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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Discurso de Raúl castro em almoço de honra oferecido em Brasília
Do Granma
Os cubanos e os brasileiros, com voz própria, com respeito e sem intermediários, temos posições comuns
• Palavras proferidas pelo presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros da República de Cuba, Raúl Castro Ruz, durante o almoço de honra oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como parte da visita oficial realizada ao Brasil, em 18 de dezembro de 2008, "Ano 50 da Revolução".
(Versões estenográficas do Conselho de Estado)
Caro presidente Luiz Inácio Lula da Silva;
Amigas e amigos brasileiros;
Distintos representantes do corpo diplomático e das diversas instituições do Estado brasileiro:
É para mim tamanha satisfação estar hoje no Brasil, cumprindo a visita oficial que prometi a nosso amigo, o presidente Lula, e com a qual nos propomos contribuir para a ampliação das relações históricas entre nossos povos.
Os laços de irmandade entre Cuba e Brasil continuaram consolidando-se ao longo dos anos, enriquecidos por uma identidade cultural nascida de nossas raízes. Apenas faltava a essa relação humana o incremento dos vínculos econômicos, que se multiplicaram com o governo chefiado pelo presidente Lula.
Gostaria de expressar minha gratidão pela imediata ajuda solidária do governo brasileiro ao povo cubano após a passagem dos três furacões que devastaram nosso país neste ano e causaram perdas materiais milionárias, de ao redor de 20% do PIB do ano atual; ou seja, aproximadamente uns US$10 bilhões.
O fato de estar no Brasil me permite expressar pessoalmente o que já manifestei em carta ao presidente Lula: nossa mágoa pelas perdas de vidas humanas e pelos danos materiais ocasionados pelas inundações no estado de Santa Catarina. Faço-o em nome de um povo que sabe perfeitamente o que significa enfrentar desastres como esses.
Agradeço, também, a permanente repulsa do Brasil ao bloqueio econômico imposto a nosso país durante quase 50 anos e as recentes declarações de solidariedade e exigência de respeito a Cuba do Congresso brasileiro.
Passo a passo, os cubanos e os brasileiros, com voz própria, com respeito e sem intermediários, temos posições comuns quanto à defesa do Direito Internacional, do multilateralismo, do direito à livre determinação dos povos, ao repúdio a qualquer tentativa de imposição da vontade de um Estado sobre outros, e temos a firme convicção de trabalhar por uma maior conciliação política latino-americana e por uma integração mais comprometida com a justiça social e a dignidade dos seres humanos.
Na recente reunião que realizamos, comentamos que os latino-americanos já temos a maioridade, que já queremos ter voz própria e queremos dizê-lo tanto aos vizinhos do Norte de nosso continente quanto à Europa, à Ásia, ao mundo inteiro e temos que dar passos que conduzam à situação à qual aspiramos há séculos.
A reunião que concluímos — as cúpulas, porque foram quatro, mas Cuba participou de três delas — é o primeiro passo desse longo caminho, porém já desse longo caminho já percorremos um trecho muito longo; não falta muito, só depende dos latino-americanos, depende de que tenhamos a firmeza de representar os interesses de nossos povos perante as maiores potências do planeta.
Cuba foi uma experiência neste meio século. Aceitamos a amizade e as divergências com os outros. Vivemos encurralados uma parte destes 50 anos, mas defendendo-nos com firmeza. Essa firmeza demonstrou que foi justa nossa causa. Por isso posso estar falando em nome de um povo livre e independente, diante dos queridos irmãos mais velhos do continente latino-americano: o povo do Brasil, a próspera e cada vez mais potente nação do Brasil.
Não vou falar muito. Costuma-se a dizer que os discursos de Fidel eram longos, nem tanto como os de Chávez, e eu tenho fama de ser mais concreto, sou menos inteligente que eles e não posso falar de muitas coisas, e ainda menos menos improvisá-las; mas não é necessário, neste caso, alongar-me muito.
Não vou falar dos intercâmbios comerciais, do progresso que vamos tendo, do desequilíbrio que aos poucos eliminaremos, conforme nossas possibilidades de país pequeno frente ao Brasil, mas vamos para frente e o presidente Lula se referiu a este aspecto, com quem concordo em todas suas palavras, desde que começou até que acabou — eu creio que isso merece um pequeno aplauso (Risos e aplausos).
Referindo-me à cúpula que acabamos de efetuar em Salvador da Bahia, dizia que é mais um passo no complexo caminho da integração dos povos da América Latina e do Caribe. E nesse empenho, respeitando nossas diferenças, Cuba colocará todas suas forças em consolidar este objetivo.
Quando o mundo entra numa crise de conseqüências imprevisíveis, porque todos os prêmios Nobel de Economia e os que mais sabem de economia do planeta ainda não coincidiram em qual será o fim deste caminho, mas golpeará com mais força os mais pobres, como sempre, vale a pena acreditar, como disse esse brasileiro universal que é Oscar Niemeyer, que o importante é ter sempre a idéia de um mundo melhor dentro de nossos corações, e que se a miséria se multiplica e a escuridão nos envolve, vale a pena aí acender uma luz e arriscar. Isso é que fizemos em Cuba.
Por tal motivo, brindo este abraço em Brasília, com a mente em quem abriu o caminho e nos acompanha de Havana, Fidel Castro, em sua afeição pelo povo brasileiro e por você, Lula, na fé inquebrantável que sempre teve em que prevaleçam as virtudes dos povos e dos homens, e em sua convicção infinita, que é a mesma de José Martí, de que só unida nossa América pode se salvar.
Cheguei hoje de madrugada a Brasília, procedente de Salvador dae Bahia, onde compartilhamos brevemente com mais três presidentes: Chávez, Evo Morales e o presidente Manuel Zelaya, de Honduras, e vamos embora mesmo de madrugada, na próxima madrugada. Não sou jogado fora, vou embora porque tenho receio de me apaixonar pelo Brasil e sua gente (Risos).
Muito obrigado (Aplausos).
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