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sábado, 31 de agosto de 2013

Na pressa para atacar a Síria, EUA tenta impedir que a ONU investigue - Gareth Porter - Tradução Vila Vudu


27/8/2013, Gareth Porter, InterPress Service
http://www.ipsnews.net/2013/08/in-rush-to-strike-syria-u-s-tried-to-derail-u-n-probe/


Depois de ter insistido, de início, que a Síria desse pleno acesso aos investigadores da ONU, até os locais onde teria havido um atentado com gás venenoso, o governo do presidente Barack Obama mudou de conversa no domingo; e passou a tentar, sem sucesso, que a ONU abortasse sua própria investigação.

Essa virada repentina, que aconteceu horas depois de Síria e ONU terem acertado os detalhes da ação dos investigadores, foi noticiada pelo Wall Street Journal na 2ª-feira e confirmada no mesmo dia, mais tarde, por um porta-voz do Departamento de Estado.

No encontro com a imprensa na 2ª-feira, o secretário de Estado John Kerry, que chegou a falar por telefone com o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon, para que suspendesse a investigação – a qual, segundo Kerry, teria chegado tarde demais para obter provas válidas do ataque que, para fontes da oposição síria, teria feito 1.300 vítimas.

A mudança repentina e a repentina aberta hostilidade contra a investigação da ONU, que coincidem com indicações de que o governo Obama planeja um grande ataque militar contra a Síria para os próximos dias, sugere que o governo Obama entende que a ONU esteja atuando como obstáculo para seus planos de atacar militarmente.

Na 2ª-feira, Kerry disse que, na 5ª-feira, havia alertado o ministro Moallem, de Relações Exteriores da Síria, para que desse acesso imediato à equipe da ONU e suspendesse os bombardeios naquela área, os quais, disse Kerry, estariam “sistematicamente destruindo provas”. Disse que o acerto entre Síria e ONU, que afinal deu pleno acesso aos investigadores, estaria acontecendo “tarde demais para ter credibilidade”.

Mas logo depois de o acordo ter sido anunciado no domingo, Kerry já havia telefonado a Ban, tentando cancelar completamente qualquer investigação.

O Wall Street Journal noticiou a pressão sobre Ban, mas sem mencionar Kerry.[1] Publicou que “funcionários não identificados do governo disseram ao secretário-geral que já não é seguro que os inspetores continuem na Síria e que a missão deles já não faz sentido.”

Mas Ban, que sempre foi visto como instrumento dócil das políticas dos EUA, recusou-se a retirar da Síria a equipe de investigadores e, em vez de obedecer, “manteve-se firme na defesa dos princípios” – como escreveu o WST. O que se sabe é que Ban ordenou que a equipe de investigadores da ONU “continue seu trabalho.”

O WST noticia que “funcionários dos EUA” disseram também ao secretário-geral que os EUA “não acham que os inspetores conseguirão obter provas aproveitáveis, dado que já transcorreu muito tempo e bombardeios subsequentes destruíram as provas que houvesse.”

A porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, confirmou para jornalistas que Kerry, sim, falou com Ban durante o fim-de-semana. Também confirmou a mudança de posição dos EUA sobre as investigações. “Acreditamos que passou tempo demais e houve tal destruição na mesma área que a investigação não terá credibilidade” – disse ela.[2]

Essa mesma ideia apareceu também em declaração de “alto funcionário”, anônimo, no domingo, para o Washington Post, segundo a qual as provas teriam sido “significativamente corrompidas” por bombardeios subsequente, pelo regime, na mesma área.[3]

“Agora já não cremos que a ONU possa fazer investigação confiável sobre o que aconteceu” – disse Harf. – “Estamos preocupados, porque o regime sírio está usando a tática de atrasar as investigações, para continuar a bombardear e destruir provas na área.”

Mas Harf não explicou como o cessar-fogo que o governo sírio impôs na área a ser investigada e a decisão de dar pleno acesso aos investigadores da ONU poderiam ser interpretados como “continuar a bombardear e destruir provas na área.”

Apesar dos esforços dos EUA para fazer-crer que a política síria seria política de “atrasar”, a verdade é que o pedido formal da ONU para que a equipe chegasse ao local não havia sido encaminhado ao governo sírio, até que Angela Kane, Alta Representante da ONU para Temas de Desarmamento, chegou a Damasco no sábado; foi o que informou Farhan Haq, como porta-voz de Ban, em briefing à imprensa, em New York, na 3ª-feira.

Na 3ª-feira, o ministro sírio de Relações Exteriores Walid al-Muallem disse, em conferência de imprensa, que ninguém havia pedido à Síria qualquer autorização para que a ONU tivesse acesso à área de East Ghouta, até que o pedido afinal apareceu, encaminhado por Angela Kane, no sábado. No dia seguinte, a Síria informou que o pedido fora a aceito, bem como o cessar-fogo na mesma área.

Haq discordou frontalmente do que Kerry dissera sobre ser tarde demais para recolher provas sobre o incidente do dia 21/8. “O gás Sarin deixa rastros que podem ser detectados meses depois de o gás ser usado”, disse ele, como o New York Times noticia.[4]

Especialistas em armas químicas também sugeriram, em entrevistas para nosso InterPress Service, que a equipe de investigadores da ONU – coordenada pelo renomado especialista sueco Ake Sellström e reunindo vários especialistas requisitados da Organização para Prevenção de Armas Químicas – teria meio para confirmar ou descartar, em apenas alguns poucos dias, a acusação de ataque com gás de efeito neurológico ou por outra arma química na área investigada.

Ralph Trapp, consultor para temas relacionados à proliferação de armas químicas e biológicas, disse que se sentia “razoavelmente confiante” de que a equipe da ONU conseguirá esclarecer o que houve. “Eles podem oferecer resposta altamente confiável à questão de saber se houve ataque químico; e eles podem também dizer qual o produto químico usado como arma” – disse ele –, a partir de exame de amostras de sangue, urina e cabelo dos mortos e feridos. Há até “alguma chance” de recolher resíduos químicos, de pedaços de munição ou de cartuchos, nos locais investigados. E uma análise completa, disse Trapp, exige “vários dias”.

Steve Johnson, que dirige um programa de investigação forense de armas químicas, biológicas e radiológicas na Cranfield University na Grã-Bretanha, disse que até o final da semana a ONU já saberá se “houve mortes provocadas por agente químico de efeito neurológico”. Johnson disse também que, sendo absolutamente urgente, a equipe conseguiria produzir “alguma espécie de primeira estimativa tendencial” sobre a questão, no prazo de 24 a 48 horas.

Dan Kastesza, veterano que serviu durante 20 anos no Corpo de Armas Químicas do Exército dos EUA [orig. U.S. Army Chemical Corps] e foi conselheiro da Casa Branca sobre proliferação de armas químicas e biológicas, disse à InterPress Service que, de fato, não se procura traços de gás sarin em amostras de sangue, mas das substâncias químicas que são produzidas quando o gás sarin se decompõe. Kastesza disse também que, depois de recebidas as amostras, os especialistas podem saber, “no período de um ou dois dias”, se houve contato com gás sarin ou outro produto químico dos que se usam como arma.

A verdadeira razão da hostilidade do governo Obama contra a investigação pela ONU parece ser o medo de que a decisão do governo sírio, de dar livre acesso aos especialistas, indique que o governo sírio já sabe que os investigadores não encontrarão qualquer evidência de uso de gás de efeito neurológico.

Os esforços do governo dos EUA em 2013 para desacreditar a investigação dos especialistas fazem lembrar o que fez o governo de George W. Bush contra os inspetores da ONU, em 2002 e 2003, depois que não encontraram qualquer prova de que haveria armas de destruição em massa no Iraque; o governo Bush, daquela vez, recusou-se a dar mais tempo aos inspetores, de modo que não conseguissem demonstrar cabalmente, por prova irrefutável, que não havia no Iraque nenhum programa ativo de produção armas de destruição em massa.

Nos dois casos, o governo dos EUA já decidiu ir à guerra. E não permitirá que se produza informação que se contraponha à sua decisão.

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[4] http://mobile.nytimes.com/2013/08/28/science/not-easy-to-hide-a-chemical-attack-experts-say.html?from=global.home

Federação Sindical Mundial denuncia guerra covarde contra a Síria!

LA FEDERACIÓN SINDICAL MUNDIAL SE SOLIDARIZA CON EL PUEBLO SIRIO Y DECLARA: NO A LA “DEMOCRACIA” IMPERIALISTA

29 Agosto 2013

La Federación Sindical Mundial condena energicamente la agresividad imperialista contra Siria que se va agudizando y exige el cese inmediato de las preparaciones de intervención militar contra el país y el pueblo Sirio.
Bajo condiciones de aguda competencia interimperialista y condiciones de profunda y prolongada crisis internacional del capitalismo, cuando las rivalidades sobre los recursos naturales y los pasos geoestratégicos se agudizan, el conflicto en el Oriente Medio y el Mediterráneo alcanza nuevos límites.

El pretexto falso del supuesto uso de armas químicas por el ejército sirio es una obvia calumnia provocativa con el fin de ofrecer la oportunidad de intervencíon, deseada y preparada hace años por los EE.UU. y las otras potencias.
Los medios de comunicación internacionales, propiedad de grupos multinacionales, en plena coordinación con la agenda imperialista, enriquecen la desinformación, con el fin de provocar la inercia o el apoyo de la opinión pública a un nuevo masacre.

Las fuerzas dentro del país, apoyadas moral y prácticamente por las potencias extranjeras y también por Turquía, los reyes y emires de Qatar, Arabia Saudita y otros, no tienen nada que ver con los intereses del pueblo sirio, o con la paz y la democracia prometida.

La “democracia”aplicada en Afganistán, Irak, Libia, Malí no la necesitamos y no la queremos. No más sangre por los intereses de las empresas transnacionales.
Hacemos un llamado a todas las fuerzas sindicales, afiliados y amigos de la FSM, así como a todos los amigos de la paz y las organizaciones masivas en todo el mundo a demostrar su rechazo a la política imperialista y su solidaridad con el pueblo de Siria.

El pueblo sirio, sin intervención extranjera, es el único que puede y debe decidir sobre su presente y futuro.

EL SECRETARIADO

Síria: inúmeras evidências apontam para uma farsa assassina no ataque químico - Tradução Vila Vudu

Síria: Mecanismos abertos e clandestinos da provocação química
29/8/2013, Dmitry MININ, Strategic Culture
http://www.strategic-culture.org/news/2013/08/29/the-overt-and-covert-mechanisms-chemical-provocation-syria.html

Uma poderosa campanha de propaganda foi lançada, mais uma vez, contra a Síria, com acusações de que o exército estaria supostamente usando armas químicas. Todas as campanhas anteriores morreram gradualmente, deixando atrás de si só espuma e lama. Seja como for, o que está acontecendo parece uma “décima onda”[1] bem real.

O secretário de Estado Kerry aparece em declarações cada vez mais histriônicas, sempre a quilômetros de distância de qualquer lógica. “Sabemos”, diz ele, “que o regime sírio armazena armas químicas. Sabemos que o regime sírio tem capacidade para construir os foguetes. Sabemos que o regime sírio está decidido a varrer a oposição exatamente daqueles locais onde os ataques aconteceram... Nosso senso básico de humanidade está ofendido, não só por esse crime covarde, mas também pela tentativa cínica de encobri-lo.”[2] Como se ter capacidade para fazer e fazer fossem a mesma coisa!

Outra das frases de Kerry: “Qualquer um que diga que ataque nessa escala apavorante poderia ser encenado ou fingido, deve avaliar a própria consciência e seus valores morais. O que está hoje à nossa vista é real, e terrível.” Será que esse palavreado todo ainda enganaria alguém, depois do que vimos de atos dos norte-americanos durante as guerras do Iraque e do Vietnã?

Ileana Ros-Lehtinen, deputada Republicana da Florida e presidente da Subcomissão da Câmara de Representantes para Oriente Médio e Norte da África, disse que “Entendo que é essencial que o presidente Obama venha ao Congresso e peça autorização [para atacar a Síria], receba ou não a autorização. Entendo que um ataque com mísseis contra as forças de Assad já é agora iminente, e tudo que receberemos do presidente Obama, com ajuda do Congresso, será uma notificação: ‘o ataque começará dentro de 20 minutos’. E mais nada.”[3]

O presidente Obama e o secretário de Estado Kerry dizem repetidamente que teriam prova irrefutável de que o governo sírio seria responsável por usar o gás sarin dia 21/8 em Joubar. Mas quem os informou disso? Vai-se ver, a história é sempre a mesma: O jornal Al-Jarida, do Kwait, por exemplo, noticia que a informação de que al-Asad teria usado armas químicas foi dada a Washington e países europeus por Israel.

A matéria publicada diz que o general comandante do estado-maior do exército de Israel, Benny Ganz, disse ao general comandante do estado-maior do exército dos EUA, Martin Dempsey, que “Israel tem provas irrefutáveis de que o exército de al-Assad usou armas químicas contra população civil”.

E o jornal alemão Focus noticia que a unidade de inteligência 8200 do exército de Israel teria interceptado uma conversa entre altos funcionários do governo sírio e oficiais do exército, durante a qual o governo ordenou o uso de armas químicas. A responsabilidade seria do irmão caçula do presidente sírio, Maher al-Asad, comandante da unidade que possui armas químicas. Mas... Israel, que tem interesses envolvidos diretamente no conflito, pode ser considerada fonte confiável de informação, nesse caso? Nunca. De modo algum.

Toda a história de que Israel teria interceptado essa conversa parece fantástica. Os líderes sírios conhecem bem os vizinhos que têm e, nesse caso, sobretudo, usariam meios de comunicação mais seguros, efetivamente sigilosos.

A resposta à imortal questão “quem se beneficia [cui bono] com o crime?” absolutamente não aponta na direção de Damasco, que não se pode dizer que lute ao lado das gangues armadas que lhe fazem oposição. O infame ataque químico do dia 21/8 aconteceu em área alta e densamente povoada na região de Ghouta Leste, constituída de dúzias de vilas e pequenas cidades, inclusive Joubar, onde o ataque aconteceu. Essa região era a base dos rebeldes que operavam perto de Damasco. Se a perdessem, perderiam qualquer esperança de manter outras posições, e não só nos arredores da capital.

Mas o que mais importa é que, nas últimas várias semanas, as forças antigoverno em Goutha Leste estavam contidas. Toda a área foi tomada pela expectativa de que se aproximava o dia de um cessar-fogo estável. Parece que, de fato, era a sensação que se observava em todo o país.

Nos últimos poucos dias, 1.525 pessoas depuseram armas em várias províncias da Síria: todas foram anistiadas. A Comissão Governamental para a Reconciliação Nacional, presidida pelo ministro Ali Haidar, muito próximo de Bashar al-Asad, estava em negociações com mais de 100 grupos militantes, alguns grandes, outros menores, aos quais oferecia anistia total, em troca de eles deporem armas. Esperava-se que vários milhares de milicianos armados seriam convencidos declarar simultaneamente que abandonavam a guerra – o que seria enorme vitória para o governo e tinha alta probabilidade de marcar um ponto de virada no rumo da guerra.

Nessas circunstâncias, o que menos interessaria ao governo sírio seria usar armas químicas contra gente que já quase convencera a aceitar a paz. Mas para os líderes da oposição armada, o ataque com armas químicas seria muito útil, não só para arrastar as potências estrangeiras para o conflito, e ao seu lado, mas também para impedir o prosseguimento do processo de paz que já estava em andamento na área de Ghouta Leste.

As sugestões de Kerry e outros, de que só o exército sírio teria mísseis e meios para transporte e dispersão de agentes químicos não resiste à mínima análise. Testemunhas e agências de notícias em todo o mundo noticiaram, com unanimidade, que ninguém ouviu explosões de ogivas, nem a aproximação de aviões. Nada disso. De repente, na manhã de 21/8, as pessoas simplesmente começaram a sufocar, ao aspirar substâncias venenosas que encontravam em seus porões e túneis – onde muitos viviam, para esconder-se da violência da guerra.

Observe-se que não se veem vítimas pelas ruas que, pela lógica ocidental, teriam sido bombardeadas pelo exército. Todas as vítimas foram encontradas em espaços subterrâneos. Para explicar isso, criaram-se várias teorias exóticas, dentre outras que o gás sarin seria mais pesado que o ar e penetraria em porões e não se concentraria pelas ruas. Nesse caso, que quantidades de sarin teriam de ter sido usadas?

Mas se se considera que o território é cortado por muitos túneis, tanto os escavados pelos rebeldes para seu uso, como os escavados como via de circulação da vida diária, vê-se que, tecnicamente, um ataque daquele tipo seria mais fácil de executar de fora para dentro, que o contrário.

Para preparar a cena monstruosa, os ‘rebeldes’ não precisariam mais que vários ventiladores potentes e alguns botijões de gás sarin feito em casa, em algum salão subterrâneo. Explodem-se as entradas dos túneis para fechá-las e nenhuma comissão da ONU jamais encontraria prova alguma, de crime algum. E toda a culpa poderia ser jogada sobre Damasco.

Por saber de tudo isso, o exército sírio tentou por três dias entrar em Joubar, para tentar tomar, pelo menos, algumas daquelas instalações. De fato, dia 24 de agosto, o exército sírio realmente chegou a um daqueles locais onde se armazenavam agentes químicos produzidos na Arábia Saudita, antídotos e máscaras para uso dos operadores. Naquela ocasião, mais de 50 soldados do exército sírio foram intoxicados por gás sarin, entre os quais quatro combatentes do Hezbollah, atualmente em tratamento num hospital no Líbano.[4] Assim se produziu algo que os especialistas da ONU encontrariam.

A agência noticiosa estatal síria SANA noticiou que os soldados tiveram “convulsões” quando o inimigo usou o gás como “último recurso” depois que as forças do governo alcançaram “significativa vitória” contra eles num subúrbio de Damasco.

Mas, infelizmente, ninguém no ocidente consegue ouvir as declarações do governo sírio. História já velha de 30 anos, que veio recentemente à luz, de que os norte-americanos sabiam que Saddam Hussein estava preparando um ataque químico contra o Irã,[5] mas continuaram a fingir que nada sabiam, está-se repetindo. Por exemplo, está circulando a acusação absurda de que Damasco não teria autorizado a comissão internacional a entrar na área onde foram usados os produtos químicos, para ter tempo de destruir as provas. Mas Damasco não tinha controle sobre essas regiões, como ainda não tem. Só as gangues armadas da oposição poderiam ter encoberto alguma coisa. Quanto à preservação das provas, sabe-se que o gás sarin dissipa-se poucas horas depois de liberado, mas permanece no local durante meses: cinco dias não fariam qualquer diferença. Segundo especialistas, o gás sarin permanece no sangue das vítimas por de 16 a 26 dias, como informou o jornal inglês The Independent, hoje.[6]

A Comissão da ONU apenas começou a trabalhar, mas ninguém quer esperar pelas conclusões. A Casa Branca continua a insistir que não tem qualquer dúvida sobre o que a Comissão concluirá; como se a Casa Branca as tivesse ditado.

Em tudo e por tudo, a situação faz lembrar dolorosamente os eventos da guerra na Iugoslávia, quando, em 1994 depois de um ataque de provocação, com morteiro, contra o mercado Markale em Sarajevo, vindo de posições dos muçulmanos bósnios, o que adiante foi provado por especialistas militares de uma comissão internacional, serviu como pretexto para que a OTAN bombardeasse os sérvios da Bósnia. Ou quando apareceram comissões de vários locais do mundo para investigar os eventos, e já chegaram com textos antecipadamente redigidos e pré-aprovados pelos “superiores”.

Ataques militares pelas potências ocidentais contra a Síria, se acontecerem, terão provavelmente o formato de guerra à distância, como o ataque à Iugoslávia, que destruiu o exército e a infraestrutura civil do país.

O jornal britânico Guardian noticiou dia 26/8,[7] que os principais alvos de ataque à Síria serão, no primeiro estágio do ataque, as unidades de elite do exército sírio, bases de mísseis e locais de armazenamento de mísseis. Os primeiros e principais ataques acontecerão contra o complexo militar de Mazzeh (num subúrbio de Damasco, ao sul), onde está localizada a 4ª Divisão Blindada, e contra o complexo militar de Qasioun (no norte de Damasco), quartel da Guarda Republicana do Presidente da Síria.

Ao todo, dez sítios militares na vizinhança de Damasco estão marcados para serem atacados, além de bases militares e instalações de mísseis e forças blindadas no sul de Aleppo, no norte de Deir ez-Zor e a sudoeste de Homs. Também estão planejados ataques contra bases aéreas, bunkers de comandos e sistemas de controle, de comunicações e prédios públicos.[8]

Aparentemente, a ideia é: se bombardeamos os sérvios até pacificá-los, também podemos bombardear os sírios até pacificá-los. Mas fato é que o mundo mudou, ao longo desses anos, e o Oriente Médio é hoje construção mais frágil e mais complexa, até, que os Bálcãs. Qualquer tentativa de “dar uma lição à Síria” pode ter consequências catastróficas para todos que começaram a coisa, quando o caos respingar, das fronteiras do Oriente Médio, sobre outras regiões. Sobre a Europa, por exemplo...


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[1] Expressão da tradição náutica, segundo a qual as grandes ondas vêm em série crescente de dez (às vezes, nove) ondas, depois da qual a série recomeça [NTs].
[4] http://mignews.ru/news/disasters/world/270813_71939_76725.html.  Ver também, 18/8/2013, Robert Fisk, “Outro “estadista” que falasse como John Kerry seria tratado como ladrão”, The Independent, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/08/robert-fisk-outro-estadista-que-falasse.html [NTs]

[5] 28/8/2013, MK Bhadrakumar, “Iran Can Finesse Obama’s Legacy”, Strategic Culture, http://www.strategic-culture.org/news/2013/08/28/iran-can-finesse-obama-legacy.html [em tradução) [NTs].

[8] http://www.theguardian.com/world/2013/aug/26/syria-warplanes-cyprus-tensions-damascus

Tambores de Guerra Outra Vez - Patrick Smith - Tradução Vila Vudu

Tambores de guerra, outra vez!
A imprensa-empresa-poodle-de-colo não aprende
29/8/2013, Patrick L. Smith, Salon
http://www.salon.com/2013/08/29/lapdog_media_learns_nothing_beats_war_drums_again/

Enquanto escrevo, 5ª-feira de manhã cedo, muitos sírios estão sendo ‘agendados’ para pagar com a vida pela ‘credibilidade’ dos EUA. O bombardeamento de um país já devastado pela guerra é dito “simbólico”, para simplesmente “dar um recado”.[1] É obscenidade tão grnde quanto aquela contra a qual Washingto diz reagir. Mais uma sociedade do Oriente Médio será ainda mais destroçada, e os destroçadores nada terão a oferecer para substituir o que destroçarão.

Os EUA há muito tempo desperdiçaram qualquer credibilidade que talvez tenham tido ou desejado ter no Oriente Médio. Se a credibilidade for a causa, Washington precisa fazer muito mais que se pôr a desmontar a vila cenográfica que ela fez dos princípios que tediosamente gagueja. Mas aí está pensamento que hoje em dia já não vai a lugar nenhum.

E os EUA mergulham em outra guerra no Oriente Médio. Diferente das guerras do Iraque e do Afeganistão – verdadeiras obras de arte norte-americanas –, o conflito na Síria é quadro pintado por outros. Mas, exceto por isso, esses três casos de hostilidade injustificável contra regimes ‘desobedientes’ são espantosamente similares.

Melhor dizendo: são tragicamente similares. Ao longo da história, os norte-americanos insistimos na virtude da ignorância, em nada aprender, não saber de nada. E o que estamos à beira de fazer é o que sempre fazemos, previsivelmente, sempre. Os norte-americanos somos povo singular. Não há dúvida. Talvez, até, excepcional.

Como tantas vezes já aconteceu, o governo Obama está na mídia, rejeitando qualquer deliberação que a ONU considere justa.[2] Na noite de 4ª-feira, o primeiro-ministro britânico David Cameron rendeu-se às objeções do Partido Trabalhista ao apoio que o ministro vinha dando aos planos de Washington para invadir a Síria.[3] A Grã-Bretanha agora quer esperar um relatório da ONU sobre os supostos ataques químicos, dos inspetores de armas, e dar mais tempo ao processo do Conselho de Segurança.

Mas ouçam o que disse o presidente Obama na 4ª-feira, no programa Newshour, da PBS, e é evidente que os EUA consideram atacar sozinhos o regime sírio, se preciso for. “Estamos preparados para trabalhar com qualquer um – russos e outros – para tentar reunir os grupos e resolver o conflito,” disse Obama. “Mas queremos que o regime Assad entenda que, ao usar armas químicas em larga escala contra o próprio povo (...) está criando uma situação na qual os interesses nacionais dos EUA são afetados, e isso tem de parar.”

Portanto, já nada conta, nem a folha de parreira da concordância internacional.

Os eventos, desde o que parece ser ataques com armas químicas em quatro áreas residenciais de Damasco semana passada já trazem todas as marcas de um assalto violento de rua, com os bandidos atropelando e espancando vítima colhida em alta velocidade. Dado que os mísseis cruzadores que o governo está a ponto de disparar contra a Síria levarão a impressão digital de todos os norte-americanos, como uma bomba da 2ª Guerra Mundial, os bandidos somos nós (aliás, outra vez). Aí, a responsabilidade é partilhada. Somos cúmplices.

As mentiras e frases inventadas que nos contam, enquanto Washington prepara-se para “responder” à mais recente selvageria contra os sírios são construídas de modo tão esquisito, que é difícil acompanhar a jogada. O pessoal de Obama mudou completamente a coisa, diametralmente, diante de nossos olhos, deixando de lado qualquer preocupação com a verossimilhança, inventando argumentos conforme a hora. É claro que é tudo inventado! E é sempre a mesma história que já recitaram incontáveis vezes. Vai-se ver, é a única narrativa que os norte-americanos sabemos articular ou compreender – ideia assustadora, mas da qual é impossível fugir, considerando o que estamos vendo.

As narrativas precisam da imprensa-empresa, é claro, e aí está ela, no caso da crise síria, distribuindo versões irresponsavelmente recolhidas de uma só fonte, apresentadas como se fosse opinião responsavelmente exposta, recolhida de várias fontes. E desde quando os jornalistas passaram a ver-se, eles mesmos, como agentes clandestinos da segurança nacional? Já é insuportável, essa atitude de moleque de recados do poder. Se os jornalistas fizessem o próprio trabalho com decência e seriedade, os EUA nos tornaríamos responsáveis por muito menos tragédias semelhantes à tragédia síria, e estaríamos todos, aqui, muito mais seguros. Do jeito que estão as coisas, a imprensa-empresa é peça defeituosa no mecanismo democrático.

No instante em que chegaram notícias de armas químicas e vítimas, semana passada, Washington e aliados puseram-se a exigir que o presidente Bashar al-Assad da Síria autorizasse uma equipe de inspetores da ONU a examinar os locais em questão. Tinha de ser. Exigência absoluta. Era isso ou isso. Todos lemos as ‘declarações’.

48 horas depois, o pessoal de Obama pôs-se a ‘declarar’ que não, que ninguém precisava do relatório da ONU. Desnecessário.[4] Quando Assad autorizou a visita da equipe da ONU, o que nem demorou, considerando-se que se trata de zona de guerra, já era “tarde demais para ter credibilidade.” As provas já estariam “degradadas”, como todos também lemos.

Tarde demais? Provas degradadas? A equipe da ONU é equipe de especialistas. Estão na Síria para examinar locais nos quais se diz que há meses teriam sido usados produtos químicos, e não estariam lá se a tal “degradação” tivesse algum fundamento científico. Isso ninguém leu, com uma exceção. Na 4ª-feira, William J. Broad, correspondente de ciências do New York Times teve a decência e  o bom senso de citar fontes não governamentais – afinal! Alguém! – que informou que esses agentes químicos que estão sendo discutidos não se dissipam por períodos de tempo terrivelmente longos.[5] Quem não acreditar, pode perguntar aos vietnamitas.

A matéria de Broad ganhou o pé da página oito. Como I.F. Stone disse certa vez do Washington Post, jornais são sempre problema, porque você nunca sabe onde encontrará a matéria de primeira página.

Mas no início dessa semana, se é que se pode engolir essa, funcionários dos EUA já estavam pressionando secretamente a ONU para que abortasse a missão na Síria. Washington decidira que, dessa vez, nenhuma prova seria interessante. Isso ninguém leu – não em publicação norte-americana.

Era o caminhãozão que o pessoal de Obama estava tentando estacionar em cima da calçada. As “provas” de que haviam sido usadas armas químicas, por mais que o pessoal de Obama tivesse tentado, antes, se esconder delas, logo se tornaram “inegáveis” (secretário de Estado Kerry), assunto “sem dúvida” (vice-presidente Biden), e mais várias coisas ‘declaradas’ e repetidas. Isso todos lemos em abundância – e sem qualquer confirmação ou investigação profissional decente, de parte dos jornalistas que escreviam ou diziam, sem parar.

E... você percebeu? “Prova de uso” imediatamente se converteu em prova de que o regime de Assad usou. Aí está o truque sujo. Nenhum funcionário do governo dos EUA disse que a responsabilidade poderia ser dos ‘rebeldes’. Claro que, se nenhum funcionário do governo ‘declarou’, ninguém leu sobre essa possibilidade nos jornais norte-americanos ou ouviu-a dos ‘âncoras’ e ‘comentaristas’ de rádio ou televisão. O imperdoável lapso de lógica passou despercebido. Já não há palavras para dizer o quão absolutamente idiotas eles supõem que nós sejamos.

Agora nos prometem prova incontroversa da culpa de Assad, para a 5ª-feira, ao longo do dia.[6] Inútil tentar adivinhar. Na guerra de imagens e espetáculo, frequentemente se repetem variantes da rotina acima descrita. Lembrem do yellowcake, ou de Colin Powell na ONU, ou os “tubos de metal” de Judith Miller ou os “laboratório de armas móveis” no Iraque – todos empenhadamente noticiados pelo New York Times.

Nesse espaço, semana passada, aventei minhas suspeitas de que os ‘rebeldes’ bem poderiam ser os culpados.[7] Repito aqui os mesmos argumentos.

Os inimigos de Assad não têm suprimentos de gás sarin ou de outros agentes químicos – como se sugere.

Bobagem. Podem ter, é claro.

Os ‘rebeldes’ não seriam capazes de montar um ataque de grande escala como parece que foi o ataque em Damasco semana passada – como disseram incansavelmente, semana passada. Mais bobagem.

Posição defensável é a dos russos e de alguns elementos responsáveis na Grã-Bretanha: querem investigação séria e propõem que todos aceitem os resultados.

Carla del Ponte, conhecida especialista, investigadora de crimes de guerra e membro da comissão da ONU que examina o caso da Síria, disse em maio[8] que havia fundados motivos para examinar se os ‘rebeldes’ seriam responsáveis[9] por uma obscenidade na Síria, naquele momento, envolvendo gás sarin. A investigadora de direitos humanos da ONU disse que “segundo depoimentos que reunimos, os ‘rebeldes’ usaram armas químicas, tendo feito uso de gás sarin”, e acrescentou que sua comissão trabalhava, como hipótese mais bem fundada, com a ideia de que “foi usado gás sarin (...) pela oposição ao governo, pelos ‘rebeldes’, não pelo governo sírio.”

Foi depenada e assada, na melhor tradição do ‘jornalismo’ norte-americano.

Mas Obama parece decidido a atropelar a ONU, independente do que digam os especialistas. Na 4ª-feira, a Grã-Bretanha apresentou projeto de resolução ao Conselho de Segurança, exigindo a intervenção militar, mas só pro forma. O Conselho de Segurança tem vários membros, para que várias visões de mundo estejam adequadamente representadas. Obama honra visões de mundo alternativas, tanto quanto George W. Bush. Assim sendo, da ONU nada sairá que se aproveite, não com o veto da Rússia, membro do Conselho de Segurança. Melhor partir logo para o crime e a marginalidade outra vez, e esse é o mundo para termos em mente, se os fogos de artifício prometidos começarem a chover sobre a Síria nos próximos dias. (...)

Concluo com o que considero o máximo, a cereja do bolo, o prêmio de notícia-mais-ridícula-da-semana, embora só se encontre, na ‘mídia’ norte-americana, online.

“A parte mais consistente das provas de que o regime de Assad usou armas químicas – e que dá base legal essencial para justificar ação militar ocidental – foi apresentada pela inteligência militar de Israel.” É. Aquele pessoal confiável. Do Mossad. A notícia está no Guardian,[10] grande jornal britânico, que simplesmente repete uma revista alemã, Focus.

Santo deus! Chamem os palhaços. Eles já estão aí.

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[10] http://www.theguardian.com/world/2013/aug/28/israeli-intelligence-intercepted-syria-chemical-talk

7 razões verdadeiras para os EUA atacarem a Síria


Fui aprovado na qualificação do Mestrado, e parto em viagem à China

Qualifiquei ontem o meu Projeto de Pesquisa - e só pude fazê-lo ontem. Tem sido um período muito mais que conturbado na minha vida. No semestre dos Congressos Estaduais e Nacional da CTB, em que tive de cumprir grandes tarefas e com viagens  a tantos estados. Particularmente durante o último ano, quando parei para ver, estava com 10 tarefas simultaneamente, o que bem explica a queda da minha qualidade de vida, o nível de stress, o cansaço. Para completar, a vida pessoal cobra seu preço, e no meu caso, confesso que não faltou quem tentasse me atrapalhar, prejudicar. Não foi um nem duas vezes em que vendo o túnel bem longo e escuro, duvidei muito da minha possibilidade de chegar ao final. Não fossem os exemplos familiares de superação de dificuldades e o apoio de minha mãe, não teria aguentado.

Fundamental tem sido a orientação da professora  Flávia Lessa de Barros, na medida em que, imersa num vendaval de responsabilidades, foi muito parceira, teve grande paciência, senti-me orientado e apoiado até o final. A profª Maria Pinheiro Coelho e os profº Jacques Ibañes Novion e Rafael Seabra foram instigantes ao apontar falhas e limites à pesquisa que desenvolvo sobre a Venezuela. Indicações de autores, crítica a a aspectos falhos, tensionamento das perspectivas que norteiam o trabalho, tudo de grande valia. E ainda tinha uns amigos lá, como Robson Camara Hans, um compa do MST e uma estudante do CEPPAC cujos nomes me fogem, Roberto da Silva e a indefectível Dona Lourdes, que sempre fez questão - e fazia-o Seu Louro, quando vivia - de acompanhar seus filhos nas defesas de suas monografias, na qualificação e defesa do Betinho, e agora na minha dissertação. Meu pai tinha quatro anos de escolaridade, minha mãe fez até o normal com grande dificuldade. Para além do caráter, sempre fizeram tudo para que estudássemos, e temos tentado corresponder àquele desejo. Sua presença no dia-a-dia  e nas bancas é mais que bem vinda.

Assim, foi um parto, e foi só o começo. As indicações me fazem retomar para o reexame e o desafio de um tema macro e um objeto das dimensões macro que escolhi, a Venezuela, contraditória, polêmica e com uma bibliografia monumental. Muita luta.

Mas espero que a ajuda da banca e o giro que tenho feito para redefinir minhas responsabilidades me permitam levar adiante essa batalha em muito melhores condições que as que tenho tido. Como o Titanic, não é possível fazer desvios bruscos, é preciso  de precaução para mudar a rota, mesmo com o mesmo objetivo, e é o que fiz ao longo do fim do ano passado e deste. Mais foco, mais estabilidade, menos viagens, mais tempo para refletir e produzir, menos tarefas, e com o desafio do distanciamento para a análise de um tema que me é caro.

No entanto, muito mais cara que a apologética do processo venezuelano é a necessidade de o entender devidamente. Nesse sentido, a vida mais estável contribuirá muito para a reflexão e o necessário senso auto-crítico do pesquisador e crítico do processo, sem resvalar para qualquer tipo de pretensão imparcial.

Hoje cumpro minha última missão para a Juventude da CTB como parte de uma delegação de 12 sindicalistas que representarão a Federação Sindical Mundial em viagem para a China. Ter vindo do Congresso em São Paulo numa semana, defendido a minha qualificação nessa, e em seguida a viagem para a China bem ilustram a correria que tem sido esse período. Mas além de ser interessantíssimo, de contribuir para minha visão sobre os processos de transição e sobre o socialismo, é também o final de um ciclo. Vamos tocando, sem receios, o barco, superando as dificuldades como a quilha corta as ondas, como diria Maiakovski.

Vídeo - Globo censura repórter que elogia medicina de Cuba | Conversa Afiada

Globo censura repórter que elogia medicina de Cuba | Conversa Afiada

Pontual: problema do Dr CRM é com o Che Guevara ...

Navegante do Tijolaço recupera destemida intervenção de Jorge Pontual, da Globo Overseas, em Nova York.

Não vai durar muito lá …

Quem manda dizer que a medicina em Cuba, comunitária, preventiva, resulta em  índices melhores que os americanos …

O Gilberto Freire com “i” (*) jamais o perdoará !

Quem vai longe na Globo Overseas é a Tancanhêde.

Já, já assume o “Entre Caspas”.

Globonews “apaga” Pontual e deixa só Cantanhêde falar de Cuba


O internauta que visitar a página do programa Em Pauta, da Globonews, só vai ouvir falando sobre a questão dos médicos de Cuba a comentarista Eliane Cantanhêde que, claro, desce a lenha no governo cubano, que vai se loucupletar co o trabalho daqueles pobres escravos.

Claro, a colunista da massa cheirosa, não podendo fazer outra coisa, entra na linha dos “pobres cubanos”, caçados a laço para estudar medicina e mandados sob chIcote, em aviões negreiros, para trabalhos forçados no Brasil.

Não puseram um segundinho do jornalista Jorge Pontual que, em lugar de ficar de chororô, prefere falar de como renasceu e com que características se desenvolveu a liderança de Cuba em atenção médica, que faz com que uma pequena ilha possa estar mandando médicos para um país enorme como o Brasil.

Pontual não vai ao ar na página da GloboNews, mas vai aqui, porque o internauta Felix Rigoli gravou e colocou no YouTube, de onde fomos pegar para colocar no Tijolaço. Vale a pena porque são três minutos de boa informação, com dados e explicações sobre o tema, em lugar de politicagem hipócrita sobre os médicos.

A gente posta aí embaixo o que a GloboNews sonegou na internet.
Diante da repercussão negativa, o canal da GloboNews, publicou no inicio da noite o vídeo do jornalista Jorge Pontual. Menos mal, que continue assim.



(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com “i”.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Blog entrevista o líder do grupo que vaiou médicos cubanos em Fortaleza


O presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (SimeC) é o médico e ex-vereador José Maria Pontes. Ele liderou o protesto contra médicos cubanos ocorrido na terça-feira (27) em Fortaleza. Cobrado pela violência do ato, vem dizendo que “Ninguém vaiou médico cubano, mas quem estava com eles”. E que a vaia só ocorreu porque “Não dava para não misturar se estava todo mundo junto”.
O sindicalista ainda garantiu à imprensa que “A vaia, na verdade, foi para aquelas pessoas que tiveram a ideia absurda de trazer esses médicos para cá, inclusive com trabalho escravo sem nenhum compromisso a não ser com o compromisso ideológico do Partido dos Trabalhadores”.
A declaração de Pontes se deu no âmbito de críticas aos médicos, militantes políticos e sindicalistas cearenses que vaiaram os médicos cubanos, críticas que foram feitas por entidades médicas e sindicais do próprio Ceará, pela imprensa e pelas redes sociais.
Diante de fato como esse, o Blog decidiu entrevistar o presidente do SimeC. Este blogueiro encontrou Pontes em seu celular, em Brasília, preparando-se para voltar ao Ceará. Confira, abaixo, a conversa (gravada) com a pessoa que liderou a manifestação que xingou médicos cubanos negros de “escravos” e “incompetentes”.
*
Blog da CidadaniaSenhor José Maria Pontes, o senhor é presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, certo?
José Maria Pontes – É.
Blog da CidadaniaSr. José Maria Pontes, sobre esse caso do ato do seu sindicato contra os médicos cubanos, o senhor deu uma declaração de que as vaias e tudo mais que foi feito ali não teria sido contra eles.
José Maria Pontes – Não, na realidade, pra que as pessoas entendam, nunca ninguém teve intenção de atingir os médicos, porque naquela manifestação os médicos cubanos que chegaram ao Ceará foram recepcionados pelo Ministério da Saúde. O Odorico, que é representante do Ministério, é cearense.
O ato foi feito contra essa postura [do Ministério da Saúde] de trazer os médicos cubanos sem o Revalida. A nossa manifestação tinha uns 70, 80 médicos. Inclusive barraram a nossa entrada na Escola de Saúde Pública e nós ficamos do lado de fora com carro de som, fazendo manifestação e quando eles [os médicos cubanos] saíram, realmente levaram uma bruta vaia.
Quer dizer, não os médicos, né… Foi direcionado ao Odorico, porque ele saiu cercado por médicos [cubanos], como se estivesse protegido. E tudo foi direcionado a ele. Inclusive, né, a…
Blog da Cidadania – Quando fala em Odorico, o senhor se refere a quem?
José Maria Pontes – Odorico Monteiro é o representante do Ministério da Saúde. É cearense e é uma das pessoas responsáveis por essa situação…
Blog da CidadaniaSenhor José, desculpe-me por interrompê-lo, mas há uma foto que circulou muito na internet e na imprensa em que um desses médicos cubanos está sendo vaiado por jovens médicas do seu sindicato. Elas estão gritando com as mãos na boca perto do rosto dele.
Havia, também, gritos de que os médicos seriam escravos. Foram ouvidos reiteradamente durante o protesto. Inclusive…
José Maria Pontes – Vamos, vamos, vamos…
Blog da CidadaniaUm minutinho, senhor José, deixe-me só terminar essa pergunta, porque as pessoas estão querendo entender o que de fato aconteceu.
Então veja, os manifestantes gritaram que os médicos cubanos seriam “escravos”. As vaias foram gravadas em vídeo e o que se vê nesse vídeo é que foram dirigidas diretamente aos médicos.
O que o senhor pode me dizer sobre essa contradição? O senhor afirma que as vaias não foram dirigidas aos médicos cubanos, mas o vídeo mostra outra coisa.
E ainda há um outro componente um pouco doloroso nisso tudo, senhor José Maria, porque havia muitos médicos cubanos negros, ali, e chamá-los de “escravos” é uma associação que muitas pessoas viram como racismo…
José Maria Pontes – Então deixa eu contar.
Blog da Cidadania Pode falar, por favor.
José Maria Pontes – Quando nós estivemos lá, fazendo manifestação, eles [os médicos cubanos e o representante do Ministério da Saúde] fecharam a porta e foram fazer a manifestação deles lá dentro…
Blog da CidadaniaPerdão, mas não estavam fazendo “manifestação lá dentro”, estavam recebendo treinamento…
José Maria Pontes – Nós ficamos lá fora fazendo manifestação contra eles. Uma das coisas que foi mais debatida, lá, foi a história do trabalho escravo, né, no sentido de eles não terem direito a férias, 13º salário, a hora-extra e não ter direito a casar nem a namorar no Brasil
Blog da CidadaniaEpa! Proibição de se relacionar com brasileiros?
José Maria Pontes – É, porque…
Blog da Cidadania Perdão de novo: de onde o senhor tirou essa informação?
José Maria Pontes – Essa informação todo mundo sabe, circula, porque é o seguinte, só pra você entender: se o médico tiver um filho com brasileiro ele adquire, naturalmente, a nacionalidade [brasileira] e o que se comenta – que parece que é verdade – é que eles querem que os cubanos voltem pra lá, porque se eles [os cubanos] pedirem asilo político no Brasil eles [o governo] não vão dar…
Blog da CidadaniaOk, senhor José Maria, mas espere aí: como é que se vai impedir alguém de ter relacionamentos amorosos, por aqui? Suponhamos que um médico vê uma brasileira bonita na rua, começa a namorá-la, ela engravida… Enfim, como é que o governo brasileiro ou o cubano vão impedir que isso aconteça?
José Maria Pontes – Pois é, é isso que estou falando…
Blog da CidadaniaEntão não pode existir essa proibição
José Maria Pontes – Eles não querem que o médico cubano tenha filho com a mulher brasileira porque aí adquire nacionalidade e os médicos vão acabar ficando aqui…
Blog da CidadaniaMas, repito, de onde o senhor obteve essa informação, senhor José Maria?
José Maria Pontes – Ah, essa informação circula há muito tempo, né…
Blog da CidadaniaMas, aí, não significa que seja verdadeira
José Maria Pontes – Eeehh… Inclusive na Venezuela, tá! Isso aí [a suposição] aconteceu [sic] porque os médicos venezuelanos, com essa história de não poder sair a partir das 18 horas – e se tiver que sair tem que prestar contas pra uma pessoa de Cuba –, faz a gente pensar assim…
Mas eu vou lhe responder a outra pergunta, né. O médico, o que ficou colocado foi essa questão do trabalho escravo. Até, ontem, a Fenam [Federação Nacional dos Médicos] entrou com uma representação, né, no Ministério Público do Trabalho sobre a questão trabalhista.
Eles [os médicos cubanos] vão ser utilizados para trabalho escravo. E o que aconteceu, então, não foi no sentido pejorativo, de chamá-los de negros. O que ficou colocado é que a gente estava dizendo para eles que eles iam exercer trabalho escravo…
Blog da Cidadania – Mas senhor José Maria… Primeiro que chamá-los de negros, tudo bem. Afinal, eles são negros mesmo e ser negro não é “pejorativo”.
José Maria Pontes – O que foi chamado [sic] é que eles querem associar a um sentido pejorativo, mas foi no sentido de ter o trabalho dele não do jeito que vem, porque do jeito que eles estão postulando… Porque, veja bem, os médicos que vêm da Argentina vão receber, diretamente, dez mil reais, que não é salário, é bolsa. Então eles [os médicos cubanos] não têm nenhum direito trabalhista.
Blog da CidadaniaDesculpe interrompê-lo, mas eu não consigo entender. Se eu chamo alguém de escravo, estou xingando. Porque se chamassem o Odorico [representante do MS] de feitor de escravos, até se poderia entender que o insulto foi para ele, mas quando chamam os médicos cubanos de escravos, isso é um insulto. Além disso, o escravo não tem culpa de ser escravo. Não pode ser vaiado por sua escravidão…
José Maria Pontes – Não, não, não foi nesse sentido. Foi no sentido de chamar a atenção…
Blog da CidadaniaDeles?!
José Maria Pontes – Não, não foi nesse sentido…
Blog da CidadaniaVou reformular a pergunta: o senhor não se ofenderia se chegasse em um determinado local e uma pequena multidão o chamasse de escravo?
José Maria Pontes – Eu quero te garantir que o que foi colocado foi não aceitar que essas pessoas sejam usadas em trabalho escravo.
A nossa orientação, do sindicato, foi nesse sentido, que os manifestantes chamassem a atenção para a questão do trabalho escravo.
Foi, então, uma palavra de ordem, não no sentido pejorativo. Foi pra chamar a atenção deles de que iam exercer o trabalho escravo.
Blog da CidadaniaIsso o senhor já me explicou. Mas fico com uma dúvida quando o senhor fala em trabalho escravo. Pelo seguinte: o acordo feito entre o governo brasileiro e o governo cubano é semelhante aos acordos que a Organização Pan-americana de Saúde – a entidade de saúde mais antiga do mundo – fez com 58 países.
Não fica uma coisa meio estranha que 58 nações e mais o governo brasileiro estejam promovendo o trabalho escravo? Além do que, trabalho escravo, pelo que se entende, depende de condições degradantes de alojamento, alimentação, pagamento e, até agora, não existe nenhuma evidência de que isso esteja acontecendo.
Minha questão, portanto, é: 58 nações, mais o governo da República Federativa do Brasil, mais a organização de saúde internacional mais antiga do mundo (fundada em 1902) iriam promover o trabalho escravo no Brasil e no mundo, senhor José Maria?
José Maria Pontes – Estranho, né? Mas é verdade.
Blog da CidadaniaEstranho, não: fantástico.
José Maria Pontes – Quando você diz que a pessoa vai trabalhar, ela tem direito a salário. Eles [os médicos cubanos] vão receber uma bolsa. Não vão ter 13º salário, não vão ter direito trabalhista nenhum, porque é bolsa, né…
Quando você limita para que ele [o médico cubano] não possa sair de determinada área… Foi assim que aconteceu com os médicos cubanos na Bolívia e na Venezuela. Há depoimentos. E eles também não podem trazer a família deles.
Eu vi a entrevista de uma médica da Espanha, ela pode trazer a família dela. Eles [os médicos cubanos] não podem.
Quer dizer, quem está dando as ordens não é o governo brasileiro, é o governo cubano.
E essa coisa da OPAS foi só uma coisa… Uma bijuteria, foi só pra enfeitar, para dizer que foi uma coisa oficial, tal…
Blog da CidadaniaOra, mas não é “para dizer que foi uma coisa oficial”. O acordo foi feito entre o governo brasileiro, o cubano e a OPAS. Não é uma “bijuteria”, é um acordo formal. Inclusive, o portal UOL publicou esse acordo, um tipo de acordo que é feito com a entidade por dezenas e dezenas de nações do mundo inteiro e o regime legal pelo qual esses médicos trabalharão no Brasil, até o momento, recebeu todo o aval da Justiça.
Então eu lhe pergunto: se a Justiça e o Ministério Público não encontrarem qualquer irregularidade nesse acordo, como é que fica uma manifestação e um discurso que GARANTEM a todos que está sendo implantando o trabalho escravo na medicina brasileira?
Ficaríamos assim: o governo brasileiro, a Justiça brasileira, o Ministério Público brasileiro, a OPAS e mais 58 nações estariam envolvidos com exploração de trabalho escravo, senhor José Maria? Isso não lhe parece uma sandice?
José Maria Pontes – É porque, até agora, ninguém teve acesso ao acordo do Brasil com a OPAS e o governo cubano. E estamos pedindo ao Ministério Público do Trabalho para que analise esse contrato, né, para ver se não existe trabalho escravo…
Blog da CidadaniaSim, mas querer saber...
José Maria Pontes – Deixa eu falar, senão você fala, fala e não vai entender…
Blog da CidadaniaOk, senhor José Maria. Pode falar, então.
José Maria Pontes – O que estou querendo dizer é que nós não temos nada contra os médicos. Foi uma manifestação contrária ao representante do ministério da Saúde. Eles [o governo Dilma] utilizou aquilo ali politicamente, para tirar proveito porque eles são poderosos, eles têm dinheiro, eles têm o poder da máquina estatal, mas não somos contra a vinda de médicos cubanos.
Não saiu em imprensa nenhuma, mas nós colocamos, várias vezes, que os médicos cubanos são bem vindos ao Brasil, mas queremos que eles tenham todas os direitos trabalhistas e tenham liberdade de ir vir. Mas ao governo não interessa, né, divulgar essas coisas.
Blog da CidadaniaOk, senhor José Maria, mas a forma dessa manifestação não me parece correta. Eu lhe pergunto uma coisa: se o senhor fosse um daqueles estrangeiros e, chegando ao Brasil, encontrasse uma turba gritando, chamando-o de escravo, o senhor se sentiria bem vindo?
José Maria Pontes – Veja bem, quando se colocou essa questão não foi com a conotação que querem dar. Dissemos escravos foi no sentido inclusive de defender os interesses deles…
Blog da CidadaniaEspere aí: então a manifestação que foi feita com vaias e chamando-os de escravos foi para defendê-los?! De quem, deles mesmos? Porque, até onde se sabe, eles estão de acordo com tudo.
José Maria Pontes – Não, não foi a questão de defendê-los, foi para defender as condições de trabalho deles…
Blog da CidadaniaMas o senhor não acha que a opinião deles também conta? Essas pessoas estão fora do país delas e, se estivessem sendo submetidas a trabalho escravo, poderiam muito bem, estando em território estrangeiro, denunciar e pedir asilo político dizendo ao governo brasileiro “Olha, estou sendo escravizado, me dê asilo”…
Eu digo isso, senhor José Maria, porque nunca vi um escravo que gostasse de ser escravo.
Aliás, muito pelo contrário, os médicos cubanos têm dado declarações no sentido de que estão muito satisfeitos por estarem aqui, de que não visam somente dinheiro porque o Estado cubano lhes deu a formação que têm, deu assistência médica, educação, moradia, alimentação a eles e às suas famílias. Então, trata-se de uma realidade diferente da nossa.
A questão que surge, portanto, é sobre como pode o sindicato do senhor querer defender os médicos contra a própria vontade deles.
José Maria Pontes – É, mas, veja bem, não é defender os médicos, é a questão do trabalho escravo independentemente da vontade de quem está sendo submetido a trabalho escravo.
Cuba é um país extremamente pobre. Ora, pra você formar um médico é difícil e Cuba exporta milhares de médicos para Venezuela, para a Bolívia… No Brasil, no segundo país que mais forma médicos, você não tem condição de formar tantos médicos para exportar.
Blog da CidadaniaMas acontece, senhor José Maria, que, em Cuba, o ensino é gratuito. É difícil formar médicos no Brasil porque as faculdades privadas custam uma fortuna e para entrar nas públicas tem que estudar em escolas caras, cursinhos caros e poucos têm condições.
José Maria Pontes – É que precisa uma escola equipada, com bons profissionais…
Blog da Cidadania – E o senhor acha que não tem isso em Cuba? Porque seus indicadores de saúde são muito superiores aos nossos. Expectativa de vida, mortalidade infantil… Aliás, a mortalidade infantil em Cuba é menor do que a dos Estados Unidos.
José Maria Pontes – Veja bem, eeehh… Em Cuba você não tem a violência que tem no Brasil e o trabalho que eles fazem, que todo mundo comenta, é que esses profissionais não são médicos, eles são formados num nível intermediário para trabalhar no interior…
Blog da CidadaniaAh, o senhor me desculpe, mas os currículos desses médicos foram divulgados. A maioria é versada em mais de uma especialidade. Todos têm mais de uma década de experiência na profissão. Como não são médicos?
José Maria Pontes – Não, não, eles não são médicos de verdade, eles são formados em atenção básica…
Blog da CidadaniaQual é a fonte da sua informação, porque diverge do que vem divulgando o Ministério da Saúde.
José Maria Pontes – Não, não, eles são só médicos de atenção básica…
Blog da CidadaniaEntão agora são médicos? E apesar de seus currículos dizerem que não são formados só em atenção básica… Até porque, mesmo o maior especialista de Cuba é formado, também, em atenção básica, ou em saúde da família. É a lei de lá.
José Maria Pontes – Olha, eu vou ter que viajar. Meu avião está saindo.
Blog da CidadaniaOk, senhor José Maria Pontes.
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Assista, abaixo, ao vídeo da manifestação que José Maria Pontes liderou na última segunda-feira em Fortaleza.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Dia da Vergonha - No Ceará a xenofobia veste branco - Rosemberg Cariri - Cineasta Cearense



(Este texto é dedicado ao Dr. Luiz Teixeira Neto e à memória do Dr. Caetano Ximenes de Aragão, dois médicos-poetas e humanistas, que muito me ensinaram da vida e da solidariedade).

Um choque profundo, uma sensação de mal-estar, uma vontade de vomitar... Algo me atingiu em cheio, acho que não no corpo, mas no espírito. Não posso precisar o que senti naquele momento, em que vi, pela TV, o constrangimento que alguns médicos cearenses infligiram aos aqui aportados médicos estrangeiros, em franca ação de hostilidade. Esses senhores, vestidos de branco, em nome dos seus interesses corporativos e econômicos, fizeram um espécie de “corredor polonês”, por onde os médicos estrangeiros, que vieram para trabalhar pela saúde da população, nos mais distantes e miseráveis rincões do país, foram obrigados a passar, entre vaias e xingamentos. Talvez o melhor termo para traduzir o que senti seja a palavra VERGONHA. Acreditem, fui acometido de uma profunda vergonha, ao ver um ato de tamanha hostilização e incivilidade acontecer na minha terra, sob a tutela do Sindicato dos Médicos do Ceará. Pensei comigo: chegamos ao fundo do poço!

Posso compreender toda a mística que se faz em torno do “Ceará Moleque” e do sentido cultural do uso da vaia, ao longo de toda a nossa história. Porém, se ser “Ceará Moleque” é vaiar médicos estrangeiros, afasto-me por inteiro de sua valia como modo de expressão, porque isto me cheira muito mais a xenofobia e a fascismo. Quanto ao significado deste ato, como ação política, podem os senhores sindicalistas ter a certeza de que atraíram para si o desprezo de milhões de cearenses e de brasileiros. Em todo canto deste imenso Brasil, nos últimos dias, não se comenta outra coisa, a não ser esta atitude vergonhosa.

Eu sou de um tempo em que os médicos eram conhecidos pela civilidade, pela erudição, pelo humanismo, pelo saber profundo que nascia de uma vocação, do ser e do construir-se na vida dentro de uma comunidade de destinos. A maioria destes médicos de boa cepa, pois, além de grandes profissionais, eram ainda homens que cultivavam as artes, que sabiam filosofia, que refletiam sobre a vida e o destino da humanidade, colocando a ética como um bem supremo.

Eram homens sábios, homens de tal grandeza, dos quais as comunidades se orgulhavam, chegando a nomear ruas e praças para que as futuras gerações deles se lembrassem, quando eles deixavam o nosso convívio. Quem na vida não conheceu um desses médicos, também escritores, poetas ou filósofos, com os seus ensinamento de caráter iniciático na vida e nas artes? Quem poderia imaginar um médico desta envergadura espiritual vaiando um colega estrangeiro, em um ato cheio de ódio e xenofobia? Impossível imaginar!

Mas o que acontece hoje? No Ceará, alguns médicos hostilizam, de forma escandalosa, estrangeiros com ameaças e xingamentos. É bem possível, que as universidades, sobretudo as universidade e faculdades particulares, fábricas de lucro e de técnicos destituídos de cultura e de humanismo, estejam produzindo estes “monstrinhos vestidos de branco”, analfabetos de qualquer humanismo, incapazes de ler a dimensão humana de um romance de Dostoievsky ou a metafísica de um conto de Guimarães Rosa. Falar em Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Gilberto Freire, Graciliano Ramos ou Euclides da Cunha, perto deles, é falar em javanês. Pobres médicos-tecnocratas, jogados a um convívio viciado e naturalizado com a indústria farmacêutica, quantas vezes submetidos aos grandes laboratórios que, em nome do lucro e da ganância capitalista, erguem o seu reinado da morte, travestidos de tecnologias arrojadas e mascarados de patentes.

Quando vi estes jovens médicos, feito moleques incultos e incivilizados, vaiando e xingando os seus colegas estrangeiros de profissão, pensei comigo mesmo: esperem, mas não somos todos netos de estrangeiros? Não vivemos em um país que nasceu de um grande encontro de povos e culturas? Não é esta a grande característica do nosso país? Não é a generosidade e a hospitalidade o nosso maior tesouro? A cena brutal e humilhante imposta aos médicos estrangeiros, fez-me imaginar os nossos avós estrangeiros sendo vaiados, forçados a passar pela humilhação do xingamentos e do preconceito, nos corredores poloneses armados pelos “reacionários nacionalistas” da época (filhos também de estrangeiros).

Não devíamos receber estes irmãos cubanos, espanhóis, portugueses, ucranianos, venezuelanos, mexicanos e de tantos outros países, com água de coco e maracatu? Não devíamos recebê-los ao som de violas e rodas de coco? Não deveríamos aplaudir aqueles que quisessem ficar e ajudar na construção da grande nação, da mesma forma que fizeram os nossos avós, que aqui chegando, casaram-se com gente de todas as raças e nos fizeram mestiços e multiculturais? Não somos nós os herdeiros de mil e um povos e de mil uma culturas?

O que aconteceu no Ceará neste triste episódio ficará registrado nos anais da nossa história como o Dia da Vergonha, o dia em que o fascismo triunfou sobre a solidariedade e a universalidade que tem marcado, por definição cultural, o espírito do povo cearense e brasileiro.

Acredito que os médicos cearenses, humanistas e éticos, farão uma “Carta de Desagravo”, pedindo desculpas aos colegas estrangeiros que aqui chegaram. Da minha parte, como cidadão cearense, torno público que não compartilho com esta vileza e, em meu próprio nome, peço desculpas aos médicos estrangeiros hostilizados, acreditando que este pedido de desculpas é o pedido de milhões de cearenses e de brasileiros que padecem nos mais profundos sertões, praias, florestas e montanhas, sem médicos e solidariedade nenhuma por parte daqueles que deviam ter como missão o sagrado dever do amor e da solidariedade, acima da sede do lucro e da ascensão social.

Para concluir este meu simples ato de indignação, cito um fato cotidiano. Discutia o grave acontecimento com um motorista de táxi e dizia a ele que iria escrever sobre o assunto. Do alto da sua sabedoria, o motorista de táxi, aconselhou-me: “Escreva não. Um dia o senhor pode chegar em um hospital, cair nas mãos de um deles e eles podem desligar os aparelhos”. Eu que preparava-me para fazer duras acusações contra os “vândalos vestidos de branco”, terminei defendendo-os, quando de pronto respondi: “Nisto eu não posso acreditar! Sei sim, que estes médicos que hostilizaram os médicos estrangeiros, com vaias e xingamentos, agem como moleques, como xenófobos pequeno-burgueses e corporativistas, mas não acredito que as faculdades de medicina do meu país estejam também forjando potenciais assassinos”. Acreditar nisto seria descrer não apenas da medicina, mas da sua deontologia, como princípio e garantia de regulação ética das normas que regulam esta profissão, cunhada, desde os seus primórdios, para proteger e salvar a vida humana.

De qualquer forma, cito o fato, para que estes equivocados “médicos-moleques” saibam qual o conceito que terminaram por cravar no coração das pessoas, com tal espetáculo público de despreparo profissional.

(Escrito por Rosemberg Cariry, cineasta. Fortaleza – Ceará, 27 de agosto de 2013).

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O Mais Médicos e a hora de dizer basta à manipulação da direita e do mercado de vidas - Paulo Vinícius Silva



Aos meus amigos profissionais de saúde

Ainda que possamos ter divergências sobre o Programa Mais Médicos, penso que os infames acontecimentos havidos em Fortaleza na data de ontem, em que 50 playboys promoveram um ignominioso linchamento moral contra os médicos que vieram atender nossa gente mais sofrida, esse fato constitui um ponto de inflexão no debate. Aquilo me doeu muito, porque eu me indigno com as injustiças, e porque me orgulho de ser cearense. Foi triste, e o que senti vendo aquilo foi que observava, em pleno século XXI, os tetranetos morais da Casa Grande a agredir os tetranetos das senzalas, que só porque Cuba é Socialista puderam ser médicos e vem em nosso auxílio como gesto de amor e solidariedade ao povo mais pobre. E foi por isso que foram vaiados e agredidos, chamados de escravos como um xingamento, o que é típico do pensar contemporâneo desses sinhozinhos. Veja: é a chance de marcar uma diferença fundamental no seio da categoria: a que separa os profissionais éticos e humanistas daqueles que envergonham a categoria e que tem práticas absolutamente contrárias ao juramento de Hipócrates. É a chance que muitos médicos, confusos com os acontecimentos, precisam para ver qual o seu lado, e tomar o partido do povo.

É argumento corrente na categoria que o Mais Médicos teria caráter eleitoreiro. Na verdade, qualquer governo executa ações que tem nexo com suas perspectivas de projeto de poder. Difícil é que o projeto de poder se baseie na ampliação de direitos, na distribuição de renda, na construção de pontes para que os mais pobres possam encontrar os caminhos da dignidade advinda do trabalho valorizado e da universalização de direitos.
Muito menos comum é que os médicos percebam a manipulação de que estão sendo alvo, e ela é política e de mercado. A direita e os empresários do comércio de vidas, os medalhões, nada tem em comum com os médicos que amam a população e fazem da medicina um sacerdócio. No entanto, o corporativismo - essa ilusão de que opressores e oprimidos são a mesma coisa por uma categoria - tem servido apenas para o descrédito da própria carreira e de seus profissionais, e para estimular os mais torpes sentimentos encrustados numa formação que sempre privilegiou a elite e nunca incorporou o povo, desde os filhos da Casa Grande, até as vagas públicas que há três, quatro gerações, pertencem às mesmas famílias.

É a direita e o grande business da saúde que é responsável pela desmoralização da categoria, ao utilizar a xenofobia, o preconceito, a insensibilidade como respostas à proposta do Governo, colocando como incompatíveis os direitos dos médicos e o direito da população à Saúde, essa sim uma contradição falsa, que visa a favorecer a Direita. Na verdade, o Mais Médicos é grande oportunidade para que a categoria mostre sua relevância e o direito negado à Saúde, legitimando a carreira de Estado, e a ampliação do investimento na Saúde da campanha Saúde + 10, que apoiamos.

A reação da direita e do mercado é outra. Sua virulência e insensibilidade não pode ser a voz de quem tem compromisso com a saúde pública e o povo. É preciso que uma nova geração de líderes se apresente ao país como parte da solução, e não amplificadora dos problemas, e isso só será possível se cada médico(a) perceber que há muito mais que política atrás dos posicionamentos de seus Conselhos e Sindicatos. Há política de Direita, há clientelismo com a carência do direito à Saúde, há tolerância com as fraudes e corrupção no SUS, há insensibilidade social, há corporativismo e, portanto, interesses inconfessáveis que jamais se alinharam aos interesses da categoria, e sempre lucraram com a exploração dos profissionais da Saúde e de nosso povo.

É por isso que o movimento caminha para a xenofobia, o racismo social, a defesa descarada da elite, o ódio à esquerda, ao socialismo e a Cuba. São expressões do caminho que se seguirá com a liderança da direita. E esse imenso dano à categoria tem inegáveis interesses de politicagem e de mercado. São políticos, portanto, mas políticos para negar direitos, para afirmar privilégios. para separar os médicos da população, para constranger e cooptar profissionais éticos e humanos ao serviço dos inimigos da Saúde Pública e do país.

A população está tirando conclusões. Não aceite a direção da direita e dos mercadores de sangue e vidas. Não compactue com o fascismo que se mostrou de cara limpa em Fortaleza, na data de ontem, envergonhando a terra aonde primeiro se libertou os escravos no Brasil, a terra de Antônio Conselheiro, Miguel Arraes, Dom Hélder Câmara, Padre Cícero, Bárbara de Alencar, Patativa do Assaré, Rodolfo Theófilo, Bezerra de Meneses, de Dragão do Mar, e tantos outros cuja vida e obra foram escritas a partir do compromisso com o povo. Os coxinhas pertencem a outra tradição, a de Gustavo Barroso, célebre fascista de triste memória. Representam quem nunca pôde representar o meu Ceará, humilhado por aquele gesto vil.

Tenhamos coragem de denunciar, de sair desse lado e somar com aqueles que hoje lutam para que todos saibam que tem direito à saúde. Esse é só o primeiro momento. É possível, tendo a preocupação com o povo como centro, defender muitas vitórias para saúde pública e a carreira, se a categoria tiver uma postura diferente dos atos e declarações que tanto tem envergonhado os médicos comprometidos com o SUS e o país. Quem apoiará as causas justas dos médicos, se o seu semblante para a sociedade for esse que vimos no vídeo, de ódio, branco, de costas para o povo?! O corporativismo e a manipulação política e de mercado estão causando gravíssimo dano da categoria e às suas aspirações legítimas. Essa legitimidade de ir ao povo é que ampliará a luta pelas bandeiras dos médicos e de todos os profissionais da saúde, na contramão dos interesses privados, na contramão do mercado de sangue, dor e morte, na contramão dos elitistas que não tem compromisso, na contramão dos que fraudam o SUS, na contramão da direita que jamais fez nada pela Saúde, muito ao contrário, sempre se utilizou da posição social dos médicos na sociedade para políticas clientelistas que se baseiam na negação e não na afirmação de direitos.

Essa é a hora de afirmar a ética, o compromisso com a sociedade, a sincera defesa da saúde pública, a competência e a qualidade de nossos profissionais. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso coragem. Coragem para romper com o corporativismo. Coragem de denunciar a manipulação, a estreiteza política, o elitismo, coragem para denunciar a indústria da dor, do sangue e da morte que tanto machuca, adoece e corrompe gente de bem, sinceramente preocupada com seu semelhante. Sem que esses profissionais assumam as bandeiras do povo, como será possível mudar a Saúde, defender a categoria, como será possível assegurar os direitos a Saúde Pública? Coragem! O povo, o Brasil, nós precisamos de vocês, de cabeça erguida, mostrando que há outros valores e profissionais, sendo parte da titânica batalha em curso para aifrmar o direito universal à saúde, apenas o começo, mas um começo importante, e que precisa de cada médico progressista, humanista, de esquerda, para afirmar uma corrente progressista na Saúde.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Defender o Mais médicos e denunciar os fascistas - Classe mérdia envergonha povo cearense com xenofobia, truculência e imbecilidade

Eu sempre tive orgulho de ser cearense. E continuarei tendo. Mas infelizmente recai sobre mim, como diria Castro Alves, "morder o fruto podre do Asfaltita", publicando essas cenas que são de envergonhar qualquer cearense.

Cresce em mim essa certeza muito mais que profunda, essa percepção de que é preciso denunciar o fascismo que toma conta de uma parcela importante da classe média. Esses filhinhos de papai, essa playboyzada não representa o povo cearense. Que vergonha. Que cena odiosa. E que expressão de pavor. Sim, porque veem que acabará a indústria da morte e do sofrimento. Vejam que os mesmos que dizem serem os cubanos escravos os hostilizam. Curioso, não? Meu Deus, que cena triste. Povo cearese, meus conterrâneos, limpem a imagem de nossa terra querida ameaçada por esses coxinhas auto-centrados, de costas para o povo, cheios de ódio. Médicos humanistas, de esquerda, vejam aonde a direita está levando a categoria. Não conciliem com isso!

Parabéns à turma que foi enfrentar esses fascistas. Mas é preciso muito mais. Quem fará o desagravo?

Por isso, compartilho meu segundo artigo sobre o tema - 

O Programa Mais Médicos e a luta pela Saúde Pública



Novo Presidente Adilson Araújo: "Devemos fazer uma gestão planejada, ousada e audaciosa" - Portal CTB

Adilson Araújo: "Devemos fazer uma gestão planejada, ousada e audaciosa"

A partir deste sábado, 24 de agosto de 2013, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil conta com um novo presidente. Trata-se de Adilson Araújo, 45 anos, ex-presidente da CTB no estado da Bahia por dois mandatos e destacado dirigente do Sindicato dos Bancários daquele estado.
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Araújo iniciou sua militância sindical e política no final dos anos 80. Ele participou da fundação da CTB em dezembro de 2007 e, na esfera institucional, foi também presidente do Conselho Estadual de Trabalho e Renda da Bahia (CETER-BA), representando a bancada dos trabalhadores. O dirigente assume a presidência da CTB nacional em um momento de consolidação da Central, dentro de uma perspectiva de crescimento que deve colocá-la, a médio prazo, entre as três maiores entidades do país. Para araújo, essa tarefa exigirá da nova Direção uma gestão planejada, ousada e audaciosa.
Nesta entrevista, Adilson Araújo faz um balanço da trajetória da CTB até este momento, compartilha suas expectativas para o mandato que se inicia, fala sobre a necessidade de fortalecer as seções estaduais da CTB, da atuação da Central junto aos sindicatos do campo e reafirma uma política fundamental para os cetebistas: lutar de forma intransigente pela unidade da classe trabalhadora. Confira abaixo:
Portal CTB: Finalizado o 3° Congresso da CTB, que balanço é possível fazer do último período e quais são as perspectivas para a gestão que se inicia?
Adilson Araújo: A CTB aproveitou seu 3º Congresso para fazer uma atualização da conjuntura internacional e nacional, além de se preparar para os próximos quatro anos. De forma muito particular, eu penso que o balanço é extremamente positivo. A CTB, na verdade, foi germinada a partir da compreensão de que o movimento sindical padecia de um conjunto de problemas, entre eles certa apatia reinante. A CTB foi construída num movimento que buscou reunir setores estratégicos da organização da classe trabalhadora, da qual o protagonismo dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais, dos marítimos, do setor metal/mecânico, entre outras tantas entidades que construíram esta central sindical democrática, classista e de luta.
A CTB, em sua fundação, teve como questão fundamental a busca da unidade das centrais sindicais, assim como a defesa de uma nova Conclat, a partir de um movimento nacional que culminou no ato do Pacaembu em 1º de junho de 2010. De lá para cá, a gente tem percebido o quanto foi importante essa decisão, até porque hoje podemos dizer – ao contrário de um passado recente – que temos um instrumento norteador da nossa luta, que é a Agenda da Classe Trabalhadora. Todas as nossas ações desde então têm como centro atualizar essa Agenda.
Desta forma, penso que a CTB sacramenta sua disposição de fortalecer cada vez mais a unidade e os laços de solidariedade entre a classe trabalhadora, e evidentemente isso traz uma nova perspectiva, porque encerramos uma etapa vitoriosa, com uma perspectiva real de ser a terceira ou quiçá a segunda maior central sindical do país, sobretudo a partir de sua amplitude e sua política acertada. E há uma realidade concreta: hoje temos mais de mil sindicatos filiados (sendo que desses mais de 700 já estão reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego). Isso nos garante certa visibilidade e nos dá a convicção que não somos mais invisíveis perante os trabalhadores. Lutamos por isso e a CTB, de forma muito apropriada, consegue consolidar esse quadro, graças, em grande parte, ao esforço de um conjunto de dirigentes que se dedicou a consolidar a Central, tendo o companheiro Wagner Gomes à frente desse processo, garantindo uma interlocução interessante com as demais centrais, com uma série de partidos políticos e os mmovimentos sociais como um todo.
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Portal CTB: Que elementos de sua experiência como presidente da CTB-BA irão ajudá-lo nesta nova tarefa?

Adilson Araújo: O mandato da Direção Nacional foi muito promissor, embora as seções estaduais tenham vivido uma verdadeira via-crúcis, diante das dificuldades e da pouca estrutura. Mas é verdade que, pelo fato de termos uma concentração de sindicatos importantes no estado da Bahia, podemos dizer que não foi tão difícil colocar de forma prioritária a orientação da Direção Nacional. A base de sustentação disso se deve aos sindicatos, pois a condição de existir de uma central sindical está diretamente ligada a esse alicerce, que é a ferramenta fundamental. Não existe central sindical sem sindicato de base. E na Bahia nós tivemos a possibilidade de fazer uma transição na qual conseguimos garantir uma representatividade. Esse cenário permitiu que a gente tivesse na Bahia, do ponto de vista formal no Ministério do Trabalho, a maioria dos sindicatos e, do ponto de vista do número de filiados também. Temos hoje cerca de 300 sindicatos filiados, pois temos federações de trabalhadores importantes, como dos bancários, rurais, construção civil, metal/mecânico, alimentos, entre outros. E também um número expressivo de sindicatos urbanos e rurais. Essa força nos permitiu ter um posicionamento mais audacioso. Pelo fato de a CTB permitir um novo olhar, conseguimos dar a ela uma nova dinâmica, praticando um sindicalismo renovado, autêntico e de luta, já que o momento visivelmente permitiu isso e ainda permite, pois embora estejamos numa crise, o Brasil ainda é um país de oportunidades e com perspectiva interessante, que, se bem trabalhadas e o movimento sindical atuar de modo consequente, poderão ser bem melhores.
Portal CTB: De que forma a Direção vai trabalhar a partir de agora o fortalecimento da CTB nos estados?
Adilson Araújo: Podemos dizer que colocamos o time em campo e jogamos de forma satisfatória neste primeiro período. É verdade que a gente precisa ter, a partir desta gestão que se inicia, uma ação mais planejada, pois o esforço terminou em parte predominando uma vontade espontaneísta, em grande parte por conta desse desejo novo de se construir uma central sindical, de ir aparando arestas. Para este novo momento, me parece que se torna fundamental planejarmos melhor nossa ação. Tenho a opinião de que planejando mais e melhor os dividendos serão maiores. Temos que ter uma atitude mais elaborada no sentido de corresponder a um conjunto de problemas existentes. Creio que sem essa discussão interna e sem vislumbrar um plano estratégico não conseguiremos desatar os nós. E, como estamos convencidos de que é possível desatar os nós, vamos fazer a opção de canalizar todos os esforços para uma ação de vanguarda, propositiva e planejada.
Portal CTB: Qual sua avaliação da atuação da CTB junto aos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais? Como ampliar essa atuação?
Adilson Araújo: Temos uma experiência sindical na qual nossa cultura de central sindical era muito “um pé dentro e um pé fora”. Com a responsabilidade de não ser mais apenas uma corrente de opinião e dirigir uma central sindical, pressupõe-se a construção de novos valores. A gente percebia, num passado recente, que a compreensão do trabalhador do campo era a de que ele não se sentia representado pela central sindical. Daí surgia um hiato, um distanciamento muito grande. E foi esse descontentamento que fez com que o segmento de trabalhadores e trabalhadoras rurais assumisse o compromisso de, coletivamente, construir a CTB.
A CTB, portanto, jogou um papel fundamental nesse processo. Há uma necessidade objetiva de aproximar o trabalho sindical urbano com o rural. Considero que a CTB só irá consolidar essa proposta se souber combinar a praticidade com essa necessidade de colocar o pé no barro e conhecer mais de perto o drama que é fazer a luta sindical no campo, seus valores, sua cultura. Isso requer uma maior aproximação. Acho, inclusive, que a CTB nacional precisa constituir um departamento ou uma secretaria que, junto do núcleo político da Central, possa se ambientar mais desse cotidiano, buscando repercutir mais a luta sobre as questões agrárias, pois essas demandas ainda não conseguimos responder. Precisamos ter uma radiografia mais apurada dessas necessidades, para que a CTB tenha definitivamente uma marca sindical que vislumbre essa unidade entre os trabalhadores do campo e da cidade.
Portal CTB: Qual deve ser o rumo da CTB em sua atuação internacional para o próximo período?
Adilson Araújo: No passado recente, nossa interlocução no plano da articulação sindical era quase inexistente. Com o surgimento da CTB, pudemos ampliar nosso leque de atuação. Os problemas que afligem um trabalhador na Europa, nos Estados Unidos ou no Japão são os mesmos problemas da realidade brasileira. Num ambiente globalizado, as respostas precisam ser mais dinâmicas e o fortalecimento dos laços de solidariedade devem ser cada vez mais amplos. O mundo impõe uma agenda regressiva e não conseguiremos enfrentar essa agenda se não tivermos uma ação unitária global, de enfrentamento ao capitalismo.
A CTB deve ter em sua ação prioritária uma política para se fortalecer cada vez mais no plano da articulação, na interlocução e na troca de experiência com sindicatos internacionais, sobretudo a partir do fortalecimento de sua presença na Federação Sindical Mundial (FSM) e no Encontro Sindical Nossa América (ESNA), onde ela tem um papel fundamental de ajudar na construção dessa movimentação que se sucede desde a eleição de Chávez, em 1998. Toda essa movimentação releva a participação da CTB em cenário internacional.
Portal CTB: Existe grande descontentamento no meio sindical sobre a falta de diálogo do governo federal com a classe trabalhadora. O que se pode esperar desse relacionamento daqui por diante? 
Adilson Araújo: O governo foi concebido a partir do esforço das massas populares. A eleição de Lula é emblemática nesse processo, pois representou um freio ao neoliberalismo. Essa mudança política abriu uma nova perspectiva e os ganhos dos últimos dez anos precisam ser avaliados. Sob o contexto da luta política nacional, tivemos mais ganhos do que derrotas. Mas esse é um governo contraditório, que tem limites e que está em disputa. Nesse sentido, a classe trabalhadora precisa conceber a defesa de sua tese também, ter uma plataforma de luta ajustada, audaciosa.
Temos plena clareza de que, se o governo é de direita, isso exige certo recuo por parte da classe trabalhadora. Mas se o governo faz parte do campo democrático-popular, exercer mais pressão contribui para que ele se aproxime mais das reivindicações da maioria da população – trata-se de um comportamento legítimo. O movimento deve se manter sempre atuando na defesa de sua autonomia, de forma consequente e ajudando a construir um governo cada vez mais avançado, que possa corresponder ao clamor da nação.
O movimento sindical não vai abrir mãos de suas bandeiras. Precisamos defendê-las e fazer de tudo para darmos uma arrancada no desenvolvimento. Isso vai com certeza exigir da nossa parte uma posição cada vez mais firme, pois o governo tem seus limites. Se você observar a política macroeconômica do país, vemos que o governo não encontrou ainda o caminho ajustado, pois acaba prevalecendo uma posição muito conservadora, com um cenário no qual os empresários conseguem resposta a seus anseios de forma mais rápida do que a classe trabalhadora. Fica comprovado que precisamos ganhar as ruas e pressionar para que o governo tenha uma posição mais avançada, de modo a sair do olho do furacão. Estamos às vésperas de uma grande batalha política, na qual temos que lutar para evitar qualquer possibilidade de retrocesso.
Portal CTB: O cenário político-eleitoral iminente pode trazer riscos para a unidade das centrais?
Adilson Araújo: O movimento sindical brasileiro está diante de uma nova conformação. Neste período mudancista nascem novas organizações, que brotam no desejo de fazer o confronto, no sentido de contribuir para o Brasil avançar. A unidade das centrais é imperativa, mas é claro que não há uma camisa de força. O que precisa prevalecer é a compreensão de que o inimigo não está entre nós, temos que definir o nosso lado. Devemos continuar defendendo o fortalecimento da unidade das centrais. Isso não quer dizer que essa unidade não possa sofrer alguma mudança por causa da batalha político-eleitoral. Mas a melhor alternativa para a classe trabalhadora é caminhar unida, para garantir a manutenção do que foi conquistado e com a perspectiva de influenciar o processo político. A classe trabalhadora é a força-motriz da nação e tem autoridade moral para dizer qual o melhor caminho para a nação. Se não nos posicionamos para influenciar o debate político, podemos perder a batalha.
Portal CTB: Qual o cenário que você vislumbra para a CTB daqui a quatro anos, no próximo Congresso?
Adilson Araújo: Não podemos ter uma visão mecânica da central sindical. Acho que a experiência vivida na Bahia pode ter sido boa para o estado, mas para a CTB nacional teremos que experimentar algo de novo. E isso vai demandar muito da Direção, a partir de sua capacidade de convencer as pessoas. Fundamentalmente, mais do que o desejo pessoal, temos um projeto, que será exitoso se ganharmos um conjunto de dirigentes para construir esse projeto coletivamente.
Devemos fazer uma gestão planejada, ousada e audaciosa. Vislumbro, por exemplo, que para o próximo período temos que dar um tratamento especial para a política de comunicação da Central. As experiências de alguns sindicatos contribuem para que tenhamos um projeto mais ousado nessa área. Temos que nos inserir de forma mais ousada e dinâmica junto aos demais veículos de comunicação, quem sabe com uma TV na internet, com uma revista de periodicidade mais frequente. A CTB terá que se constituir como um tipo de agência, capaz de produzir peças publicitárias, criar fatos políticos e outros materiais. A comunicação hoje traz esse debate pela democratização e isso serve para ver que temos que ser criativos para fazer essa disputa. Mas isso exige da Direção uma tomada de posição. Valorizar essa política tem que ser uma das prioridades.
Outra política que temos que discutir é a criação da Escola Sindical Nacional, para propiciar uma maior preparação e qualificação dos dirigentes. Temos que ter também uma política de fortalecimento das seções estaduais, algo que com certeza demandará uma nova política de finanças. Temos que reduzir a inadimplência, combater a sonegação e garantir a plena participação das entidades, contribuindo e prestando conta para que as entidades possam se sentir cada vez mais parte do processo.
Essas são algumas das ideias que temos para essa gestão que se inicia. No plano da organização, será fundamental constituir uma central de organização, apoio e logística para as entidades sindicais. Sob o comando da Secretaria Geral, temos que dispor de resposta profissionalizada ao processo de regularização, atualização cadastral e acompanhamento das entidades sindicais. Se fizermos esse esforço, poderemos ter, ao final de 2014, cerca de 300 sindicais a mais registrados no Ministério do Trabalho. Devemos ter essa meta em 2014. Esse organismo será fundamental para isso.
Por fim, temos também um departamento ou uma estrutura que seja um plantão com representantes sindicais do campo, para que no conselho político seja possível dialogar mais com os trabalhadores rurais e dar sequência a esse trabalho prático e teórico junto à representação do campo. Isso ajudará bastante para termos mais interlocução entre o movimento sindical do campo e da cidade.
Fernando Damasceno – Portal CTB
Fotos: Maurício Morais