Estive hoje (20-06) no ato em Brasília. Ao contrário das pautas de luta concretas que vi em São Paulo, de sentido reivindicatório progressista, por educação, saúde e transporte, o que há em Brasília é o peso próprio de uma classe média conservadora, branca, endinheirada, atuando com claro propósito desestabilizador e com o calendário eleitoral na cabeça. Via-se de tudo. Filhinhos de papai das grandes escolas privadas, cartazes em línguas estrangeiras, servidores públicos graduados, milicos reformados - e decerto da ativa, vários -, e membros de corporações conservadoras interessados diretamente em algumas pautas, como no caso da PEC 37 e no monopólio de mercado da medicina nacional privatizada.
Se em outros estados já se denunciou a provocação, a infiltração, aqui é pior, porque não há necessidade de infiltrar-se, é uma parcela expressiva do ato. Essa fatia historicamente ligada às tentativas de desestabilização e golpes, a turma do Carlos Lacerda e do "Mar de Lama", que levou Getúlio ao suicídio, a mesma fatia das marchas "de Deus pela Família e a Propriedade", mas também aquela que, em 2005, tentou derrubar Lula. É o mesmo tipo de gente que depois dirigiu as marchas que se diziam contra a corrupção, e agora está exultante, sentindo no presente momento a oportunidade que há tanto anseia, desestabilizar o projeto que tem mudado o Brasil.
Uma dondoca falava hoje pela "coordenação do movimento" na TV. Um dinamarquês bombado e ensandecido me gritava na marcha por minha bandeira cetebista, uma jovem erguia um singelo cartaz "Não ando de ônibus, mas quero dignidade". Outro, um senhor de idade notavelmente atlético de verde amarelo, posava: "Militares sempre junto ao povo". Perguntava-me: que horas chegará o torturador Brilhante Ustra?
Daí o ódio que eles devotam às organizações do povo. Esconde-se na suposta rejeição aos "partidos" a blindagem midiática interessada dos militantes de direita que querem atribuir uma pureza hipócrita e perigosa, que em verdade nega a democracia. Esse povo sem líderes, essa juventude sem representantes, essa "pureza" que se expressa candidamente nos programas da imprensa golpista é a negação das legítimas representações do povo, os partidos que surgiram graças ao sangue dos mártires derramado nas torturas, as entidades que se fizeram em históricas e heroicas jornadas de luta. O povo tem mais do que condições de agrupar-se, apontar saídas, denunciar o golpismo e fazer-se ouvir, se houver comando e unidade.
Horroriza-me, no entanto, outra coisa. Vi hoje o PSOL, através do movimento Juntos, o MES, no programa Encontro com Fátima Bernardes. O oportunismo que se manifestou em 2005 quando víamos a "extrema-esquerda" e a direita, puxando juntas o Fora Todos, expressa-se outra vez na aliança que fazem com setores mais que obscuros, cuja ação de vandalismo visa a criar um clima muito distinto de protesto democrático, visa deliberadamente ao caos que sirva ao golpismo.
Como podem os supostos radicais iludir-se com a direita mais reacionária? Por um lado, são vítimas de sua composição social, marcada pela mesma classe média conservadora. Por outro, sua prédica raivosa demonstra terem atraído muito mais que os indignados que lhes estimulam o ego "ético". Atraíram uma direita que se esconde no ultra-esquerdismo, partilhando uma fantasia "ética", tão hipócrita quanto a sua pureza que excluiria alianças. Afinal, aliam-se com a direita golpista. São a esquerda que a imprensa golpista considera "pura", "ética", o que bem ilustra a sujidade dessa aliança sumamente espúria.
Quando mapeamos mentalmente, apercebemo-nos do bombardeio em curso, a imprensa golpista fazendo o que fez em outros países da América Latina, a cada intervalo, a cada especial, em cada programa, a disputa que também lá fora polarizou a sociedade, mas apenas aonde havia a demarcação de projetos, um de sentido popular, outro, de sentido oligárquico e antinacional e anti-democrático. Polarização houve aonde deu certo, quando o povo pôde dizer o que queria partir de seus líderes. Aonde deu errado, o povo foi derrotado, como no Paraguai. O povo não sabia qual era o seu lado, Acabaram-se os dias de ambiguidades, o que se exige é uma demarcação de campos que defina as diferenças borradas, em parte por impossibilidades, em parte por opção política.
É um desafio saber separar os justos protestos do povo da manipulação da imprensa golpista e dos provocadores da violência e do caos. Para enfrentar essa encruzilhada, é preciso que o povo de verdade - e não os riquinhos - seja chamado a uma pauta que signifique as bandeiras de sentido avançado. É preciso apontar um rumo para a resolução dos dilemas legítimos apontados pela parcela efetivamente popular que defende a melhora dos serviços públicos, saúde e educação. É preciso denunciar a direita, o golpismo e a imprensa da ditadura. É preciso repudiar sem pudores o vandalismo da extrema direita que não tem direito de ocupar o palco da democracia e deve ser desbaratado. É necessário uma mensagem clara ao país, e uma trincheira de resistência que signifique uma clara demarcação de campos, dando conta que não aceitaremos de modo algum o golpismo e ameaças à democracia.
Golpismo e autoritarismo - o fascismo e o nazismo ensinaram - não se absolvem nem com lastro popular, muito menos de uma parcela da sociedade que está onde sempre esteve, à direita, incluída, gorda e corada. É preciso que os batalhões da luta do povo ousem uma agenda mais avançada que responda aos legítimos anseios populares, unindo-se sem vacilação para demonstrar sua própria força e sinalizar claramente o que quer a direita e a imprensa golpista com os presentes acontecimentos. O povo, unido, jamais será vencido. Por isso, viva o povo que luta, mas fora a direita e a imprensa golpistas! Não podem Rorizistas e Arrudistas disfarçados, viúvas da Ditadura, gorilas de pijama e reaças encarnarem as aspirações mais avançadas de nosso povo. É o campo democrático, popular e da defesa do Brasil que deve levantar as legítimas saídas e mobilizar a sua base para acuar a direita e a imprensa golpistas!
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