Nosso país defronta-se com uma encruzilhada histórica. A polarização real na política brasileira opõe de maneira inconciliável aqueles e aquelas que defendem a Vida, a Nação, a Democracia, a Cidadania e os Direitos Humanos contra os mensageiros da morte, entreguistas, ditadores, a Casa Grande que quer seguir a tratar o Brasil inteiro como senzala.
Afinal, o regime em que a vida e a personalidade da força de trabalho humanas são coisificados até o nível da sevícia e da morte deliberada, é o regime escravista, cuja tez deformada marca o capitalismo dependente brasileiro, que se desmoraliza, corrompe e esgarça. O capitalismo brasileiro não sabe o que está fazendo e estamos morrendo por isso. À destruição da economia, da democracia, da qualidade de vida, com o advento da pandemia da COVID 19, verificamos uma tragédia sem precedentes, que se agigantará, e cujo desenlace definirá nossas vidas e o futuro de nosso país. Nessa hora decisiva da Nação, está no poder a liderança mais despreparada e comprometida com a Casa Grande, mais inimiga do país e do seu povo.
O Presidente Lula, sem provas, foi condenado pela teoria do Domínio do Fato. A Presidenta Dilma foi deposta mesmo sem ter sido corrupta. E no entanto, vemos escandalizados à entronização da corrupção, das milícias, da mentira em escala industrial, do aparelhamento do estado, da clara implantação de um regime policial e ditatorial. O governo é o caos. As preocupações criminosas e o desprezo pela vida dos seres humanos é descarado. A cada dia da continuidade do governo Bolsonaro, mais gente morrerá, sem precisar.
Para Bolsonaro a lei não vale. Não há responsabilidade que o incrimine, mesmo com tantos crimes de responsabilidade cometidos diariamente. A tragédia governamental em todos os âmbitos se escancarou aquando da exposição do que é uma reunião desse ministério que é um inacreditável circo de horrores. Sua lógica necropolítica radicaliza a desigualdade social, o racismo, o machismo, o extermínio dos "indesejáveis", expondo deliberadamente as populações mais vulneráveis ao abandono, à incúria, e ao risco.
O maior de todos os crimes é a sabotagem ao combate à pandemia, um genocídio que já vitimou mais de 35 mil pessoas e que muitas mais vitimará, infelizmente. Em meio ao momento mais sombrio e perigoso, sem perspectiva de arrefecimento das curvas de contaminados e mortos, estamos perdendo a batalha em torno do Isolamento Social, única estratégia efetiva de modular a propagação acelerada e a escalada de vítimas. Essa derrota nos empurrará ainda mais fundo na tragédia que enluta já dezenas de milhares de lares de nosso país.
Mas nem tudo são trevas. A cada irmão e irmã brasileiros que tomba diante da irresponsabilidade e dos crimes do Governo, ampliou-se a força de uma ampla unidade nacional, o congraçamento daqueles que defendem a Vida, a Ciência, a Nação, a Democracia, e que tenhamos uma estratégia nacional que salve vidas e salve a nossa economia. A Frente Ampla se expressa de inúmeros modos. Primeiro, na defesa de medidas concretas contra o Coronavírus, que têm merecido o apoio independentemente de partidarismos. E nesse mesmo viés, a escalada autoritária, corrupta e genocida tem unificado amplos setores, que constroem as condições atuais de grande isolamento do Bolsonarismo e de viabilidade da Frente Ampla. Bolsonaro e o Coronavírus são uma desgraça só, nossa opinião ganha a maioria da Nação Brasileira. Nós furamos a bolha. E não devemos temer isso. É a hora da Frente Ampla.
Essa força e a euforia que a acompanha, impõem a necessidade de ações, de bandeiras, de movimentos concretos que passem ao próximo nível, em especial com a escalada autoritária do desespero da extrema direita em isolamento. E é enquanto isso se gesta que a extrema direita bolsonarista aposta todas as suas fichas no confronto e no golpe. Uma conjuntura explosiva, caótica, marcada pela morte de dezenas de milhares, é o que se trata de medir e o contexto em que agiremos.
A falta de uma maior coesão da esquerda em defesa da bandeira da Frente Ampla cobra altíssimo preço, pois a Frente Ampla é necessidade histórica. A resistência do PT, em defesa de sua primazia no campo da esquerda, apenas faz com que o Partido perca protagonismo político. Os apelos pelo isolamento do PT por Ciro Gomes só o apequenam. A polêmica entre Frente Ampla ou Frente de Esquerda polariza os setores progressistas e escancara os limites políticos do PT, limites de concepção política, que apequenam a sua força e lhe rendem precisamente o que intentaram evitar: perda e força e uma nova realidade marcada pelo pluralismo na oposição. Essa efetivação da Frente Ampla, apesar do PT, por sua parte, leva a uma radicalização do Partido. Na verdade, a marca do período é composta por tragédia sanitária, isolamento de Bolsonaro e viabilidade da Frente Ampla descortinar um futuro sem o fascista na Presidência.
É nesse cenário que se somam vários vetores reforçando a pior das alternativas, a ruptura do isolamento social. Ao tempo em que devemos saudar o engajamento heterogêneo de forças políticas, personalidades, movimentos os mais diversos, na denúncia do fascismo, da corrupção e na defesa da democracia, devemos entender não apenas a nossa fragilidade, mas a delicadeza do momento e o imperativo de manter o isolamento social como um direito básico à vida. Sobreviver é resistir.
O preço é altíssimo. Como não se escandalizar com a morte de uma pessoa por minuto, se não podemos dizer sequer quantos já morreram, porque o número cresce e se desatualiza... Na verdade, não podemos nem devemos romper o isolamento social por voluntarismo político. E devemos compreender a fragilidade que significa ir às ruas quando estamos divididos e sem bandeiras unificadoras, sob cerco e expostos à provocação, ao risco de contaminação, à provocação, à infiltração e à violência.
Temos de ter claro que as formas e os conteúdos das lutas são mutáveis, e não um valor em si mesmo. A Greve Geral não derruba o capital, é uma pena. Não é a forma que é radical ou atrasada, é a sua articulação com o tempo histórico, com os sujeitos e o seu resultado político efetivo. Nosso nível de organização e unidade é tão baixo, no momento, que não será possível evitar os perigos inscritos no engajar-se acriticamente em movimentos "espontâneos" que se articulam em grande velocidade, com impressionante unicidade, atingindo-nos como uma fortíssima onda de opinião, e que tem como uma das suas principais forças, a resistência mesma à ideia da Frente Ampla, e a ilusão de ultrapassar o momento presente pela esquerda e pelas ruas.
Na verdade, temos de intensificar a luta para derrotar Bolsonaro, senão não lograremos assegurar o isolamento social e a ação do Estado e da sociedade para erguer a economia no combate à pandemia. O fim da estratégia do isolamento social não é dependente apenas da vontade política, é um vírus. O pior vem agora, e não podemos aceitar a ida para o abatedouro, nem abrir mão das responsabilidades que só cabem à verdadeira vanguarda. Não somos, certamente, Maria vai com as outras. Somos outras Marias, "uma força que nos alerta", Maria que luta pela defesa dos seus filhos e filhas, a Mãe Pátria. Nossa ação política tem de ser coerente com a nossa estratégia geral de preservação das vidas e defesa da democracia. Poderá sim haver a necessidade DE arriscar a vida para a defesa da democracia. Será, no entanto, uma hora de unidade, de certeza, com um chamado claro.
Ir pelo espontaneísmo, pela paixão, pelo sectarismo político, é a subestimação dos riscos, dos inimigos e uma visão excessivamente otimista desse instrumento político que é a luta de rua, que na verdade depende da maior coesão política e de uma direção clara, senão não se afirma como alternativa política real e pode, ao contrário, virar arma nas mãos do inimigo. Há 30 anos luto no movimento social. Estourei o bucho de gritar, meus pés tortos caminharam milhares de quilômetros de passeatas, greves, protestos. Se creio não ser a hora, é a partir deste lugar de quem jamais sairá da luta. Mas a luta tem inúmeras formas. E ensinou o poeta que quando há caminhos traçados, voamos.
Enquanto isso, há muitos deveres de casa para fazer. A organização de um amplo diálogo político para efetivar uma frente ampla muito maior que os partidos. Um luto nacional junto ao #ForaBolsonaro, porque o momento agora é de luta e de luto. E infelizmente não vai parar. Mas também não parará a nossa luta. Há uma miríade de formas de unir o povo, de organizar a solidariedade e fazer a luta de modo a ampliar nossa capacidade de organização e unidade. Aí sim, será o momento. Não é hoje, mas pode ser sim, depois de amanhã. E seguimos na luta.
Frente Ampla para Unir. Isolamento social e isolamento do Bolsonaro para separar. Jogar com ginga o nosso jogo, e não o jogo dos outros. Construir o terreno sólido para a vitória verdadeira de unir o Brasil e reconquistar a democracia. Esse é o nosso momento. Como disse Drumond, vamos de mãos dadas.
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