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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Mudanças no Brasil, no mercado de trabalho e na juventude - 4º Encontro Sindical do PCdoB - 2011 Paulo Vinícius Santos da Silva

Milhões de trabalhadores e trabalhadoras ingressam todos os anos no mercado de trabalho formal. Durante os oito anos do governo Lula foram gerados pelo menos 15 milhões de empregos formais (1). Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a pirâmide populacional concentra na faixa etária de 15 a 34 anos mais de 35% da população brasileira (2), ou quase 67 milhões de pessoas. A População Economicamente Ativa (PEA), segundo dados do mesmo Instituto, reunia mais de 95 milhões de brasileiros(as) (3).

“Segundo dados do IBGE e projeções do IPEA, temos hoje a maior população jovem da nossa história em termos absolutos. Algo em torno de 50 milhões de brasileiros(as) entre 15 e 29 anos. Por outro lado, temos, neste momento histórico, um número proporcionalmente reduzido de crianças e idosos, em relação à população em idade ativa, o que proporciona uma baixa taxa de dependência econômica. Os especialistas chamam esta situação especial de bônus demográfico. Ou seja, os próximos 20 anos serão cruciais, se quisermos aproveitar este bônus demográfico e explorar cada vez mais o nosso potencial de crescimento. Por isso, cada ação voltada para a formação educacional e científica, de inclusão econômica e cidadã da juventude, hoje, não está simplesmente relacionada aos direitos individuais de uma parcela da população. Tal investimento está umbilicalmente ligado ao desenvolvimento do país” (4).



A nova realidade é marcada pelos efeitos da 3ª revolução técnico-científica. A cibernética e a informática levaram a um grande avanço na produtividade, com grande exploração, flexibilização e precarização do trabalho. A classe trabalhadora teve alterado profundamente o “seu perfil, mais diferenciado e heterogêneo, mais feminino e também mais numeroso. Categorias e ramos inteiros têm alterada a composição etária e de gênero. Ocorrem alterações nas relações e na proporção entre trabalho manual e trabalho intelectual e também na indústria cultural”. O acesso à internet, às redes sociais, à telefonia celular altera a comunicação, participação e informação.

Elevou-se a escolaridade média da força de trabalho. A dinâmica entre educação e trabalho também se altera, com consequências profundas num mercado de trabalho com altíssima rotatividade. Hoje é impensável uma trajetória profissional exitosa sem permanente qualificação.

A marcha do desenvolvimento brasileiro também interfere no mercado de trabalho. Amplia-se a construção civil, as obras de infraestrutura pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as perspectivas da exploração do Pré-Sal alteram ramos fundamentais. O Estado se recompôs com concursos públicos em todos os níveis.

Amplia-se o ensino técnico, profissionalizante e universitário, tanto público quanto privado, e até setores populares chegam a carreiras elitizadas, com as políticas de cotas: Programa Universidade para Todos (PROUNI) e a Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). Com as 214 novas escolas técnicas federais teremos um grande impacto na formação profissional de nossa juventude. E a educação superior forma o triplo do que se formava há dez anos (950 mil contra 350 mil) (5).

Nesse curso, não devemos ignorar a característica da juventude como transição, marcada pela incorporação ao mundo do trabalho e a constituição de novo núcleo familiar, com particularidades e uma subjetividade própria. É avessa a preconceitos de gênero e de orientação sexual, conectada ao mundo, carente das lições da luta do século XX, profundamente marcada pela hegemonia neoliberal, disputada pelo capital e por outras formas de participação e ativismo, incluindo as demais forças políticas. E, embora ansiosa por participação, desconfia dos partidos políticos e dos sindicatos.




Atrair essa juventude para a luta dos trabalhadores significa abrir caminhos para uma militância que transborde das aspirações juvenis para ter consequência em uma militância para toda uma vida. Devemos aproveitar este momento para atualizar a possibilidade da realização pessoal com a luta pelo socialismo.

As mudanças no Brasil, na Classe e no Sindicato Classista


Ante tão importantes mudanças em menos de uma década, há que se refletir sobre a constatada “subestimação da composição social das fileiras partidárias e de suas direções” (6) – no que concerne à incorporação da classe trabalhadora, mais jovem e mais feminina –, em especial no seu movimento próprio, o sindical.

Com o avanço da juventude e das mulheres na composição da classe trabalhadora, devemos ser proativos na sua incorporação no movimento sindical classista, o que pode ser decisivo para a consolidação da CTB e a afirmação crescente do protagonismo conquistado. A CTB tem possibilidades tais que a vantagem estratégica da incorporação juvenil e feminina pode contar a nosso favor no desenlace futuro da atual correlação de forças entre as centrais sindicais. É elemento de vulto para armar o sindicalismo classista para a disputa da hegemonia na classe trabalhadora.

A vida aponta para o desafio do desenvolvimento permanente. O que não evolui, degenera. “As defasagens são sempre dinâmicas; supera-se uma, criam-se outras. A questão é se está em progresso ou em involução. A escala atingida hoje pelo PCdoB permite enfrentar o desafio proposto com novas possibilidades” (7).

Nesse sentido, as perspectivas são promissoras, mediante o enfrentamento das debilidades atuais com espírito criador e coletivo, em busca de superar o espontaneísmo dominante para aproveitar excepcionais oportunidades e posicionar o Partido para a estruturação consciente da CTB, de modo a fazer da central classista a mais juvenil e feminina central sindical brasileira.

Ao assumir tais consignas poderemos também contribuir para superar lacunas importantes da nossa política de quadros. Nossa destacada influência estudantil vinda da União da Juventude Socialista (UJS) entre os estudantes secundaristas, universitários e pós-graduandos não corresponde à incorporação dos quadros no movimento sindical, com influência social mais ampla entre os(as) trabalhadores(as) em profissões-chave ou na luta de ideias.

Tais limites cobram alto preço em uma política de quadros de largo curso. Somos portadores de uma eficaz tecnologia social que sensibiliza os jovens e adolescentes para a luta pelo socialismo de modo amplo e flexível, com vitórias em quase três décadas de hegemonia na luta estudantil e em suas entidades representativas. Cumpre-nos refletir sobre a debilidade de seguir adiante e levar esta juventude a seguir militando e se incorporar à classe trabalhadora. Trata-se de fazer da luta socialista mais que aspiração juvenil, um objetivo de toda uma vida.

O desafio de incorporar o trabalho à formação de nossa juventude corresponde à necessidade de incorporar a juventude em nosso movimento sindical. E na etapa inédita vivida pelo nosso país, e pelo Partido, pode ser uma chave importante na luta que travamos por uma influência maior na sociedade e por um novo projeto de desenvolvimento.

Cumpre-nos, portanto, levar adiante a reflexão feita no 12º Congresso do PCdoB, que colocou para si o desafio de: “impulsionar a consciência de classe e ser a representação política e social dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiros da cidade e do campo, no sentido de constituí-los como classe que lidere um novo poder político. E capaz de conquistar apoio de massa a seu pensamento político, aglutinar as bases sociais fundamentais em torno desse projeto – os trabalhadores, a juventude, as mulheres e a intelectualidade avançada”.

Ao identificar claramente os atores desse processo, o 12º Congresso do Partido resgatou a síntese do 11º Congresso, realizado em 2005, ao apontar: “a chave para os futuros desafios do Partido é, agora, formar larga estrutura de quadros, de nível superior, intermediário e de base, assentada em uma profunda compreensão da exigência de unidade de ação de todo o Partido”.

De tal sorte que as oportunidades se situam na centralidade dos trabalhadores e trabalhadoras enquanto classe fundamental, capaz de lograr a influência necessária nos setores prioritários para a revolução brasileira, bem como na possibilidade dessa incorporação dos filiados permitir distintos níveis de responsabilidade, com destaque para o nível intermediário e de base. Vivemos um momento alvissareiro, que conta com um instrumento de massas privilegiado, a CTB, e os momentos político e econômico favoráveis, em uma sinergia jamais vista em nossa história. A simultaneidade de possibilidades não é fortuita, mas coerente com a luta pelo socialismo. Mas pode esbarrar no espontaneísmo, pois tais desafios demandam movimento consciente e planejado.

A importância das Gerações Militantes

A renovação do movimento não é tarefa exclusiva dos jovens, ainda que protagonistas do presente e do futuro, mas de quem está comprometido com a luta pelo socialismo. Parte importante de nossa militância atual no movimento sindical forjou-se na luta contra o regime militar, foi combatente inflexível contra o neoliberalismo, protagonizou a vitória na eleição de Lula e ajudou a fundar a CTB. Mas seu êxito só será completo se assegurar nosso crescimento contínuo, acolhendo e armando a nova geração para a luta pela hegemonia classista na classe trabalhadora. E, observando o crescimento da juventude nas bases de categorias tão importantes, devemos concretamente nos perguntar: que percentual de jovens e mulheres devemos ter em nossas direções para representar verdadeiramente a classe?

Decisivo é criar condições para que a juventude trabalhadora encontre na central classista o seu melhor instrumento na luta contra o capital. Deve partir dos(as) comunistas a iniciativa de construir na CTB espaços amigáveis à juventude, com horários, dinâmicas e, principalmente, responsáveis permanentes para a consolidação da frente, desenvolvendo uma dinâmica de atividades (inclusive esportivas e culturais) e linguagem que possibilitem sua incorporação na CTB.

Trata-se de desenvolver uma tecnologia social própria, a exemplo do que nossos camaradas comunistas do PCdoB já fazem no movimento estudantil, de incorporar a nova geração de trabalhadores ao movimento sindical e apontar- -lhes a perspectiva socialista. Isso só será possível se constituirmos um contingente próprio de comunistas jovens a tratar da organização juvenil classista entre os trabalhadores.

A geração atual de dirigentes sindicais comunistas é a fiadora do ambiente que estimule estreita colaboração entre estudantes e sindicalistas, jovens e adultos, comunistas, socialistas e independentes, homens e mulheres, para consolidar a CTB e assegurar-lhe um futuro vitorioso. Importante também é usar em nosso favor a necessidade de realizar as transições, de tratar concretamente da renovação e da permanência nas direções dos sindicatos, de nos constituir em todos os sindicatos os departamentos juvenis e de observar as mudanças na classe e entender a importância de influenciar o local de trabalho, o que demanda uma militância mais extensa ao nível intermediário e da base, com significado particular para a juventude.

Se aos(às) trabalhadores(as) não se admite no mundo produtivo uma trajetória profissional exitosa dissociada da qualificação permanente, devemos alterar o ideal do militante liberado permanentemente para o movimento sindical e incorporar à nossa lógica de militância a dinâmica de permanência-renovação, compreendendo que sua direção natural é a da renovação das direções, sem rupturas com o legado de luta, mas rompendo com o personalismo, o cupulismo e a burocratização que são obstáculos reais a uma sólida e mobilizada base de massas.

À pluralidade de categorias prevista no estatuto partidário (filiado, militante, quadro) devem corresponder distintas possibilidades de participação na luta dos trabalhadores, em consonância com a responsabilidade das tarefas de uma militância na base, de nível intermediário e de quadros, com a construção de um sistema mais amplo que esteja voltado a uma influência muito maior na sociedade brasileira.

Tal percepção deve romper com a estagnação muitas vezes verificada a partir da liberação sindical, e deve ousar ao abrir horizontes, compatibilizando a vida individual e a militância. Num contexto democrático, a participação política não deve ser sinônimo de sacrifício ilimitado ou paralisação e estagnação das possibilidades profissionais de cada um(a), apesar de não nos iludirmos quanto à importância do compromisso imenso que se exigirá sempre dos quadros. Somente uma rede mais estruturada e ampla poderá assegurar uma influência maior dos sindicatos sobre os(as) trabalhadores(as), e da Classe organizada sobre a sociedade. Isso demandará uma presença militante não apenas nas diretorias das entidades, mas nos locais de trabalho e na vida cotidiana, uma influência social muito maior da militância comunista, de seus aliados e amigos.

Essa ligação mais profunda com a base chama o movimento sindical a ser um espaço intergeracional, democrático, de igualdade entre homens e mulheres, e não reprodutor de discriminações. Para nós, é claro que a incorporação destas mudanças pode assegurar ao movimento sindical o espaço que lhe cabe no mundo de hoje e descortinar novos horizontes para o futuro. Que possamos, ao olhar para as transformações em curso, nos preparar para não menos que a vitória, dizendo corajosamente, como Che: “O alicerce fundamental de nossa obra é a juventude. Nela depositamos nossa esperança e a preparamos para tomar a bandeira de nossas mãos”.

*Paulo Vinícius é sociólogo, bancário do Banco do Brasil, secretário de Juventude Trabalhadora da CTB Nacional e diretor de Imprensa da CTB/DF.

Notas


(1) http://www.mte.gov.br/sgcnoticia.asp?IdCo nteudoNoticia=7577&PalavraChave=caged (2) http://www.ibge.gov.br/censo2010/piramide_etaria/index.php

(3) http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.x?se rid=486696855&module=M

(4) MOREIRA, Danilo. Juventude e desenvolvimento: uma nova agenda para um novo tempo.

(5) http://portal.mec.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=16511

(6) 3º Encontro Sindical Nacional do PCdoB.

(7) Livreto virtual “Mais vida militante para um Partido do tamanho de nossas ideias” – Material de subsídio para o 7º encontro Nacional sobre Questões de Partido, disponível em http:// admin.paginaoficial1.tempsite.ws/admin/ arquivos/biblioteca/7_encontro_questoes_partido15119.pdf, p. 62

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