhor menino que o Brasil - Haddad e Galípolo o provam - mas não apenas eles. Nosso pedido de ata de eleição à Venezuela, nossas ilusões com o Partido Democrata estadunidense, nossa crença numa política externa altiva sem soberania nacional e sem as FFAA, o pensamento positivo mágico da via institucional brasileira, nossa crença no judiciário brasileiro e no Xandão. Haja esperança no nosso Garrincha, para dar o drible da vaca em todos. Não basta ser bom menino, nem diversas vitórias no PIB, na indústria, na distribuição de renda, na redução da miséria e no emprego. Uniu-se o andar de cima para dizer “assim, não pode, assim não dá”, o presente é deles, a conta é para o povo. Não se trata, portanto, de ser um bom governo, mas ter força suficiente para o defender da fome canina dos especuladores financeiros, insaciáveis.
Ao líder comunista paraense João Amazonas se atribui afirmar ser necessário ao povo “fazer sua própria experiência”. Sempre comentamos isso sobre a importância de ver desfazerem-se ilusões, e assim entender os limites e buscar saídas. Contudo, se apenas quebrar convicções e afirmar princípios bastasse, o trotskismo teria dado certo… É preciso encontrar e trilhar caminhos, ou ver prevalecer o medo e a desconfiança, a antessala da derrota. O que aprendemos com esses dois anos? Qual a lição da história das mudanças no Brasil sem a organização popular? Bastam o líder e o acordo? As virtudes de D. Pedro II anularam a manutenção da escravidão por décadas?
Tempos interessantes são os que vivemos; uma de suas vantagens é quebrar as certezas do passado, tão fortes no presente, tão distantes do futuro. É aí que se afirma a capacidade de agir frente à História e, no Brasil, frente a si próprio, como Nação. O papel de Lula é muito maior que fazer seu governo “dar certo”. A política é muito mais que a sua institucionalidade. Líderes de sua estirpe falharam exatamente quando não foi possível manter o seu legado, não em em empresas, não em leis, mas em povo organizado. Getúlio caminhou muito desde uma inicial posição de direita - quando reprimiu o Partido Comunista - até escrever o apelo ao Povo Brasileiro, na Carta Testamento.
Ao relembrar tantas obras e direitos que marcam o Brasil ainda hoje, Getúlio afirma uma esperança: “meu nome será a vossa bandeira de luta”. Sua trajetória política foi em direção ao Povo Brasileiro e contra o imperialismo, e foi aí que reencontrou os comunistas, foi aí que o Lula o achou, na prisão em Curitiba. De fato, o nome de Getúlio segue vivo até hoje, mas faltou-lhe a organização, ele ficou sozinho, apesar do tanto que organizou os trabalhadores, as leis e a economia brasileira. Na hora final, nem os comunistas o apoiamos. Entre o líder e as massas havia um fosso, e por aí o imperialismo se impôs, para dividir e reinar. Num supremo gesto de sacrifício e palavra, Getúlio nos lembra que nem o melhor dos líderes basta, sozinho.
Lula deixará seu nome tanto mais cravado na História quanto mais abrir caminho à afirmação da Nação Brasileira, cuja defesa só pode ser feita pelo seu povo, pela classe trabalhadora. Nada está assegurado. Qual instrumento será capaz de continuar essa via de transformação? Reconhecer o gigantesco patrimônio do PT e da CUT para a esquerda brasileira e a sua classe trabalhadora deveria precisamente levar-nos a construir a solidariedade organizada entre quem cerre fileiras em defesa do Brasil, da classe trabalhadora e da democracia.
Parte dos problemas que enfrentamos repousa na crença dos poderes mágicos da democracia burguesa brasileira e do Presidente Lula, que se expressam na crença do Executivo rompedor de barreiras… Mas foi precisamente esse Executivo mutilado em seus poderes de transformação social, inclusive no orçamento público, na independência do Banco Central e na permanente ameaça de deposição pelo Congresso. Não fosse isso suficiente, vivemos uma época de ascensão do fascismo, com o protagonismo da extrema direita a serviço do capital rentista parasitário. É uma forma de imperialismo tão extrema quanto incapaz de sanar as chagas ambientais que comprometem o futuro. Só são capazes de se enriquecer, empobrecer-nos e enganar, mas são impotentes diante dos problemas urgentes, muito maiores que dinheiro e mentiras.
Diante da mudança do eixo da economia mundial para a Ásia, o imperialismo só conhece a resposta do fascismo e da Guerra, que se faz com armas jamais imaginadas, nucleares, cibernéticas, conceituais, econômicas. A perspectiva socialista é a única capaz de reunir pluralidade, diversidade e a ruptura com o consumismo suicida, capaz de unir a inteligência, a arte, a técnica, o trabalho nas novas tecnologias para que possamos sobreviver e caminhar rumo ao futuro da evolução humana. Há todavia muita treva, é preciso brilhar mais forte, é preciso desviar-se de armadilhas, de becos sem saída.
Não são idênticos o governo e o Líder. Em 2003, já era o governo em disputa, avalie agora. Lula tampouco se limita ao PT, nem está definido o seu futuro. Por isso mesmo, eles precisam impedir o Lula de dar resultados. Já em nosso campo, como ele mesmo disse, é preciso fazer com que Lula se torne o povo.
Precisamente nesse momento, há imensa confusão no debate entre a relação Líder-Massas e mesmo na relação Líder-Governo-Partido-Movimentos. Um dos limites da formação da Nação Brasileira repousa precisamente no papel repressor do Estado em relação à maioria do povo, a sua incapacidade de nuclear a Nação como um todo. Nesse sentido, é ardilosa a trilha fácil da crença ilimitada na via institucional, esperança do burocrata.
Há 200 anos, alertou José Bonifácio, já na primeira Constituinte sobre os limites do Estado brasileiro em cumprir o papel de nuclear a Nação, e seu alerta dói até hoje, por ignorado que foi:
“não temais os urros do sórdido interesse ; cumpre progredir sem pavor na carreira da justiça e da regeneração politica ; mas todavia cumpre que sejamos precavidos e prudentes. Se o antigo despotismo foi insensivel a tudo, assim lhe convinha ser por utilidade propria ; queria que fossemos um povo mesclado e heterogeneo, sem nacionalidade, e sem irmandade,para melhor nos escravizar. Graças aos céos, e à nossa posição geographica, já somos um povo livre e independente. Mas como poderá haver uma constituição liberal e duradoura em um paiz continuamente habitado por uma multidão immensa de escravos brutaes e inimigos? Comecemos pois desde ja esta grande obra pela expiação de nossos crimes e peccados velhos. Sim, não se trata sómente de sermos justos, devemos tambem ser penitentes ; devemos mostrar à face de Deos e dos outros homens, que nos arrependemos de tudo o que nesta parte temos obrado ha seculos contra a justiça e contra a religião,que nos bradam accordes que não façamos aos outros o que queremos que não nos façam a nós.
Em vez do papel progressista, o Estado serviu para afirmar a divisão de cidadãos de primeira e segunda classes. O Estado aparece na favela com o caveirão, do mesmo modo como aparecia diante dos quilombos de outrora. Não dá para ter essa fé no Estado, no governo, em especial quando não se tem fé na capacidade de luta do povo brasileiro, nosso sujeito histórico. É ainda o projeto de José Bonifácio que Lula defende, mas seguem pulverizados os interesses maiores da Nação. O grande problema histórico do Brasil não é a construção de grandes acordos nacionais, mas que a maioria conservadora se volte contra e alije o povo de sua própria vitória. É preciso construir uma força popular de massas capaz de nuclear a luta em defesa do Brasil e, ainda é tempo, sob a liderança de Lula.
Gramsci aludiu ao Partido Comunista como o Príncipe Moderno, capaz de encarnar o protagonismo que Maquiavel reservava ao soberano, aquele que une as forças dispersas para a fundação do Estado Nacional italiano. Muita água passou sob essa ponte, desde então, e não enxergo como atual a crença no partido, seja qual for, que permitisse essa união. Na passagem do século XX para o XXI, a esquerda lartino-americana rompeu com essa segmentação e com a via da correia de transmissão entre partidos e movimentos. Foi no caldo de cultura dos grandes eventos e redes latinoamericanos que a luta social e política se transformou em frentes heterogêneas, progressistas e críticas ao neoliberalismo que ascenderam ao governo de nossos países. Por isso mesmo,a noção de Bloco Histórico, de Frente Ampla e Frente Popular são importantes para compreendermos o desafio de unificação que nos cumpre para a preservação do Brasil, sua afirmação como Nação.
Quando deixou de ser importante a realização dos fóruns sociais mundiais, dos congressos estudantis massivos, das grandes marchas e encontros de trabalhadores? O povo é o verdadeiro heroi da nacionalidade. É preciso ter lugar ao povo organizado na Frente Ampla. Permanecemos desconfiados uns dos outros, seguros por um fio de esperança que se chama Lula.
Diante de nós, ameaçadores, perfilados, estão a extrema direita, o “mercado”, a imprensa empresarial financeira, o centrão e os 1% mais ricos. Estamos como gestores de uma máquina que sempre foi deles, que faz nosso trabalho fluir da produção para a especulação, do pequeno para o grande, do pobre para o rico, da maioria para a minoria, pois para isso servem o capitalismo, a polícia, o “mercado”, as forças armadas e o judiciário. Para isso serve a separação de poderes articulada aos poderes ocultos de sempre. Quando foi que a via institucional, o Estado Burguês, ainda mais no Brasil, adquiriu poderes supremos em favor da classe trabalhadora em tempos de fascismo? É a teoria errada, na hora errada, com as ferramentas erradas. Nem se fosse monarquia absoluta. Falta povo nesse jogo em que o poder de veto é da burguesia rentista, parasitária e entreguista.
Hugo Chávez cortou o nó górdio que separava as vias da Reforma e da Revolução, pedra de toque da divisão no seio da esquerda mundial no século XX. Em vez de render-se ao Estado, cercá-lo. Erigir o espaço do povo na Constituição. Disputar o poder com o aval popular como recurso final, antes das armas, mas jamais confiar em exércitos mercenários para cuidar dos interesses do país. E o povo seguiu com capacidade de se defender do imperialismo, mesmo sem Chávez, em frente popular. Não é a forma, é a luta e aonde ela quer chegar. Poderá o Presidente Lula pactuar o Povo com o Estado e dar continuidade à construção da Nação Brasileira, a exemplo de Getúlio Vargas? Dependerá muito de Lula, mas lhe ultrapassa, depende também de nós.
Já estão ao nosso lado quem poderá salvar o Brasil. O século XX esmaece e forças novas pulsam, aflitas, diante de um mundo aferrado ao passado e ao abismo. Nosso papel e o de Lula são semelhantes. Precisamos de um degrau mais baixo, em que o povo possa subir, crescer em força e decisão, em defesa do Brasil. Os limites da Frente Ampla são claros, estão no Arcabouço Fiscal. As possibilidades de Lula, do Brasil, do legado da nossa geração, do futuro, dependem da Frente Popular e do “novo equilíbrio do universo”, para usar as palavras de Bolívar. São do tamanho das carências de nosso povo, imensas. Ensinou Glauber Rocha, “mais fortes são os poderes do povo”. Quem sabe quanto pode o nosso povo organizado?! Nós, que não impedimos o Golpe contra a Dilma, não devemos contar apenas com nossas forças para defender o futuro que é da nova geração. Nós elegemos Lula para trazer o povo e a juventude de volta ao orçamento, à política e ao poder. declaremos guerra à solidão, ao cupulismo. O povo organizado é o nosso céu, isolados do povo não somos nada.
Você pode me dizer, é impossível. Assim como o povo soube evitar o bolsonarismo duro e deu uma mão à Frente Ampla, nós nos reconheceremos luta afora, companheiro, camarada. É preciso organizar essas boas gentes que atuam como Lula, para além de suas caixinhas, com solidariedade, generosidade, amor. É preciso reconhecer o poder da juventude e do povo. É preciso libertar o Brasil dos juros e do imperialismo. Essas convicções de amor e verdade são nossa força para construir uma Frente Popular, como expressão de um Bloco Histórico comprometido com a defesa da Nação Brasileira através de seu Povo. É preciso reunir as dores, juntar multidões, aprender e ensinar que o futuro é possível. Tem muito jogo pela frente, Lula está conosco, e a luta continua! Por um Feliz 2025 de vitórias!
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