"O fascismo no Poder (...) é a ditadura terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro." E ainda: "O fascismo é o Poder do próprio capital financeiro. (...) Dimitrov, "A luta pela unidade da classe operária contra o fascismo", VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, 2 de agosto de 1935
Se é verdade que a passagem das mudanças quantitativas lentas a mudanças qualitativas bruscas e rápidas é uma lei do desenvolvimento, é claro que as revoluções realizadas pelas classes oprimidas constituem um fenômeno absolutamente natural, inevitável. Consequentemente, a passagem do capitalismo ao socialismo e a libertação da classe operária do jugo capitalista podem ser efetuadas, não por transformações lentas, não por reformas, mas somente por uma mudança qualitativa do regime capitalista, pela revolução. Assim, para não nos enganarmos em política, é preciso sermos revolucionários e não reformistas. (Materialismo Dialético e Materialismo Histórico, 1938)
Um certo empresário desdisse há poucos dias seu apoio ao bolsonarismo; arrependeu-se, premido pela crise de suas empresas. Sempre creio mais sinceras as críticas "na alta", que os mea culpa "na baixa", especialmente quando há interesses em jogo. Vejo o júbilo entre nós diante de vitórias no judiciário, e me pergunto se é justificado, porque fui ensinado a olhar o horizonte, que promete raios e tempestades.
A perda de intenções de voto durante todo o ano de 2022, que levou à margem reduzida da vitória de Lula e de toda a Frente Ampla sobre Bolsonaro, o cenário legislativo adverso decorrente dessa mesma eleição, o cerco da mídia e do capital financeiro, a força eleitoral, bélica e de massas da extrema direita, seus arreganhos contra o MST, a nossa dependência e fé no judiciário brasileiro, a ausência de um poder moderador da classe trabalhadora quando os têm tantos a burguesia, tais são os elementos que alertam contra ilusões quanto à fortaleza de nossas posições e da própria Frente Ampla. Maquiavel ensinava há cinco séculos, que o único problema da vitória obtida graças a exércitos mercenários estrangeiros, é que, depois da vitória eles e suas armas ficam, não vão embora...
Se tais fatores são verdadeiros para o PT, que lidera nossa Federação, aonde várias lideranças problematizam os limites da Frente Ampla, creio que ainda mais deveriam preocupar o PCdoB, que tem vivido uma curva eleitoral nacional descendente. Há um descompasso entre nossa autoimagem e representação político-institucional e a percepção de nossa classe e eleitorado. Alguns "gênios" descobriram que a fórmula mágica para enfrentar o anticomunismo é deixar de ser comunista. Outros, já estão na clandestinidade, escondendo o que somos, com o recurso à jardinagem - "Bota uma florzinha aí", vai que cola. Não colou. Talvez, tais atitudes expliquem, mais que qualquer pesquisa, como foi possível ampliarmos exponencialmente nossa representação político- institucional desde 2004, e perder votos... Não era para crescermos com essa participação? Para muitos, hoje, a última coisa é o Partido.
É preciso acumular, sim, amplas forças, e isso passa por construir força e convicções próprias que possam impedir um novo retrocesso para o Brasil. Se, de 2015 a 2022, retrocedemos tanto, o que pode acontecer se não nos entricheirarmos com o povo para garantir nossa atual vantagem?
Para mim, a encruzilhada histórica está diante de nós, assustadora ou alvissareira, a depender de como a enfrentemos. Pêia vai ter de qualquer jeito. Veremos com nossos próprios olhos a decomposição do Brasil ou a sua libertação, no curso da mudança do mapa do mundo. A ilusão do caminho pacífico e a fé irrestrita na "institucionalidade" são más conselheiras, basta ver a nossa História.
Estamos diante do dilema de vida e morte vivido por países periféricos, que lutaram contra a aniquilação e afirmaram a sua opção de ser Nações. Foi essa opção por ser livres que tornou inevitável a alternativa socialista, única via para a salvação nacional. Por isso é atual a consigna do Programa Socialista do PCdoB: O fortalecimento da Nação é o caminho, o Socialismo é o rumo. Contudo, mesmo em muitos entre nós, falta a perspectiva socialista. Segundo eles, "coisa para a próxima geração". Curioso. Afinal, boa parte do esforço da mídia ocidental é precisamente negar que haverá a próxima geração.
Conte você, leitor, leitora, os filmes, séries, novelas, histórias, podcasts, que têm o seguinte enredo: o mundo vai se acabar sob o capitalismo. Você pode escolher o jeito, até: a volta de Jesus, cometa, terremoto, vírus, fungo, bactéria, zumbi, ET, Inteligência Artificial, bomba atômica; mas segundo eles, vai acabar com certeza. Só sobrarão de 1 a 2% de humanos de verdade. Quem não for, atire na cabeça, porque nem gente é. Quando foi que a fina flor das histórias da indústria cultural ocidental - propriedade dos 1% que detém mais riqueza que os 99%, e dirigem o capital financeiro - passou a ser esse roteiro bizarro, e por que? Como podemos ignorar uma "dica" dessas? No polo oposto, o próprio Fidel dedicou seus últimos escritos a alertar-nos sobre "O destino incerto da espécie humana". A urgência e a responsabilidade devem marcar de nossos gestos e ideias, um olhar de mais ampla perspectiva e desprendimento, em vez da tábula rasa do pragmatismo.
Não se confundam minhas posições com a negativa da participação política, eleitoral, com um esquerdismo qualquer. Sou é contra o rabo balançar o cachorro, o sequestro da consciência avançada pelo pragmatismo e por grupos de interesse. Eu nunca fui um reformista, não acredito no caminho pacífico, nem sou um leigo. Sou um sociólogo marxista, um intelectual orgânico da classe trabalhadora, um trabalhador bancário, e fiz uma opção cotidiana, que seguirei honrando. Tenta-se passar o requentado reformismo pela única via, mas não é verdade.
A presente época foi aberta em 1998, por Hugo Chávez e pela Revolução Bolivariana, que superou o dilema Reforma/Eleição X Insurreição/Revolução por um caminho inusual. Ele dizia: revolução pacífica, mas armada. Ele mudou o jogo e deu o "drible da vaca" no imperialismo. Desde 1998, seguimos o rumo de busca de unidade de frentes político-sociais heterogêneas lideradas pela esquerda, capazes de chegar a vitórias eleitorais e, a partir delas e da crescente participação popular organizada, assumir os vetores estratégicos do desenvolvimento e do Estado, e da Defesa Nacional, buscando a ruptura com o neoliberalismo. Necessário é diferenciar tais processos da mera aderência ao reformismo e à cooptação pelo Estado burguês. A pedra de toque é a capacidade de resistir aos ataques da guerra híbrida, capacidade indissociável da Unidade Popular.
O momento presente é de encruzilhada e transição. Ou apostaremos na defesa intransigente do Brasil, no caráter classista contemporâneo dos movimentos sindicais, de juventude, de moradia, populares, da luta pela emancipação das mulheres e pela igualdade racial, como lastro da Frente Popular, ou dependeremos exclusivamente do Lula para impedir um novo retrocesso. Vejo com admiração infinita cada gesto desafiador de Lula, que pode se afigurar como um Getúlio Vargas dessa época. Mas confesso o meu coração aflito, pois olho para um lado, olho para o outro, e não vejo nossa condição de o salvaguardar diante do funesto destino reservado pelo imperialismo, sempre que de apenas uma pessoa dependeu a libertação de uma Nação. Vivemos sob o impacto da nova ascensão do fascismo e da transição do polo dinâmico da economia mundial para a Ásia. Não vai acalmar.
A nova ascensão do fascismo no mundo não é casual, mas decorrência do próprio desenvolvimento capitalista sob o imperialismo, é reação à ascensão da China sob a Reforma e a Abertura, ao novo caminho aberto por Chávez para nossa libertação do domínio estadunidense na América Latina e à recomposição do Estado nacional Russo.
O fascismo é filho da concentração inacreditável do poder financeiro sob o imperialismo, das crises múltiplas do capitalismo, de uma nova revolução tecnológica que possibilita-lhes dirigir até a classe trabalhadora contra si própria, e da mudança do mapa do mundo. Tais fenômenos, presentes na década de 30 do século XX, ressurgem no século XXI, e seu sinal, para nós, foram as marchas de junho de 2013. É preciso pensamento e ação revolucionários para enfrentar essa quadra. Não cultivemos o negacionismo político, nem o oportunismo entre nós. Desafiadora ante nos, há uma encruzilhada. Precisamos saber nosso papel e como agir de acordo para, adiante, afirmar a Nação Brasileira, que é nosso povo, e dar nossa contribuição nacional para uma nova época da Humanidade, um mundo multipolar, em que possamos como Brasil e América Latina, contribuir com a magna tarefa de lutar pelo futuro da espécie humana, indissociável da perspectiva socialista.
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AVANTE CAMARADA
ResponderExcluirÀs vezes é preciso dizer o incômodo.
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