Ao cair da tarde de ontem - 10.03 -, a vida de meu iluminado pai encontrou-se com a eternidade.
Francisco Lopes de Arruda faleceu aos 97 verões. "Seu" Lopes, como era conhecido, deixa esposa, filhos(as), netos(as), genro, noras e amigos (as) com eternas saudades e muitas lembranças de um honrado homem do sertão que viveu na cidade grande tudo o que há pra viver.
Orgulhoso filho da localidade de Sítio Madeiro, na pequena e serrana cidade de Mulungú/Ce, Chico Camundo - apelido de infância que o acompanhou por toda a vida - veio para Fortaleza ainda jovem, trabalhou no cais do porto, n´um hotel do centro da cidade e em outros empregos até se estabelecer como funcionário civil da Base Aérea de Fortaleza. Serviu aos militares da esquadra norte-americana sediados em Fortaleza na segunda grande guerra, tendo com eles aprendido frases em inglês que deixavam escapar a dureza com que os homens simples eram tratados naqueles tempos, mas que sempre foram motivo de orgulho pelo vivido e sorrisos mangadores. Galante e dono de um bom humor tipicamente sertanejo, conquistou e casou com a jovem migrante de Mossoró/RN Francisca Nunes de Arruda, fizeram morada no Dias Macêdo e juntos tiveram, criaram e educaram sete filhos. Homem de hábitos simples, era amante da sanfona, do violão, do cordel, do repente, das cantigas populares, do tempo bonito pra chover e da fartura conquistada com o trabalho duro na roça ou no batente.
De pouco estudo e muita inteligência, nunca deixou faltar em casa o suficiente para alimentar a família e garantir o estudo da prole. Conservador, respeitou tanto quanto não entendeu quando os filhos e filhas declararam sua escolha pelas lutas e causas populares. Mesmo assim, vigiou inúmeras reuniões, abrigou muitos(as) lutadores (as) em sua casa e foi eleitor fiel dos "encarnados".
Quando o filho mais novo sofreu um acidente e perdeu quase todos os movimentos, lamentou, fez o 'pelo sinal' e sempre ajudou 'o minino' enquanto teve forças, sendo um dos seus prazeres nos últimos anos passear no carro do filho 'fim de rama'. Já não estava tão lúcido quando perdeu um dos filhos e mais recentemente uma neta, mas quase sempre lembrava seus nomes quando perguntado e lamentava suas partidas precoces.
A mão estendida em busca do aperto, o chamado pela companheira com quem partilhou quase 60 anos de vida e um ar sério que de vez em quando deixava escapar o espírito gaiato são algumas das muitas marcas do "Seu" Lopes, o Chico Camundo, que ficarão eternizadas na lembrança de quem teve a felicidade de conviver com ele.
Foi esse homem solar que ontem se fez eterno ao pôr do sol.
Obrigado por tudo, pai.
Com pesar,
Flávio Arruda
Missa de corpo presente e sepultamento. Sexta, 11.03, às 15 e 16h no cemitério Jardim Metropoitano.
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