Carlos Fernando Niedersberg concede entrevista a Zero Hora - Portal Vermelho
O ex-secretário de Meio Ambiente, Carlos Fernando Niedersberg, concedeu entrevista ao jornalista André Machado, onde nega qualquer envolvimento em ações irregulares quando esteve a frente da Fepam e diz que licenças ambientais são processos técnicos. Leia abaixo a integra da entrevista publicada no jornal Zero Hora de hoje (11):
André Machado/Agência RBS
Filiado ao PC do B, ex-titular do Meio Ambiente espera conversar com o governador e provar inocência
– Quantos milhões tem neste saco, seu corrupto? – disse o brigadiano, apertando com força os testículos de Carlos Fernando Niedersberg, 46 anos, no momento em que ele passava pela revista para ir falar com seu advogado, no parlatório do Presídio Central.
A situação constrangedora foi relatada ontem, durante uma hora de entrevista no mesmo apartamento onde o então secretário estadual do Meio Ambiente foi preso pela Polícia Federal na manhã de 29 de abril, suspeito de envolvimento em fraudes no licenciamento ambiental de empreendimentos.
O acanhado imóvel no bairro Bom Fim já estava sendo esvaziado na chegada dos policiais. Niedersberg está trocando o aluguel de R$ 1 mil pela locação de outro imóvel, no qual irá morar com a namorada, testemunha de sua prisão. Ele ficou no Central por quatro dias.
Mas nem os maus-tratos na revista nem o constrangimento de ser preso diante dos vizinhos foram os momentos mais difíceis para o químico indicado pelo PC do B para ocupar postos no governo Tarso Genro – antes de assumir a secretaria, no início de abril, ele presidiu a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
As piores recordações são das 12 horas que passou em uma sala apertada e de pé direito baixo dentro da sede da PF em Porto Alegre. Virado para a parede forrada com isolamento acústico, o ex-secretário passou a metade daquela segunda-feira buscando foco para entender o que ocorria. Havia um agravante: depois de ficar preso em um cano de esgoto aos seis anos de idade, Niedersberg passou a sofrer de claustrofobia.
Zero Hora – Como tem sido a rotina depois que o senhor deixou o Presídio Central?
Niedersberg – Tem sido um momento de acolher a solidariedade da família, dos amigos, dos camaradas de partido. Momento de reestruturar a vida. Foi um baque forte que a gente está vendo agora como se supera.
ZH – Trecho de um documento da Justiça Federal afirma que o senhor estaria diretamente envolvido na concessão ilegal de licenças ambientais. O senhor recebeu alguma vantagem indevida?
Niedersberg – Afirmo categoricamente que não. Repilo a ideia de que licenças ambientais possam ser transacionadas desta forma. Não é um ato político que dependa da vontade do gestor. A licença é um ato de construção técnico-jurídica.
ZH – Em algum momento lhe ofereceram vantagem para influenciar em processos?
Niedersberg – Nunca me ofereceram e sabem, olhando para a minha cara e conhecendo a minha vida, que jamais isto teria trânsito comigo.
ZH – Qual o seu relacionamento com os ex-secretários Berfran Rosado e Giancarlo Tusi Pinto e com o Instituto Biosenso?
Niedersberg – Tive a oportunidade conhecer Berfran e Giancarlo na campanha de 2008. Depois, fiquei um longo tempo sem vê-los. Com a criação do Biosenso, eles passaram a atuar como consultores ambientais, que é uma das atividades mais comuns de ter contato na Fepam.
ZH – Em uma gravação, o senhor pede recurso a Giancarlo para a campanha para vereadora de Jussara Cony. Como se deu este contato e o que o senhor pediu?
Niedersberg – Pela relação política construída com Berfran e Giancarlo, o que fiz foi ofertar convites para a festa da Jussara Cony. Foram 15 convites. Não recordo o valor, pois tinha convites de R$ 500 e R$ 1 mil. Eles ficaram com 15 convites para depois ajudar a vender.
ZH – Ainda sobre o pedido de recursos para a campanha de Jussara Cony. Depois da venda destes convites, de acordo com a PF, o senhor teria atuado em prol do Biosenso com a OHR. O senhor conhece a OHR?
Niedersberg – Pessoalmente não conheço, mas, como estudei o processo, sei do que se trata. É um dos dois processos do Biosenso que eu tinha conhecimento na Fepam. É absolutamente inverídica esta afirmação de que há qualquer ligação. Era um processo extremamente moroso pela sua dificuldade e que não atendeu aos interesses iniciais do empreendedor.
ZH – O senhor não atendeu então o interesse da OHR em um condomínio no Litoral? O projeto ao fim foi liberado?
Niedersberg – O empreendimento tinha licença da Fepam. No processo de revisão que fizemos em todos os processos do Litoral por conta de uma busca e apreensão da polícia em 2012, esta licença foi revisada. Nesta revisão, vários interesses dos empreendedores foram revertidos. Trata-se de saber se o terreno tinha ou não área de banhado. A posição foi de que havia e que o banhado deveria ser preservado.
ZH – Consta no relatório da PF que o senhor teria almoçado com representantes da OHR e com Berfran em uma churrascaria. O senhor lembra disto?
Niedersberg – Lembro e isto não corresponde. Almocei exclusivamente com Berfran.
ZH – Qual a sua reação diante da exoneração imediata?
Niedersberg – A posição do governador, estando em Israel e sabendo de um ato que chegou à consequência de uma prisão, não poderia ser outra que não a exoneração. Não o critico. Espero ter a oportunidade de conversar, olhar nos olhos dele e falar: sou inocente. Ele sabe disso e conhece o meu trabalho.
ZH – Quando Gabriele Gottlieb foi indicada para a presidência da Fepam, o senhor sabia que ela respondia a um processo em razão da rápida concessão de licença para um parque eólico em Quintão?
Niedersberg – Com certeza. Era um dos processos que mais me orgulhavam. Conseguimos fazer do Rio Grande do Sul uma referência em energia eólica. O Conama está debatendo uma resolução sobre o licenciamento destes parques baseada na experiência gaúcha. Criamos uma expertise para licenciar parques sem nenhuma irregularidade.
ZH – O senhor foi apontado por outros presos da operação como o mais nervoso no Central. Por quê?
Niedersberg – No Central, não concordo com a afirmação. Eu estava muito mal no dia da prisão por ter claustrofobia. Aos seis anos, fiquei preso por 12 horas em um cano de esgoto com outras pessoas por cima. Sou muito claustrófobo, e o ambiente na PF foi muito angustiante. Senti como se fosse a boate Kiss durante 12 horas.
ZH – Qual era a sua relação com o servidor Mattos’Alem Roxo?
Niedersberg – Mattos’Alem era chefe do balcão do Litoral Norte quando tivemos denúncias em relação à atuação dele num inquérito do MP. O retiramos da chefia e o trouxemos para a sede. Ele ficou afastado da atividade de licenciamento, e abrimos uma sindicância interna. As duas reuniões que ele teve comigo desde então foram para pedir para ingressar no serviço de emergência ambiental, um dos mais importantes da casa. E apresentei para ele a impossibilidade diante do inquérito e da sindicância que ele respondia.
ZH – O presidente estadual do PC do B, deputado Raul Carrion, fez referência a agressões que o senhor teria sofrido no sistema prisional. Como foi?
Niedersberg – Foi um episódio isolado. Dentro do possível, o tratamento no presídio se deu com dignidade. A curva que fugiu do ponto foi em uma revista quando fui ao parlatório conversar com meu advogado. Na revista, tive uma pressão psicológica muito forte, me chamando de coisas que não tenho coragem de repetir, e pressionando os meus testículos simultaneamente. O fato já foi debatido com a direção do presídio.
ZH – O que a sua vida mudou do ponto de vista pessoal e material desde que o senhor assumiu funções públicas?
Niedersberg – O meu crescimento profissional foi fabuloso nestes dois anos. Acho que fiz uma gestão revolucionária na Fepam. Do ponto de vista material, ao longo deste período, não tenho nada a acrescentar de positivo. Meu saldo bancário e fiscal está disponível e pelas condições que vivo é possível demonstrar que não ganhei um centavo de patrimônio ao longo destes anos.
Fonte: Zero Hora
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