“Decisivo na luta de ideias”, Augusto Buonicore é sepultado em SP
12 de Março, 2020
O último adeus ao historiador Augusto Buonicore foi marcado por emoção e lembranças de camaradas do Partido Comunista do Brasil, amigos e familiares. Augusto tinha 59 anos e faleceu nesta quarta-feira (11), após nove meses de tratamento de um linfoma no intestino.
Membro do Comitê Central do PCdoB, Buonicore publicou numerosos artigos sobre o marxismo. Mesmo em tratamento, continuava a produzir conteúdos para a Fundação Maurício Grabois e já trabalhava em artigos sobre o fundamentalismo e identitarismo, segundo a companheira Sônia.
O presidente da Fundação, Renato Rabelo, destacou que será difícil ocupar a lacuna deixada por Buonicore. Para ele, “serão necessárias quatro ou cinco pessoas trabalhando para fazer o que Augusto fazia na Fundação”.
Rabelo (foto ao lado) também destacou a amplitude do discurso de Augusto, que conversava e ouvia todas as correntes “Um estudioso do marxismo, um grande militante comunista. Ele estava no seu melhor momento como intelectual e fará uma falta enorme, sobretudo nesse momento que mais precisávamos dele. Um participante decisivo na luta de ideias quando a gente busca saídas”.
Em fevereiro, Buonicore publicou, em sua página no Facebook, lembranças da militância no PCdoB, que havido completado 40 anos. “Ele foi um dos principais quadros do partido que interpretou com justeza a importância da luta das ideias e implementou métodos para isso”, lembrou Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB e amigo de Buonicore desde o início da militância partidária.
Autor do livro Meu Verbo É Lutar – A Vida e o Pensamento de João Amazonas, biografia do ideólogo e construtor do PCdoB, Augusto era conhecido pela formação teórica no partido. Diversas lideranças partidárias passaram pelas aulas de Augusto, que ajudou a fundar a escola nacional de formação do PCdoB.
“Além da elaboração da escola, a grande contribuição dele era o modo simples e didático que ele trabalhava. Ele exerceu um papel muito além de professor e militante. Além de professor, ele formava professores”, lembrou Nereide Saviani, diretora da Escola Nacional João Amazonas.
Os artigos do historiador nortearam diversas lutas dos comunistas. “Os artigos que ele escreveu sobre a relação da questão racial e o marxismo são referências para quem pensa uma sociedade sem racismo no Brasil”, destacou Edson França, presidente da União de Negros e Negras do Brasil (Unegro).
Amigos de Augusto Buonicore – que era militante do partido em Campinas, interior de São Paulo – lembraram a postura de homem culto e simples. “Cresci admirando seu conhecimento como historiador e coerência política, mas também o exemplo e legado enquanto ser humano que luta por uma sociedade mais justa”, disse o vereador comunista de Campinas, Gustavo Petta.
Para a presidenta do PCdoB Campinas, Márcia Quintanilha, Buonicore, “com seu trabalho deu visibilidade ao Museu da Imagem e Som (MIS) e ao Museu da Cidade. Intelectualmente, estava no seu melhor momento de elaboração da nossa política, principalmente no que diz respeito à Frente Ampla. Por aqui, continuaremos seu legado de investir na formação política e ideológica dos nossos militantes e construir a unidade política para derrotar o conservadorismo”.
Durante a trajetória na cidade, Buonicore organizou a Associação dos Secundaristas de Campinas (ASC). Depois, participou da reconstrução da União Campineira dos Estudantes Secundaristas (Uces) e, posteriormente, da Upes e da Ubes. Formado em história pela PUC-Campinas, onde atuou no movimento universitário, passou a militar no movimento sindical e participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal de Campinas (STMC).
Jadirson Tadeu, atual coordenador do sindicato, destacou que Augusto “deixa uma riqueza tremenda para o sindicalismo e o partido”. Riqueza essa destacada pelo presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo: “A classe trabalhadora sempre pode nutrir da preocupação de Buonicore pela produção de conteúdo e ideias”.
Sepultado na manhã desta quinta-feira (12), Augusto Buonicore deixou a mãe, Dolores, a esposa, Sônia, e a filha, Clara.
Ideias permanecem – Abraçada a Clara, Sônia estava muito emocionada, mas com a voz firme. Recordou que ao longo dos nove meses de tratamento, de luta contra o linfoma, o marido se manteve esperanço de que poderia vencer a doença. Ela agradeceu e elogiou a equipe de saúde que tratou dele, “tanto do ponto de vista técnico quanto humano ”.
Sublinhou que Buonicore tinha consciência de que poderia haver recidiva da doença. Apesar disso, o que queria, contou, era mais algum tempo de vida para realizar seus projetos, escrever ensaios e artigos. Mesmo sob tratamento quimioterápico pesado, escreveu três trabalhos. Na última etapa, quando ficou totalmente isolado no hospital, levou uma pilha de livros. Os médicos ficaram admirados ao vê-lo lendo e fazendo anotações, registrou Sônia. Segundo ela, mais do que nunca, o historiador estava convicto do valor da batalha de ideias, da necessidade de se elaborar textos densos e acessíveis, sobretudo para a juventude.
Sônia destacou o vínculo, o compromisso inquebrantável de Augusto Buonicore, com o Partido dele, o PCdoB. Falou ainda da indispensabilidade da legenda para o processo transformador. E destacou um traço marcante da militância dele: a disciplina. Era entusiasta do debate, das discussões, mas desde que fossem travadas nos fóruns adequados do Partido.
Sonia ainda destacou as qualidades de Buonicore como companheiro amoroso, pai carinhoso e que cultivava o bom humor. E finalizou: “agora, ficaram as ideias dele e ele continuará pulsando em nossos corações”.
De Campinas, Henrique Brazão (texto e fotos)
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