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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Dilma busca investimentos para o Brasil e fala de Silvério dos Reis, o delator - Paulo Vinícius Silva

Critica-se justa e injustamente a Presidenta Dilma no quesito comunicação. Por isso,gostei muito da entrevista coletiva que deu ao final do Encontro Empresarial sobre Oportunidades de Investimento em Infraestrutura no Brasil em Nova Iorque/EUA (29/06). O Jornal Nacional fez crer que foi um pronunciamento sobre as recentíssimas delações do Presidente da UTC, feitas para fazer coro com a tentativa de golpe de Estado que se quer dar no voto popular que a elegeu. É só mais uma mentira.

Muito mais foi dito. Dilma apresentou em poucos minutos os objetivos de ampliação do comércio exterior e dos investimentos dos Estados Unidos no Brasil. A 13ª rodada de concessão na área de petróleo e gás no dia 7 de julho, o  plano de investimento em energia elétrica no mês de agosto, a COP 21 - a cúpula do ONU sobre a mudança no clima, em Paris a partir de novembro. Dilma reuniu-se com Henry Kissinger - triste figura de inegável importância - além de executivos de companhias como Blackrock, o Blackstone Group, o Blenheim Capital Management, Cerberus Global Investiments, Citigroup, Diamond Offshore Drilling, Loews Corporations, JP Morgan, Starwood Capital Bondmann, TGP Partners, Valor Capital Group e Warburg Price Pincus, além do próprio encontro de infraestrutura.

Evidencia-se uma correta costura política e econômica com vistas a ampliar os investimentos, balanceando o peso entre as relações que o Brasil tem com a Ásia, a Europa, os BRICS, a América Latina e os EUA. A necessidade imperiosa do enfrentamento à crise levou-a à busca objetiva de ampliação dos investimentos, sobretudo em infraestrutura. Trata-se de movimento necessário, e não se deve admoestá-la em face disso. Ladeada por vários ministros, dentre os quais o da Ciência e Tecnologia, o comunista Aldo Rebelo, Dilma busca a viabilidade econômica do seu mandato e dos empregos, e acredito, sem abrir mão dos interesses do Brasil.

A cobertura da imprensa brasileira  resumiu-se à provocação. parcialidade descarada aliada à ausência de substância jornalística. Falou-se somente do "mal estar" - o que mostra o naipe da sabujice midiática - diante do escândalo da espionagem que antecedeu o brutal ataque em curso ao Brasil e à Petrobrás. Fala-se de um acordo de livre comércio defendido pelos EUA, mas que não existe como se fosse o grande resultado. Cara de pau imensa, já que foi a eleição de Lula que impediu a implantação da Área de Livre Comércio das Américas. Na imprensa golpista vemos misturar-se um coquetel de mentiras como se fosse notícia, mas é apenas o coquetel de fundamentalismo de mercado e "wishful thinking" - pensamento desejoso (afinal para o PIG entender, melhor em inglês).

E, por fim - "era sapateiro e morava em Lisboa" -, no JN a única parte da fala de Dilma que poriam no ar, para que toda a visita se resumisse às declarações de Dilma sobre a delação do empresário Ricardo Pessoa, que lideraria o cartel de empreiteiras e que, finalmente, faz declarações para atender o desejo da imprensa  golpista e da oposição, um golpe que se gesta aberta, descaradamente e com um roteiro que todos sabemos de cor. E foi aí que Dilma superou-se. Senão, vejamos, e permitam-me chamar a atenção a partes da fala de Dilma, em negrito:

EXTRATO DA ENTREVISTA COLETIVA DE 29/06/2015 (Blog do Planalto)

Jornalista: Presidente, eu preciso perguntar para a senhora sobre a delação do dono da UTC. Quais são os seus pensamentos sobre isso, o que senhora teria a dizer sobre (inaudível).

Presidenta: Olha, eu quero dizer algumas coisas sobre isso. Primeira coisa: a minha campanha recebeu dinheiro legal, registrado, de R$ 7 milhões, R$ 7,5 milhões. Na mesma época que eu recebi os recursos, pelo menos uma das vezes, o candidato que concorreu comigo recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores.

Jornalista: A senhora está falando do Aécio Neves?
Presidenta: Eu estou falando do Aécio Neves, só tinha um candidato que concorreu comigo, não tinham dois.
(BUFO!)
Jornalista: No segundo turno, não é?
Presidenta: Não, não, mas eu estou falando do segundo turno, tá? Eu estou falando, isso ocorreu no segundo turno. Além disso, eu nunca recebi esse senhor, eu nunca o recebi, em toda a minha passagem pelo meu primeiro mandato. Terceiro, eu não tenho esse tipo de prática. Quarto, eu não aceito, e jamais aceitarei, que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade, primeiro porque não houve, segundo, porque se insinuam, alguns têm interesses políticos e, terceiro, entre… eu sou mineira, sou mineira, então eu tenho uma coisa que me acompanhou, ao longo da vida:

(É aqui que Dilma mostra o coração valente)

em Minas, na escola, quando você aprende como é que é a bandeira, você desenha a bandeira, que é o triângulo, e escreve “Libertas Quae Sera Tamen”, e aprende sobre a inconfidência mineira. E tem um personagem que a gente não gosta, por quê? As professoras nos ensinam a não gostar dele, e ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator. Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora; a ditadura fazia isso com as pessoas presas. E eu garanto para vocês que eu resisti bravamente, até em alguns momentos fui mal interpretada, quando eu disse que para… em tortura, a gente tem de resistir, porque senão você entrega seus presos. Então, não respeito nenhum… nenhuma fala. Agora, acho que a Justiça, para ser bem precisa, a Justiça tem de pegar tudo o que ele disse e investigar. Tudo, sem exceção. A Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.

Nesse ponto é que se concentram as grandes virtudes de sua coletiva para além das perspectivas econômicas.

1) Ela deu o grande furo jornalístico apesar da blindagem do PIG. Dilma perguntou: por que só com o PT? Por que o Aécio não?

2) Explicitou o verdadeiro sentido da expressão delator, colocando o debate nos seus devidos termos. a despeito de matérias como a do Valor econômico, um delator não é um denunciante. Ele tem duas faces, que Dilma expôs cruamente. A primeira, a primeira é a da traição pura e simples ao Brasil e ao seu povo. Dilma lembrou Silvério dos Reis, que traiu o Brasil e Tiradentes diante da metrópole de então, Portugal. Naquele contexto o traidor saiu-se bem dos que denunciara, famosos pelo sentido original de xingamento no título de "inconfidentes". Mas, a História e o coração do povo souberam moer as palavras e captar a verdade, de que o vilão foi a Metrópole, o traidor foi Silvério dos Reis, e o mártir da nacionalidade é Tiradentes. Ela explicitou o que está em jogo, continuando a defesa da que fizera da Petrobrás. O que está em jogo é o Pré-Sal, o Brasil. Relações transparentes entre governos não devem atemorizar-nos, mas sim a existência de Silvérios dos Reis espalhados seja nas carreiras de Estado, seja na política, seja na imprensa, que desejam derrubar Dilma para levar adiante a entrega do Pré-Sal e a regressão nas conquistas obtidas nos últimos 12 anos.

A certeza de estar do lado certo, de Tiradentes, na defesa de a riqueza do Pré-Sal seja uma alavanca para desenvolver o Brasil, a despeito das tempestades e das injustiças, essa certeza Dilma foi buscar em Minas, em Tiradentes, na lembrança da primeira ideia de amor pátrio e de conduta no decorrer da vida.

3) O outro aspecto do delator, que delata sob sinistras injunções, se não são o interesse. Dilma lembrou que o delator não é apenas o que trai, mas também aquele que fala sob tortura. Aquele que é preso primeiro para "ser motivado" a se acusar. Não calam as indignadas críticas que apontam para um superativismo judiciário em política, para a associação entre justiça/imprensa golpista/oposição e para a partidarização descarada do processo judiciário. A referência à tortura, tão forte, explica enfim porque ela "respeita falas de delator". Seja pelo gesto, seja pelas motivações, seja pela veracidade, o delator diz o que quiserem seus captores. Por isso são heróis os/as que à tortura resistiram, como Dilma Roussef.

4) Olhou no olho e não apenas mostrou que merece respeito, mas que é preciso continuar a investigar para separar o joio do trigo, sem golpismos, e para a defesa da Petrobrás.

Penso que nesse primeiro semestre a despeito do vendaval, Dilma fez o que pôde para abrir janelas ao Brasil diante da crise. O resultado - na Petrobrás, no Pré-Sal, nos projetos estruturantes e na captação de recursos internacionais - é muito importante e positivo, a despeito da política monetária, dos erros políticos grosseiros que afastaram a Presidenta de suas bases, e de toda a sabotagem econômica. Destaque-se também a parceria Brasil China e os seus investimentos no Brasil. O plano safra e a ampliação inédita dos investimentos em agricultura familiar também compõem esse cenário. Essas ações são decisivas para o governo poder cumprir uma agenda de desenvolvimento.

Mas sem a política, não servirá de nada a economia. E, se urge mais que nunca que ela faça política, também o povo deve fazê-la para a derrota do golpismo. Só derrotando o golpismo, faremos a defesa da democracia, das conquistas, do aperfeiçoamento e da defesa da Petrobras e do Pré-Sal. A presidenta deu o tom sobre o que são as delações, coisa de aproveitadores, criminosos com interesses nada honestos, coisa de quem se dobra diante da tortura. No fim das contas, Dilma disse que não se dobra, que não se rende.

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