Feliz Dia das Mães.
A minha sincera e comovida inveja de todos e todas que nesta manhã podem dar um cheiro e um abraço na sua mãezinha... Vejo-os com o olhar pidão de menino que não pode ter. Há nove meses semeamos a Dona Maria De Lourdes Dos Santos da Silva e por 41 anos eu tive essa imensa alegria pela qual só posso ser grato, porque eu tive mãe e pai presentes, amorosos, inteiramente dedicados aos frutos do seu amor, eu e meu irmão Roberto da Silva . Enquanto me somo, enfim, à legião dos que não tem a mãe, penso no imenso esforço dos que se fizeram com uma supermãe, e em quem não teve como ter sua mãe por perto.
E penso em quem foi adotado por esse transbordante amor que as mulheres multiplicam, afinal, são capazes de ver essa falta de mãe de uma criança, e até adulto, e chegar junto. A mãe que adota, que cria, que conforta. E penso em quem teve a desventura de não ser amado, ou sofreu e ainda o faz, magoado, porque não vê em sua mãe o estereótipo pesadíssimo, sublime e aterrador que compõe a imagem da mãe na sociedade capitalista e patriarcal.
E o dinheiro. Perdidos de tal modo estamos que o consumismo se imiscui nessa relação tão complexa, tão difícil e tão poderosa entre filho(a) e mãe. Até aí, tentam convencer-nos que o que importa é o presente produzido, vendido, comprado, dado, em vez do presente vivido ao lado de quem se ama. O capitalismo e o fetiche da mercadoria a tudo prostituem, e é tristíssimo ver o peso negativo que essa pressão de comprar tem sobre os que nada possuem. É constrangedor e doloroso o ribombar da hipocrisia interesseira de propagandas urdidas para substituir na nossa subjetividade essa grande e profunda sintonia entre filho(a) e mãe, pelo comércio, pela ganância, pelo lucro. E, na boca do vil metal, tecem uma mitologia farsesca sobre a mãe, que se molda às opressões que o machismo comporta, e se escreve para vender, comover, estabelecer moldes, físicos e comportamentais. Então a mulher tem sobre si toda essa pressão que a quer adequada a ampla variedade de produtos, papeis e obrigações atribuíveis à mãe.
São o renitente repisar dos reclames: Mãe é importante, compre pra ela. E nesse "importante" cabe uma inesgotável sorte de pressões a fim de que a mulher cumpra esse imenso fardo, que corresponde precisamente à responsabilidade da reprodução humana, do cuidado. Marx dizia que a religião
é o coração de um mundo sem coração. Mas a forma com que esse coração se faz gente é precisamente a figura da mãe.
Quem tem mãe tem tudo. É simplesmente estarrecedor saber que não poderei mais beijar e abraçar mais a minha mãe. E isso, que vale tudo, nada custa, senão estar juntos e partilhar esse amor ancestral que é a prova mais cabal do destino da solidariedade humana e do futuro comum que compartilhamos. A formação mais profunda da individualidade, a tua formação, teus olhos, tua face, teu corpo, tudo foi formado pelos teus pais, mas mais precisamente, formado pela tua mãe. Não surges como indivíduo, és parido(a). E é nessa primeira comunidade, tu e tua mãe e, com sorte, teu pai, que se resume a senda coletiva e social que nos acompanha até o comunismo. Robinson Crusoe recebeu no leite materno, nos genes e na vida o que sociedade principiou a dar-lhe através de sua mãe.
Também é da mãe a única sucessão clara, a sucessão matrilinear, porque os filhos são, por assim dizer, certamente, filhos da mãe. E pai é o que cria.
A vista do lado de lá nem sempre pode ser tão bela. Importantíssima parte do peso que recai sobre as mães, de dupla jornada, tripla, é precisamente a ausência masculina dos pais biológicos que deveriam criar seus filhos. Compartilhar a criação e as despesas imensas envolvidas é fundamental. Que a mulher tenha de segurar essa barra toda sozinha ilustra a injustiça e o martírio que ninguém é capaz de suportar - e elas o fazem diariamente. Isso adoece, empobrece, mas mesmo assim, elas criam sozinhas seus meninos e meninas. Eu sou pela responsabilização do pai. A maior alegria da minha vida é ser pai da minha filha. É uma perda incomensurável perder um filho. Mas como as pessoas podem perder filhos em vida?! Os pais o fazem, muitas vezes, e isso cobra um preço imenso a toda a sociedade, porque a infância precisa ser assistida e a carga que se impõe às mulheres é desumana e, concretamente, atrasa-lhes a vida. Mãe solteira é uma expressão que deveria ser elevada à condição de medalha, de título, porque não é brincadeira o que as mulheres que criam os filhos sozinhas tem de superar.
Ofertar aos nossos filhos o apoio da mãe e do pai - inclusive c asais LGBT - e o suporte do estado são obrigações com as crianças que todos temos, e as políticas púbicas que entendem e apoiam a mulher são decisivas para que a nossa sociedade não siga caminhando para a barbárie e para o presente e o futuro de um país sob Urano, o Titã que devorava seus próprios filhos por apego ao poder. O capitalismo abandona as crianças à miséria e isso cobra altíssimo preço a toda sociedade na forma de uma patologia social que recusa a reprodução virtuosa da sociedade, e acaba por justificar o extermínio das crianças pobres porque pobres, sobretudo porque negras. E cada criança abatida pela violência estatal e de mercado, seja de bala, seja de fome, cada uma teve uma mãe, muitas vezes adolescente, que foi moída nas engrenagens da exclusão social e racial que empobrece, adoece e mata as mães pobres, negras, mulheres trabalhadoras que dão muito duro para criar seus filhos, muitas vezes sem ajuda nenhuma. Essa foi a grandeza o do Bolsa Família. Discurso é fácil, mas defender a família é defender e proteger a mãe e sua criança, e não oprimi-las. O Bolsa família salvou muita gente. Enquanto Lula tratava Dona Mariza e as mulheres com esse carinho, vemos a demagogia e a impiedade dos mercadores do templo e dos atuais governantes contra a mulher. Há monstros que defendem que o Estado legisle sobre o útero das mulheres e sua decisão. Só machos poderiam ter essa arrogância, essa violência, tamanha cara de pau. Haver mulheres que os secundem não surpreende, só ilustra a importância da emancipação da mulher.
Se não bastasse o abandono e a dupla, tripla jornada de trabalho, são muitas as mães vítimas da violência doméstica, inclusive do feminicídio, em que o machismo odioso tira as mães das crianças. Eu tenho filha, tive mãe, eu sou um ser humano, é um imperativo ético superar o machismo porque eu não quero um mundo violento e mau com a minha filha, porque ela é mulher. É triste, mas o grau de exploração, cobranças e violência a que nossas mães são submetidas demonstra como devemos ainda avançar muito, para que as mães tenham muito mais que um dia feliz, e possam ser melhor tratadas todos os dias. Parabéns, mamães. Que privilégio de quem pode estar com a sua, aproveitem, amem muito. E, obrigado, Insigne Progenitora Amada.
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