O pronunciamento da presidenta Dilma na abertura da 67ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nesta terça-feira, 25, merece todo apoio da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Em linha com o pensamento dos movimentos sociais e das forças progressistas acerca da crítica conjuntura internacional, a presidenta abordou um amplo leque de problemas que atormentam o mundo e não se esqueceu de destacar a relevância da luta das mulheres por igualdade.
Ao lembrar que a “grave crise econômica” mundial, iniciada em 2007, “ganhou novos e inquietantes contornos”, Dilma criticou as políticas econômicas adotadas nos Estados Unidos e na Europa, configuradas na “opção por políticas fiscais ortodoxas”, que realimentam a recessão, e na política monetária expansionista, “que desequilibra as taxas de câmbio”, estimulando a chamada guerra cambial e a valorização artificial das moedas de “países emergentes”, como o Brasil.
Desta forma, atribuiu o agravamento da crise econômica e da instabilidade monetária global às grandes potências capitalistas lideradas por Washington. Rechaçou também as acusações feitas recentemente por um representante da Casa Branca às medidas adotadas pelo governo para proteger a industrial. “Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo”, argumentou.
A presidenta também se referiu às revoltas e conflitos em curso no Oriente Médio e Norte da África. Denunciou a intervenção das potências capitalistas na região, destacando que não é difícil nos protestos populares que marcaram as últimas semanas “as marcas de ressentimentos históricos, provocados por décadas de políticas coloniais ou neocoloniais levadas a cabo em nome de uma ação supostamente civilizatória. Pouco a pouco, foram ficando claros os interesses econômicos que estavam por detrás daquelas políticas.”
Também defendeu com firmeza uma solução pacífica para a Síria, posicionando-se neste tema ao lado da China e da Rússia e contra as pretensões dos EUA e Otan de bombardear e invadir o país. “Não há solução militar para a crise síria. A diplomacia e o diálogo são não só a melhor, mas, creio, a única opção”, afirmou.
A presidenta fez questão de registrar “nosso mais veemente repúdio à escalada de preconceito islamofóbico em países ocidentais”. Reiterou também o apoio do governo brasileiro “ao reconhecimento do Estado Palestino como membro pleno das Nações Unidas”. Insistiu na necessidade de reforma do Conselho de Segurança da ONU e enfatizou a condenação ao “uso da força sem autorização do Conselho, uma clara ilegalidade”, que “vem ganhando ares de opção aceitável. Não podemos permitir que este Conselho seja substituído [como ocorreu no Afeganistão e na Líbia] por coalizões que se formam à sua revelia, fora de seu controle e à margem do direito internacional”.
Dilma enalteceu a mudança do cenário político na América Latina, com as iniciativas que visam a integração econômica e política solidária dos países da região, defendeu o multilataralismo (em oposição ao unilateralismo dos EUA) e as resoluções da Rio+20 em defesa do meio ambiente, que considerou “ponto de partida para uma agenda de desenvolvimento sustentável para o século 21, com foco na erradicação da pobreza, no uso consciente dos recursos naturais e nos padrões sustentáveis de produção e consumo”.
Na conclusão do seu pronunciamento revelou a solidariedade do Brasil com Cuba. “Por fim, senhor Presidente, quero referir-me a um país-irmão, querido de todos os latino-americanos e caribenhos: Cuba. Cuba tem avançado na atualização de seu modelo econômico. E para seguir em frente nesse caminho, precisa do apoio de parceiros próximos e distantes. Precisa do apoio de todos. A cooperação para o progresso de Cuba é, no entanto, prejudicada pelo embargo econômico que há décadas golpeia sua população. É mais do que chegada a hora de pôr fim a esse anacronismo, condenado pela imensa maioria dos países das Nações Unidas.”
O pronunciamento da presidenta na ONU mostra que o Brasil mudou e continua mudando. Não é mais uma nação que tira o sapato e fica de joelhos diante do Tio Sam como nos tempos da diplomacia tucana de FHC. Hoje, para orgulho dos brasileiros e brasileiras, está na linha de frente da luta por uma nova ordem internacional. Em contraste, o discurso de Obama, que falou depois de Dilma, não passa de uma ode à hipocrisia e à arrogância imperial da maior potência capitalista do planeta, que se julga no direito de semear guerras (como é o caso no Oriente Médio e Norte da África) e afrontar o sagrado direito das nações à autodeterminação, em nome de falsos princípios democráticos.
São Paulo, 25 de setembro de 2012.
Wagner Gomes é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Veja abaixo a íntegra do discurso da presidenta Dilma Rousseff:
Wagner Gomes é presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Veja abaixo a íntegra do discurso da presidenta Dilma Rousseff:
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